LAMPADAS QUEBRADAS

LAMPADAS QUEBRADAS

A Vila de São João era pequena . hospitaleira e muito alegre, seu povo era festeiro e valente, mas todos viviam em uma paz armada; o que era bom, porque sabiam todos onde e quando pisar forte ou fraco, falar ou se calar e assim a convivência era calma, mas as vezes alguém saia dos trilhos, o tempo esquentava e um ou outro se dava muito mal.

As pendências eram sempre resolvidas pelo delegado Zurico, que era um homem respeitado e temido, mas era também uma pessoa justa; para ele todos eram iguais perante a lei, mas suas leis eram bastante rudes e a maioria criadas por ele mesmo e ninguém reclamava, porque filho de fazendeiro ou de colono para ele era a mesmo coisa e o trato igual.

Dentro da delegacia Zurico era o delegado e fora de lá era o eletricista da vila, mas isso não tinha a menor importância, porque ele não misturava suas duas funções e atendia de acordo com a necessidade do momento e atendia muito bem em uma e em outra; tudo corria bem sempre, mas certa vez as coisas se misturaram e foi uma confusão só.

De repente a vila se viu as escuras, porque um vândalo ou vândalos começou a quebrar as lâmpadas que iluminavam as ruas com tiros de espingarda; Zurico trocava as lâmpadas todas as manhãs, mas a noite eram quebradas novamente e por mais que ele vigiasse o vandalismo acontecia, mas alguém falou demais e o delegado descobriu os autores do delito.

Ai o problema aumentou, porque os responsáveis pelo prejuízo eram os dois filhos do melhor amigo de Zurico o fazendeiro Dico Mendonça, mas aquele delegado era mesmo durão, deixou a amizade de lado e mandou seus soldados irem atrás dos dois rapazes; Zico e Dedé chegaram muito assustados a delegacia e tentaram se explicar.

Foram calados por um berro do feroz Zurico que disse: rapazes, a sorte de vocês é que são filhos do meu amigo Dico e por isso vão escapar da surra que dou de boas vindas as minhas visitas, mas como os prejuízos que causaram não podem ser esquecidos, vou pensar no que vou fazer com vocês e enquanto eu penso vão ficar presos.

Para azar dos jovens, Zurico era um homem de ação e tinha pouco tempo para pensar e durante quinze dias eles desfrutaram da hospitalidade do delegado; isso queria dizer falta total de conforto, de visitas e uma comida péssima; depois desse tempo foram levados a presença de Zurico para ouvir sua decisão, achando que ia dar tudo certo.

O delegado disse: eu resolvi que vocês vão pagar o dobro do valor das lâmpadas quebradas, não vou devolver a espingarda de vocês e quero que leiam em voz alta o que está escrito nesse quadrinho em cima de minha mesa e eles leram: quem disser que esteve aqui e não apanhou...mentiu e Zurico concluiu: por isso vão levar uma saideira.

Cada um levou doze lambadas da temida tala do carrancudo delegado e para completar ainda ouviram essa: vão para casa seus meninos e se voltarem aqui, vou esquecer minha amizade com seu pai e vão apanhar na chegada e na saída, porque seu pai é um bom cidadão, mas vocês ainda não sei o que são, ou o que serão, mas pretendo descobrir se voltarem aqui e tenho o dito.

Maria Aparecida Felicori {Vó Fia}

Texto registrado no EDA

Vó Fia
Enviado por Vó Fia em 23/03/2010
Código do texto: T2155220
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