Só um Jeito de Amar
Sorria, quando ouvia as amigas falando de amor. Era o encanto e eram as bruxas: dominavam o amor, traziam-no ali, algemado, debaixo do braço como quem carrega uma bolsa, uma sacola de compras. De uma das conversas guardou uma frase: “... amar, mas não muito”. Por vezes quis, de todo seu coração, possuir aquelas armas poderosas e precisas, para que pudesse, com elas, desagastar-se do amor. Por e para sua própria defesa. Coisas de mulher moderna, chique, inteligente. Coisas que ela não tinha. Era tão palerma, tão antiquada, tão desorganizada! Bom seria se pudesse amar daquele jeito, sem expectativas e sem espantos.
Dela, o amor espicaçava, zombava, escarnecia. A ela, o amor ferroava com suas angústias grudentas, com seu serpentear enganoso. Bastava um arco de olhar, um movimento em falso, uma sílaba. Conhecia, mesmo, das coisas dos engasgos, quando beijos diários, fantasmagóricos, faziam-na suar. Entendia mesmo, das coisas de seguidos abraços assombrados, que a esmagavam, torcendo-lhe alma, corpo e mais o que nela houvesse. De melífluas palavras sussurradas, de confissões matinais. E das coisas dos pensamentos, das considerações repulsivas, que do nada rompiam para o imediato. A ela o amor supliciava dia a dia, sem tréguas.
De onde viera aquele amor, ela não sabia. Coisa de nascença, feito um sinal, uma marca, um selo, um aviso, o que poderia ter significados incontáveis. Igual, nenhum outro. E de ninguém. Gostava, até, de sabê-lo seu, por direito e intransferível. Era o seu cartão, sua senha. Mesmo que ele a sustentasse grampeada nas nuvens, mesmo que ele a empanturrasse de céus com suas estrelas douradas, mesmo que ele saqueasse suas noites para entregá-las, graciosamente, às fantasias, às ilusões, o que era bastante para mantê-lo, indefinidamente, sob suspeita. O maltrato, suportaria. Nunca, trairia aquele amor. Ninguém, nunca, perceberia uma vírgula sobre ele. Cuidaria para que ele fosse como é um cheiro, um sortilégio pressentido, apenas.
Senão, o que diriam? E ela sorria. As amigas falavam e ela sorria, sorria um riso de dentro, compartindo consigo o gosto dos segredos. Por vezes ficava tão difícil! Porque ele crescia, crescia e transbordava. Diante das coisas mais inusitadas: um cão, uma criança, uma simples flor, uma ave. E às vezes em momentos impróprios, inesperados. Vinha aquele aperto, o engasgo e, se derramava sem cerimônias. Por essa razão, ora tinha gosto de licor, ora de canela, de limão, de pequi, água do mar...
Ah, aquele amor, amormaluco! Pior ainda se ela contasse que ele era gêmeo. Porque um vivia do dia, o outro, da noite. Mas nessa parte, ela não queria nem pensar!
Ainda...
Sorria, quando ouvia as amigas falando de amor. Era o encanto e eram as bruxas: dominavam o amor, traziam-no ali, algemado, debaixo do braço como quem carrega uma bolsa, uma sacola de compras. De uma das conversas guardou uma frase: “... amar, mas não muito”. Por vezes quis, de todo seu coração, possuir aquelas armas poderosas e precisas, para que pudesse, com elas, desagastar-se do amor. Por e para sua própria defesa. Coisas de mulher moderna, chique, inteligente. Coisas que ela não tinha. Era tão palerma, tão antiquada, tão desorganizada! Bom seria se pudesse amar daquele jeito, sem expectativas e sem espantos.
Dela, o amor espicaçava, zombava, escarnecia. A ela, o amor ferroava com suas angústias grudentas, com seu serpentear enganoso. Bastava um arco de olhar, um movimento em falso, uma sílaba. Conhecia, mesmo, das coisas dos engasgos, quando beijos diários, fantasmagóricos, faziam-na suar. Entendia mesmo, das coisas de seguidos abraços assombrados, que a esmagavam, torcendo-lhe alma, corpo e mais o que nela houvesse. De melífluas palavras sussurradas, de confissões matinais. E das coisas dos pensamentos, das considerações repulsivas, que do nada rompiam para o imediato. A ela o amor supliciava dia a dia, sem tréguas.
De onde viera aquele amor, ela não sabia. Coisa de nascença, feito um sinal, uma marca, um selo, um aviso, o que poderia ter significados incontáveis. Igual, nenhum outro. E de ninguém. Gostava, até, de sabê-lo seu, por direito e intransferível. Era o seu cartão, sua senha. Mesmo que ele a sustentasse grampeada nas nuvens, mesmo que ele a empanturrasse de céus com suas estrelas douradas, mesmo que ele saqueasse suas noites para entregá-las, graciosamente, às fantasias, às ilusões, o que era bastante para mantê-lo, indefinidamente, sob suspeita. O maltrato, suportaria. Nunca, trairia aquele amor. Ninguém, nunca, perceberia uma vírgula sobre ele. Cuidaria para que ele fosse como é um cheiro, um sortilégio pressentido, apenas.
Senão, o que diriam? E ela sorria. As amigas falavam e ela sorria, sorria um riso de dentro, compartindo consigo o gosto dos segredos. Por vezes ficava tão difícil! Porque ele crescia, crescia e transbordava. Diante das coisas mais inusitadas: um cão, uma criança, uma simples flor, uma ave. E às vezes em momentos impróprios, inesperados. Vinha aquele aperto, o engasgo e, se derramava sem cerimônias. Por essa razão, ora tinha gosto de licor, ora de canela, de limão, de pequi, água do mar...
Ah, aquele amor, amormaluco! Pior ainda se ela contasse que ele era gêmeo. Porque um vivia do dia, o outro, da noite. Mas nessa parte, ela não queria nem pensar!
Ainda...