Uma Troca
- Aquela vadia me paga!
- De quem você tá falando?
Perguntei ao Nélio quando preparava a porradinha.
- A Margarida.
- Margarida, que Margarida?
- A dos 79.
- Sei. O que tem ela?
- Ela tem outro!
- Você disse que ela não fazia tipo pra ninguém, só pra ti.
- Tá. Eu menti.
- Mentir é feio, meu caro Nélio. A sua paquera não te quer mais?
- Ela quer me trocar por outro.
Enchi o copo de porradinha e ele bebeu num só gole.
- Ajuda eu.
- Ajudar no quê, meu caro?
- A matar a vadia.
Bebi um gole da porradinha.
- Hum... isso é meio complicado.
- Não é complicado, só vai matar. Se ela não me quer mais, com outro ela não fica!
- Você tá puto por causa de uma dona qualquer?
- Margarida é minha, sem ela, não sou ninguém.
- Eis um homem apaixonado.
Ele encheu seu copo e bebeu num único gole.
- Iremos a casa dela hoje.
- Nem falei que toparia.
- Vai negar ajuda ao seu amigo?
- Colega, meu caro, conhecido pra ser mais exato.
- Então vai ajudar ou não?
- Primeiro irei a casa dessa dona, conversar com ela, dar conselhos, falar de você, garantir de que ela não desista de você.
- Não sei, não...
- É topar ou não, meu caro. Não vou sair por aí matando gente sem motivo.
Ele tomou outro gole da porradinha.
- Cê acha que é certo...
- É uma forma de troca: Assassinato pela Explicação.
- Tá confio em você.
O que faz um homem apaixonado?
Provavelmente uma merda de loucura.
Quantos caras eu conheci iguais ao Nélio, malucos, doentes, querendo acabar com suas donas, só porque cismam com elas.
Mas quem mandou amar uma dona que não demonstra confiança?
Nélio era apenas um conhecido, um desses que aparecem com outro conhecido.
O papo vem e o sujeito te considera o melhor dos amigos.
Não quero dizer que sou falso, mas não sou o pior dos humanos.
O Nélio apareceu e eu o considero um babaca.
Nélio não tem cérebro, é burro pra cacete!
Não pensa, não usa a cabeça e tá sempre “acabando” com seus relacionamentos.
Ele me chama de amigo, mas ele tem que reconhecer o que é amigo e nesse caso... eu não sou.
Cheguei no 79, bati na porta.
Ninguém atendeu.
Bati de novo.
Estou pra conhecer essa Margarida, curioso, pra dizer a verdade.
A porta abriu.
E eu vi a tal Margarida.
Após apresentações, um convite pra entrar, conversa aqui e acolá, papo vem e vai e tudo saiu numa boa.
À meia-noite voltei à casa do Nélio.
- Demorou. Disse com a cara amassada de sono.
- Você tem razão, meu caro, a Margarida não presta. Mas somente pra você.
Saquei a arma e apontei na direção dele. Nélio se afastou, começou a suar.
- Que é isso, cara, cê é meu amigo, vira essa coisa pra lá!
- Errado, meu caro.
- Você é meu amigo. Pára com isso!
- Amigo não, meu caro, conhecido.
- Que negócio é esse?
- Digamos que mudamos a história.
- Não vai me ajudar com a Margarida?
- É nesta história que quero falar. É uma troca.
Com voz tremida perguntou:
- Que tipo de troca à vadia vai querer?
- Trocar você por ela.
O suor caía ainda mais. Era medo.
- Cê tem que entender meu caro, é uma troca justa.