A lua e as delícias

A lua e as delícias

Como de hábito estendeu-se a colcha de veludo que aos poucos fora estabelecendo um novo cenário às alcovas do vale.

Corriam vez por outra algumas estrelas que apressadas mudavam de posição, buscando melhor observar e iluminar os corações apaixonados no palco das atenções.

O poeta em seu cavalo branco é cúmplice das delícias e adorna os corações com as flores que o vale possui.

Em cada movimento uma flor: Dançam de alegria, o poeta os contempla com a papoula, mas se por ventura acontece a nostalgia eis que de imediato quase com tom de alento o poeta canta a rosa. Até que surja do interior profundo a alegria destemida e o poeta canta os corações com margaridas. Mas sem que com isso surja a euforia da papoula outra vez, o poeta agora canta outra flor: a violeta.

Rolam pelo espaço indefinido os corações adornados e as estrelas continuam mudando de lugar, iluminando o vale com beleza que brota do sentimento puro.

O cavalo agora se agita e mais uma vez canta o poeta a hortênsia sem perceber que todo vale se enfeita para a festa.

Em cada caminho de terra alva e macia, aonde os pés marcam a presença no vale, cercam as hortênsias majestosas, fazendo os corações identificarem o limite da estrada.

Tudo é festa, até a sonolenta tartaruga se agita e mergulha profundamente nas águas claras, permitindo-se confundir com as pedras às margens do rio que canta em moderado-majestoso.

A camponesa sideral desce aos poucos e pousa lentamente seus pés prateados. Em cada gesto que imprime sobre a areia fina há um farfalhar do vento que sopra lento como brisa, obedecendo aos caprichos do poeta que maestra os lírios brancos e amarelos:

Oh! Majestosa lua

Rainha das emoções

Como rainha simples e bela

Invade, transpondo todas as telas

Que os corações fixam em suas janelas

Sem que a menor razão possa supor

Explique-me oh! Majestade das delícias

Todo teu encantamento

E leve o nosso cantar ao vento

Para que todo o vale se curve

À tua beleza menina.

A lua em respeito habitual responde em leve sorriso imprimindo mais luz ao vale tornando-o quase dia e fazendo até cantar o galo, e todo vale se agita, afinal são as delícias que a natureza contempla.

O poeta agora montado em seu cavalo branco sacode a rédea e deixa que o animal obedeça o instinto e num só galope balança os corações apaixonados, permitindo que as flores compartilhem da festa não só na ornamentação, mas com o mel da vida.

JPonto