O MÉDICO ( PRIMEIRA PARTE)

Eduardo era um rapaz autêntico cheio de vigor e sonhos; o sonho dele era ingressar na faculdade de medicina, porém, sua família não tinha os recursos financeiros necessários para isso, porém, ele não se deixou abater, estudou por conta própria e muito, dia e noite, ele havia parado de trabalhar só para estudar, ele estava certo do que queria, confiava em si mesmo e em Deus; apesar de ninguém acreditar nele, ele se esforçou, deu seu máximo e fez a prova onde conseguiria a bolsa para ingressar na faculdade de medicina, no dia, ele ficou muito nervoso e acabou não se dando bem na prova, não conseguiu alcançar o suficiente, e quando muito triste voltou para casa ainda ouviu seus pais dizendo que sonho era sonho e não deveria se misturar com a realidade, e que eles eram pobres e pobres morreriam; porém, Eduardo não se desistimulou, jurou a si mesmo que não irira desistir, iria tentar e tentar até não poder mais, ele jurou correr atrás de seus sonhos; e ele lutou, ainda tentou esse vestibular mais umas duas vezes sem obter sucesso; foi então que ele começou a pensar em desistir, havia tentado três vezes, por três anos, porém, não havia conseguido. Foi então que em uma noite, ele havia guardado seus livros e chorou muito com a decepção, ele havia acreditado muito que iria conseguir e nada; foi então que seu pai entrou em seu quarto; ele enxugou as lágrimas para que seu pai não visse.

___Eduardo, quero conversar com ocê, meu filho.

___Pode falar, pai.

___Você não me engana, sei que tava chorando; esse é seu sonho né, meu filho?É mesmo o que ocê, qué?

___Por que, está perguntando isso, pai? Esquece esse assunto, eu sou um perdedor, não consegui e não vou conseguir ser médico.

___Meu filho, não diga isso, ocê conseguiu estudá, eu e tua mãe só aprendemo a escrever e a lê, não pudemo tê estudo; mas ocê é muito inteligente, conseguiu estudá, e terminar o estudo na escola.

___Não é o suficiente, pai, não tenho dinheiro para pagar um cursinho de vestibular e muito menos a faculdade que é muito cara.

___Meu filho, ocê num sabe como eu queria ajudá ocê, e digo uma coisa, se é esse o seu sonho, nunca disista, mesmo que ocê leve a tua vida toda por ele, não como eu e tua mãe, a gente desistimo do estudo, montamo família, não que eu me arrependa, mas sofro por não puder te dá estudo bom, meu filho, perdoa teu pai.

Os dois choraram juntos, e se abraçaram.

___Obrigada, pai, achei que você e mamãe fossem contra, não sei.

___Nunca filho, queremo teu bem, e esse é teu bem, quero apoiá ocê, vou fazer de tudo pra ocê consegui.

___Não pai, não precisa.

___Precisa sim, e quero que ocê me prometa uma coisa.

___O quê?

___Que ocê num vai desisti do sonho de virá douto, promete, minino?

Eduardo sorriu, abraçou o pai e disse:

___Certo, meu pai, não vou desistir.

Seu Agenor sorriu e saiu do quarto de seu filho. Eduardo era o caçula de seu Agenor, ele tinha mais três filhos, o mais velho, Celso, já era casado e morava perto de seu Agenor, Carlos não era casado,mas foi tentar a vida em outro estado, dava notícias algumas vezes e visitava a família uma vez por ano, e a única menina dos irmãos, Carmela, tinha 24 anos de idade, não trabalhava, só ajudava a mãe, e sonhava conhecer um homem maravilhoso, o qual daria conforto à ela. os quatro irmãos tinham uma diferença de idade de quatro anos.

Eduardo acordou bem disposto e bem cedo, tomou um banho, fez sua higiene pessoal, deu um beijo em sua mãe e irmã, benção ao pai, tomou o café-da-manhã e saiu; foi até a faculdade, que era uma hora e meia de sua casa; fez a inscrição novamente no vestibular, que seria dois meses depois e contente, foi embora. Chegou em casa, já era hora do almoço, almoçou, ajudou o pai em algumas tarefas e foi para o quarto estudar. Quando abriu o livro, sua irmã entrou em seu quarto.

___Edu, de novo? já não bastou as três vezes?

___Carmela, se veio me desestimular, não perca seu tempo.

___Não é isso. eu invejo você, sabia? não sabe o quanto eu queria ter estudo também, eu naõ terminei meus estudos na escola, faltavam dois anos, não sabe o quanto eu queria voltar.

___E por que não volta a estudar?

___Mamãe não ia gostar, ela diz que mulher não precisa estudar, isso é tarefa de homem.

___Meu Deus, em que século mamãe acha que vive? Você não tem apenas direito de estudar, mas tem dever; vou te ajudar Carmela, falarei com a mamãe.

___Não, não agora, espere mais alguns meses.

___ Por que? Carmela, quem quer, luta e consegue.

___Por favor, Edu, quando eu tiver preparada prometo que falo com você.

___Tudo bem.

___Certo, vou deixar você estudar.

E Carmela saiu do quarto de Eduardo, um pouco feliz por ter desabafado o que pensava todos os dias.

