Depois do depois
Há muito tempo não se viam. Talvez cinco, seis anos. Moraram juntos, dividiram sonhos, dívidas, opiniões. Belo dia ele decidiu, por ele e por ela, que a relação dos dois estava desgastada e que, definitivamente, não daria mais certo. Não eram felizes.
Por um momento, apenas um momento, ela sentiu-se asfixiada. Meio pluma, soprada por breve ventania sem direito a adivinhar o chão onde cair. Depois, surpresa com a revelação, tentou argumentar, mas percebeu que suas palavras, para ele, eram mudas. Aí, já se sentiu vencida. As conversas não vinham e as poucas conversas que surgiam transitavam mecanicamente entre um e outro vazio.
Nunca mais se viram. Por certo tanto de tempo andaram buscando explicações para o talento que acabaram por admitir como exclusivamente deles: ela, de se apaixonar perdidamente e perdidamente se entregar sem qualquer restrição. Ele, de sentir-se incapaz de sustentar seu desejo por uma vida inteira. Ponderaram, por fim, se essas coisas vinham ser defeitos ou qualidades. Seus relacionamentos sempre acabavam do mesmo jeito. E do jeito como acabavam, acabavam por achar um jeito de culpar, um ao outro.
Levaram dias inteiros analisando os prós, os contras, as variáveis e as variantes. Lembraram-se de pequenos e grandes detalhes. Rememoraram vezes e acontecimentos. Contaram nos dedos a primeira, a segunda, a terceira vez, reservando para cada uma, cuidadosamente, certo tempo para considerações.
Decididamente atraíam ou sentiam-se atraídos por certo tipo de pessoa: as infelizes. Talvez não fosse essa a palavra mais adequada. Talvez fosse melhor usar o termo, insatisfeitas. Talvez, imaturas; talvez sabia lá que outros nomes. Esbarraram, porém, em suas próprias análises: talvez não tenham sabido entender um ao outro. Talvez tenham sido egoístas, talvez fossem eles mesmos os infelizes. E deu na mesma, tanto que rodearam. Desistiram.
O tempo respirou fundo e adormeceu entre seus cetins e sedas, como sempre acontece, amortecendo as dores do mundo.
Um esbarrão no meio da rua e, revela-se o acaso. Era ela. Era ele. Timidamente se cumprimentaram e, quem sabe por influência de quê ou de quem, decidiram almoçar juntos. Ela separada mais uma vez, ele meio confuso com e desconfiado com ela.
Quem sabe... Os dois se diziam silenciosamente, buscando diferenças e semelhanças. O tempo era curto. Foi curto e, por assim ser, marcaram novo encontro. E a cada encontro, um buscou no outro o que havia de imprevisto para ambos.
Ela se encantou por descobertas nunca antes navegadas: “como nunca me disse que gostava disso?” Ele, surpreso, também se extasiava: “ E você, por que nunca me falou sobre esse assunto?”
Ao final de cada encontro que sobrevinha, um curativo: ela tentava recuperar-se do sonho impossível, impregnado ainda da menina. Ele, do medo insano do tempo e suas mazelas.
Há muito tempo não se viam. Talvez cinco, seis anos. Moraram juntos, dividiram sonhos, dívidas, opiniões. Belo dia ele decidiu, por ele e por ela, que a relação dos dois estava desgastada e que, definitivamente, não daria mais certo. Não eram felizes.
Por um momento, apenas um momento, ela sentiu-se asfixiada. Meio pluma, soprada por breve ventania sem direito a adivinhar o chão onde cair. Depois, surpresa com a revelação, tentou argumentar, mas percebeu que suas palavras, para ele, eram mudas. Aí, já se sentiu vencida. As conversas não vinham e as poucas conversas que surgiam transitavam mecanicamente entre um e outro vazio.
Nunca mais se viram. Por certo tanto de tempo andaram buscando explicações para o talento que acabaram por admitir como exclusivamente deles: ela, de se apaixonar perdidamente e perdidamente se entregar sem qualquer restrição. Ele, de sentir-se incapaz de sustentar seu desejo por uma vida inteira. Ponderaram, por fim, se essas coisas vinham ser defeitos ou qualidades. Seus relacionamentos sempre acabavam do mesmo jeito. E do jeito como acabavam, acabavam por achar um jeito de culpar, um ao outro.
Levaram dias inteiros analisando os prós, os contras, as variáveis e as variantes. Lembraram-se de pequenos e grandes detalhes. Rememoraram vezes e acontecimentos. Contaram nos dedos a primeira, a segunda, a terceira vez, reservando para cada uma, cuidadosamente, certo tempo para considerações.
Decididamente atraíam ou sentiam-se atraídos por certo tipo de pessoa: as infelizes. Talvez não fosse essa a palavra mais adequada. Talvez fosse melhor usar o termo, insatisfeitas. Talvez, imaturas; talvez sabia lá que outros nomes. Esbarraram, porém, em suas próprias análises: talvez não tenham sabido entender um ao outro. Talvez tenham sido egoístas, talvez fossem eles mesmos os infelizes. E deu na mesma, tanto que rodearam. Desistiram.
O tempo respirou fundo e adormeceu entre seus cetins e sedas, como sempre acontece, amortecendo as dores do mundo.
Um esbarrão no meio da rua e, revela-se o acaso. Era ela. Era ele. Timidamente se cumprimentaram e, quem sabe por influência de quê ou de quem, decidiram almoçar juntos. Ela separada mais uma vez, ele meio confuso com e desconfiado com ela.
Quem sabe... Os dois se diziam silenciosamente, buscando diferenças e semelhanças. O tempo era curto. Foi curto e, por assim ser, marcaram novo encontro. E a cada encontro, um buscou no outro o que havia de imprevisto para ambos.
Ela se encantou por descobertas nunca antes navegadas: “como nunca me disse que gostava disso?” Ele, surpreso, também se extasiava: “ E você, por que nunca me falou sobre esse assunto?”
Ao final de cada encontro que sobrevinha, um curativo: ela tentava recuperar-se do sonho impossível, impregnado ainda da menina. Ele, do medo insano do tempo e suas mazelas.