O Poeta e o casebre

O Poeta e o Casebre

Após ter deixado o casebre, o poeta sentiu vontade de meditar e pensou na terra molhada e na chuva fina que lhe invadiram a alma.

Lembrou-se do Velho-sábio, de suas palavras, dos seus gestos e da vida que vivia no vale. Passou horas caminhando e enquanto andava foi lembrando que no casebre o velho tinha ao lado de seu grabato uma pequena moringa e não deixava de beber da água fresca, aos goles, enquanto proseava. Interessante que após cada gole, lá vinha um pigarrear, não sei se um recurso de oratória ou se limpava a garganta, mas sei que ficava mais atento em cada gole da prosa que descia leve como a água na garganta do velho.

A casa muito simples permitiu o poeta volitar e foram centenas de voos e os mais profundos. Descansou logo que saiu do primeiro. Acho que talvez pela inusitada forma; pensou viver na caneca talvez por que mudasse de lugar com uma facilidade incrível e de cor; as cores variavam conforme o lugar: se pairava sobre o mar ficava verde e seu interior era espelhado de forma que o poeta pudesse ver o reflexo de sua alma e todos os sentimentos que se lhe estavam próximo.

Em terra a caneca ficava marrom-cor-de-barro, mas seu interior era translúcido, transparente, de forma que o poeta pudesse enxergar tudo fora da caneca, porém quem estivesse fora não conseguia saber o que se passava no interior, assim o poeta pode observar de dentro de sua caneca tudo que se passava no vale e entender melhor o comportamento de cada ser vivente na Terra.

No ar a caneca assumia um tom violáceo que confundia-se com azul do céu; dentro; o poeta sentia-se nas nuvens, até porque o interior da caneca assumia a cor e a textura do algodão.

A caneca rodopiava no ar como uma grande nave e o poeta conseguia chegar mais próximo das estrelas e rodopiou tanto que chegou numa constelação bem distante; lá ficou vislumbrado com a cor e o brilho das estrelas.

Cada estrela que a caneca visitava causava mudanças no seu interior. Lembro-me de uma estrela que pelo seu tamanho causou-me bastante interesse. Era pequena e tinha um brilho diferente das outras e do seu interior saía um som que o poeta jamais ouvira. Conta o poeta que os acordes eram tão harmônicos que a cada acorde toda a vegetação se tingia de uma nova cor e assim tudo fora se projetava dentro da caneca e o branco absorvia tudo num resplandecente prisma matizado.

O tamanho também causava estranheza porque mesmo pequena a estrela espargia seu brilho em todas as direções e atingia a todos sem distinção. Agora me lembro: numa noite de lua cheia em que o poeta conversava com a lua e como o poeta exibiam-se de felicidade, também dançavam e bailavam por toda relva, obedecendo os acordes que vinham de algum lugar, talvez até orquestrado pela luz que incidia por sobre os amantes.

O poeta percebeu a função do casebre, do velho e da caneca que o levou às nuvens e pode refletir sobre o brilho da lua e das estrelas.

JPonto