Insônia
Caminho, de uma esquina a outra, na rua mal iluminada. Mãos no bolso da calça, olhar carregado de quem, exaustivamente, espera chegar. É essa exaustão, um cansaço minado pela expectativa do ponto final, que me empresta o ar de inútil procura. O igual semblante de quem mira um longíquo e inalcançável horizonte. Todas as noites.
Imagino saltar sobre as teclas de um piano, calcando pedra à pedra, frias e duras, da ruazinha estreita ouvindo meus passos marcando monótono ritmo que vibra no centro da terra. A caminhada é quase um adágio que componho, pretensioso, que troa prolongando o tempo, muito mais do que devia.
Olhos observam meu insólito e inexplicável passeio. Eu os sinto, mas avanço em meu sóbrio caminhar, de braços dados com pensamentos, que sangram, continuamente, por minha fronte alva, salgados pelo suor do contínuo exercício.
Penso em me sentar à beira da calçada, insistir na tentativa de encontrar o que não existe. É urgente tatear algo que ultrapassasse a cadeia comum das mesmas coisas, o que me assalta todo o corpo. Encho-me de mim, o que se transforma, em segundos, em insuportável aceitação.
Na densidão da noite tudo se perde, tudo significa um único, compacto objeto sem nome. Estou aqui como se o aqui fosse esse céu de breu, aguardando que de algum lugar ou hora, surja a luz. De uma lanterna, de um lampião, de um farol, que registre qualquer outro diferente caminho onde possa mergulhar.
No tempo, há muito me perdi, peregrinando por seu corpo diáfano, entre fumaça e vapores. Ontem, hoje, amanhã... Lembro-me vagamente das palavras, que soam sem significado, tão incompreensíveis quanto esse meu olhar de nada.
Atravesso o portão como volume, como um peso morto empurrado e em casa, como na rua, nada mais senão as mesmas coisas que a vida empresta ao mundo, testemunhas irrefutáveis de que ainda estou. Não sei, se vivo ou morto.
Caminho, de uma esquina a outra, na rua mal iluminada. Mãos no bolso da calça, olhar carregado de quem, exaustivamente, espera chegar. É essa exaustão, um cansaço minado pela expectativa do ponto final, que me empresta o ar de inútil procura. O igual semblante de quem mira um longíquo e inalcançável horizonte. Todas as noites.
Imagino saltar sobre as teclas de um piano, calcando pedra à pedra, frias e duras, da ruazinha estreita ouvindo meus passos marcando monótono ritmo que vibra no centro da terra. A caminhada é quase um adágio que componho, pretensioso, que troa prolongando o tempo, muito mais do que devia.
Olhos observam meu insólito e inexplicável passeio. Eu os sinto, mas avanço em meu sóbrio caminhar, de braços dados com pensamentos, que sangram, continuamente, por minha fronte alva, salgados pelo suor do contínuo exercício.
Penso em me sentar à beira da calçada, insistir na tentativa de encontrar o que não existe. É urgente tatear algo que ultrapassasse a cadeia comum das mesmas coisas, o que me assalta todo o corpo. Encho-me de mim, o que se transforma, em segundos, em insuportável aceitação.
Na densidão da noite tudo se perde, tudo significa um único, compacto objeto sem nome. Estou aqui como se o aqui fosse esse céu de breu, aguardando que de algum lugar ou hora, surja a luz. De uma lanterna, de um lampião, de um farol, que registre qualquer outro diferente caminho onde possa mergulhar.
No tempo, há muito me perdi, peregrinando por seu corpo diáfano, entre fumaça e vapores. Ontem, hoje, amanhã... Lembro-me vagamente das palavras, que soam sem significado, tão incompreensíveis quanto esse meu olhar de nada.
Atravesso o portão como volume, como um peso morto empurrado e em casa, como na rua, nada mais senão as mesmas coisas que a vida empresta ao mundo, testemunhas irrefutáveis de que ainda estou. Não sei, se vivo ou morto.