Eduardo estou mais do que nunca, só pausava para almoçar, quando alomoçava, lanchar e jantar e por que sua mãe sempre insistia para ele fazer isso, ela sempre dizia: " come mininu, saco vazio não pára em pé"; e Eduardo comia, depois tornava a estudar, perdia noites de sonos, sua olheiras estavam profundas e um começo de uma anemia começava a despontar, mas tudo isso valeu a pena quando ele foi ver o resultado do vestibular, ele passara, após tanto esforço, ele passara, seria médico, ou doutor como seus pais falavam, ele não acreditava que seu sonho seria realidade, ele mal podia respirar, a felicidade transbordava seu ser e lágrimas de emoção despontava em seus olhos, ele passou com cem porcento de desconto, ele conseguiu, ele venceu seus medos. Eduardo se sentou no banco que ficava perto do mural de aprovados e pensou, e chorou, e riu... tremia, respirava... ele agora tinha um futura, e tudo que sempre sonhou. Ele pegou na secretaria da faculdade os papéis para assinar e o que ele deveria levar para fazer a matrícula, no dia seguinte voltaria lá para resolver tudo; e foi para casa, imaginando como contar à seus pais... riu, chorou... foi a maior alegria da vida dele.

Quando Eduardo chegou em casa não havia ninguém, a casa estava vazia, procurou por algum bilhete, algo explicando aonde estavam todos, mas nada; preocupado e ansioso, foi a casa de sua vizinha, Maristela.

___Oi, Eduardo, seu pai passô mal, tua mãe e tua irmã levaram ele para o hospital, sabe onde é né?

___Sei sim, mas, ele passou mal de quê?

___Ah num sei não, eu ouvi os grito, o falatório e vim pra fora pra vê que qui era, aí vi elas e o seu Alônso segurando teu pai, e eu perguntei que qui foi, eles falaram que ia pra o hospital poque seu pai tava passando mal.

Eduardo ficou pálido, sentiu-se tonto e logo pensou no pior, dona Maristela pegou um pouco de água com açucar para Eduardo e ele se recompôs.

___Vou até lá, obrigado, dona Maristela.

Eduardo foi até o hospital e lá encontrou sua mãe e sua irmã nervosas sentadas no banco.

___Mãe, Carmela, o que aconteceu?

___Filho, seu pai tá com cancer no pulmão.

___Mas? como? Ele nunca fumou, nosso ar não é poluído...

___Eu sei, filho, mas num sei como pôde acontecer isso, o médico disse que ele está em um estágio muito avançado e terá que ficá internado.

Eduardo sentiu seu coração ir à boca, porém para não deixar sua mãe e irmã mais nervosas resolver tentar se acalmar.

___Vou falar com o médico.

Eduardo conversou com o médico que lhe contou sobre a doença do seu pai, disse que não poderia fazer mais nada, só ir tratando com remédios e quimioterapia, para amenizar o sofrimento dele.

___Mas doutor, como nunca percebemos?

___Eduardo, cada organismo reage de uma maneira frente às doenças, mas creio que teu pai já sabia, ou desconfiava de que sua saúde não estava boa, porém não disse nada à vocês, talvez para não preocupá-los.

___Posso vê-lo?

___Sim, ele está acordado, te levarei até ele.

Quando Eduardo entrou no quarto, viu seu pai todo entubado e se assustou.

___Pai!

___Filho... desculpe...

___Pai, você sabia?

___ Não sabia... o que... era... mas.. sabia... que estava.... doente....

___Meu pai, porque não nos contou? Eduardo chorava muito segurando a mão do pai.

___Filho... deixe para lá... ainda... estou aqui... me conte... passou?

Eduardo enxugou as lágrimas, sorriu para o pai e falou:

___Sim, papai, passei.

___Não disse...? você é capaz.... todos meu filho... são capazes... de realizar seus.. sonhos... basta querer....

Eduardo chorou mais ainda.

___Obrigado pai, se não fosse o senhor, eu jamais teria conseguido, o senhor me motivou, estimulou... eu vou curar o senhor.

Seu Agenor esboçou um sorriso, estava se sentindo cansado e com dores no pulmão, por isso não conseguia falar direito, essas dores já o acompanhavam há muito tempo, porém ele não pensou que fosse algo tão grave.

___Filho... não sei se... ainda tenho... chance...

___Claro que tem, pai. as lágrimas de Eduardo caiam. Vou curar o senhor, vou me especializar em oncologia, salvar o senhor.

___Filho... você não é... Deus... só ele sabe... se vou me curar.. ou não...

___Sim, pai, eu sei, mas ele vai curar o senhor.

___Deus... te ouça...

Nesse momento dona Agripina e Carmela entraram no quarto.

___Agripina... seu filho... vai ser doutor....

Dona Agripina olhou orgulhosa para o filho e o abraçou.

___Parabéns filho.

___Obrigada mãe.

Carmela também o cumprimentou. Eduardo se despediu do pai e foi embora, queria arrumar tudo que precisaria e também o horário de visita iria acabar em cerca de quinze minutos.

Dia seguinte, ele foi à faculdade fazer a matrícula, tudo foi resolvido e ele começaria as aulas na segunda-feira; visitava o pai todos os dias; o médico dizia que o pai estava reagindo bem aos medicamentos... e Eduardo e sua família tinham muitas esperanças.

CONTINUA...

Mariana Calçada
Enviado por Mariana Calçada em 15/03/2010
Código do texto: T2140163
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