Um Mundo

Após mergulhar na estranha gosma acinzentada, nadei até o menino misterioso que com um olhar perdido, acenava para o nada. Tentei chamá-lo, mas percebi que nada faria o garoto parar. A areia grossa era iluminada por algo parecido com o Sol. Ou seria a Lua? Não sei, não seria possível saber, pois nesse mundo, as coisas não eram normais. Arrastei-me, cheia de cansaço, para o meio das árvores enormes que atrapalhavam minha visão. De repente algo surgiu, se ergueu diante de mim uma escada. Eu devia subir, ou desviar? Resolvi subir, afinal, já estava perdida. Percebi então que a escada me levara para um caminho todo colorido, me hipnotizando. Aos poucos, andei por sobre o caminho, sem ao menos saber para onde me levaria. Depois de algumas horas, presumo eu, percebi que não sentia fome. Também, o que seria comestível naquele lugar tão misterioso? Tentei sentir algum cheiro, ou avistar algum mínimo movimento. Tudo estava parado, a não ser meu cabelo que voava com uma leve brisa. Lambi o dedo e levantei-o para saber de onde vinha o vento, mas ele parecia vir de todos os lados.

Esperei com a esperança de que a noite chegasse, mas será que estava de dia? A estrada colorida estava se apagando pouco a pouco, quando meus ouvidos, tão sensíveis depois de acostumados com o completo silêncio, perceberam uma melodía muito agradável, quase como o canto de uma sereia lendária.

Meus pés começaram a implicar com o chão que começara a ficar grudento, e a melodía, assim como o caminho colorido, ia desaparecendo, então me perguntei se eu estava perdendo as oportunidades de sair dali. A gosma acinzentava já batia nos meus joelhos quando sem querer, pisei em alguma coisa, que reagiu com um grito ensurdecedor. Cavouquei a gosma, agora mais grossa, e me assustei horrivelmente quando vi que tinha esmagado a cabeça do garoto que me recebera com um aceno misterioso. O que eu faria agora?!

Torci para estar no meio de um pesadelo terrivelmente assustador. Tentava correr dali, mas a gosma prendia meus pés, como se eu estivesse numa bacia cheia de cimento prestes a secar.

Com um ato imbecil, comecei a desenhar com os dedos uma linha imaginária que ia do chão até aquilo que eu disse se parecer com o Sol. Inacreditavelmente, comecei a subir, flutuar. Perecebi então que estava deixando o mundo maravilhoso e curioso que eu não conseguira desvendar completamente. Quanto mais eu subia, mais me convencia de que aquilo não iria me levar a lugar algum. Eu não sentia fome, e sobrevivia. Aqui estou até hoje, voando para não sei onde.