A lua, o poeta e as nuvens.

A lua, o poeta e as nuvens

O céu estava nublado e o poeta como de sempre meditava sobre o vale e se encantava com um grilo saltitante que povoava as redondezas das suas dimensões. O bichinho pulava eletrizante parecia que queria anunciar algo que o poeta não poderia precisar ou não estava conseguindo por algum bloqueio natural, decifrar.

Interessante que o grilo no seu cricrilar rouquenho entorpecia ainda mais a mente do poeta que não conseguia ir além de algumas reticências...; bem compostas é claro; ele só passava alguns momentos reticencioso até que o vale lhe pudesse devolver a força necessária para estabelecer o precioso contato com a lua.

A lua por sua vez também estava envolta às nuvens que lhe cercavam o sentimento; diz o poeta que nublou de tal forma que as montanhas se pareceram nuvens e as nuvens montanhas.

O poeta lembrou-se do rio, porque quando era pequeno ouvia sempre das história que sua avó contava que o rio era sábio e que suas águas tinham o poder de levar consigo todas as dificuldades que chegassem até elas. O poeta meditou sem saber como poderia isto acontecer, mas naquele exato momento o mais importante era socorrer-se do rio e caminhou até às margens, tirou as sandalhas que sempre usava e pois os pés na água. O rio pareceu estranhar o poeta porque não tinha o hábito de entrar na água, assim de súbito, portanto diminuiu seu fluxo lavando os pés do poeta de forma branda, como um gostoso picolé de limão em tarde acalorada. Os peixinhos se acercaram e a tartaruga acordou e entrou n’água, formando ali naquele lugar um festival de curiosidades. Todos olhavam o poeta querendo saber o que estava acontecendo; por que ele estava estranho e por que a lua estava escondida? O poeta continuava em silêncio e o rio calmamente lavava seus pés com a humildade de um apostolo da natureza, de repente, as nuvens foram se dissipando e a lua tornou a clarear o vale e o poeta foi perdendo o medo de ficar só e não ter mais a companhia da lua a clarear o vale e a sua vida. Era ela, novamente majestosa e bela; tudo fora apenas uma nuvem que passou, encobrindo a lua que nunca se foi.

O rio voltou ao fluxo normal, os peixinhos um a um foram se dissipando, assim como quem sai de fininho e a tartaruga meio pachorrenta teve de ser ajudada por uma anta, conseguindo voltar às margens.

O Poeta meditou e ficou muito tempo olhando a lua e ela retribuía o olhar, acompanhando as nuvens que também passavam.

O poeta então procura o grilo que já não mais ali estava; acreditou o poeta que provavelmente houvera pulado numa folha seca da amoreira que caíra justo no momento em que ele estava tirando as sandálias para entrar na água. Não estava muito atento ao fato, mas entendeu o porquê de sua vó dizer que as águas do rio levavam todas as dificuldades da vida. O grilo fora apenas o mensageiro, fazendo o poeta tomar as providências de recepcionar as nuvens que passavam naquele momento.

J. Ponto

JPonto
Enviado por JPonto em 05/03/2010
Código do texto: T2122324