Olívia

Lasciva e malemolente, assim era Olívia.

Seduzia e encantava, diziam, encorporada em Janaina.

Tinha lá seus dotes, mas não se achava bonita nem atraente, dizia que se fosse homem não se pegava de jeito nenhum, mas como havia louco pra tudo. Amém!

Era dada sim, mas era sutil e recatada nas vestes. Culpado era do vento que levantava sua saia, espalhava seu perfume e lambia suas curvas e seus cachos morenos. Ela apenas dançava ao sabor de seu parceiro invisível e ordinário.

Quem só ouvia falar sonhava com seus carinhos, e quem a teve não mais dormia.

Mimos, agrados, brilhos e maciezes não a prendia. Aceitava tudo de bom grado, mas sem nenhuma promessa de dar qualquer coisa em troca, muito embora o seu “sim” aos regalos os enchiam de esperanças.

Um dia para Olívia nunca era igual ao outro. Ora fugia risonha e regateira ora se esfregava com um varão que lhe era agradável. Isso, em qualquer canto, fosse noite ou com o sol que brilhava.

Um dia porem, ela desapareceu, para alegria das rejeitadas emputecidas de inveja que eram sempre deixadas para depois.

Dizem que embuchou e hoje vive em São Paulo.

Seu Maneco que ainda tem família em Rio Preto, dizem: sustenta ela e o bacurizinho que já cresceu bem e estuda pra enfermeiro numa instituição. Seu Maneco agora sempre viaja pra capital sozinho. Ele acha que o menino é dele, mas é “cuspido e escarrado” o Seu Agostinho borracheiro. Que Deus o tenha!

Olivia tem um salão de cabeleireiro que Seu Maneco montou. Ela já não tem seus dotes, não tem ânimo para dançar nem exala seus perfumes ganhados. Tem só lembranças... Muitas e boas.

Vez ou outra ri sozinha e se questionada diz que não é nada e que quem viveu. Viveu. Quem não viveu lamenta por ter sido covarde. Nunca ninguém entende nada, mas ela se dá por satisfeita, muda de assunto e continua sua vida, pois a resignação virou conformação e ela entendeu que as coisas se ajeitam sozinhas e que tudo tem seu tempo nessa vida.