Menina e Mãe.

"Quando da caule tirou a flor, uma pétala caiu, mas seu perfume continuou o mesmo"

 

Foi a primeira vez.

Uma vergonha tão grande, maior que a dor que sentiu.

Perdeu a virgindade, sem nem tirar a roupa, só levantou o vestido. Depois, nem dormir conseguiu. Pela manhã achava que todos que olhavam para ela, percebiam o que tinha acontecido.

Aos poucos esqueceu.

Era uma criança ainda, fora apenas uma única vez. Nem lembrava o nome do rapaz, que conheceu na festa de aniversário de sua prima.

Se ela soubesse, que a maioria das mulheres fica grávida na primeira transa, que só a mulher carrega o peso da gravidez, que o homem fica livre, leve e solto, talvez não cedesse.

Sua crença era muito rigorosa quanto ao sexo, seus pais também. Quando a menstruação não veio achou normal, a sua nunca foi regular, mas quando começou a sentir náuseas, vomitar, ficou assustada. A mãe deu chá e remédios para o estômago, mas não adiantou. Resolveram levá-la ao médico.

Sua mãe desmaiou, quando o diagnóstico dado foi três meses de gestação.

Pensou em fugir. Em sua casa enquanto sua mãe chorava, seu pai dava-lhe uns tapas, falando um monte de impropérios, de Deus, pecado e inferno. Ela só pensava no nenê e em sua barriga, com qual de suas bonecas, se pareceria? Adorava brincar com elas, todas tinham nomes, sobrenomes, apelidos carinhosos, era a mãe delas.

Quando suas irmãs chegaram do trabalho e escola, de novo mil perguntas, conselhos, choros, xingamentos.

Depois foram vizinhos, tias, primas, sentia-se Maria Madalena.

Até que seus avós apareceram, ouviram o que todos tinham para falar, com ela sentada no sofá entre eles, depois foram conversar com seus pais.

Ao voltarem, juntos foram a seu quarto pegar seus pertences, suas bonecas, seus sonhos e levá-la para morar com eles.

Os dias, semanas, meses passaram rápido.

Seus avós nunca a questionaram, apenas se precisava de alguma coisa.

Levavam e a buscavam na escola, como quando era criança, a inscreveram  no posto de saúde, assim que para lá mudou,acompanharam seu pré-natal, fizeram seu chá de bebê, e seguraram sua mão na hora do parto.

Lindo seu bebê, sua boneca.

Com a ajuda dos avós aprendeu a amamentar, dar banho, trocar, a acordar de madrugada como se fosse a coisa mais normal do mundo, para cuidar dele.

Não era mais uma criança, nem mulher, agora era mãe.

Sentia-se forte, capaz de tudo, estava estudando, iria trabalhar assim que pudesse, tinha um filho para criar, alguém que dependia só dela e ela não o desapontaria. Jamais.

Isidoro Machado
Enviado por Isidoro Machado em 10/03/2010
Reeditado em 19/03/2011
Código do texto: T2130945
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