APUROS DE ESTUDANTE
Muitos anos se passaram.
A mineira foi estudar no Rio de Janeiro e residir num pensionato, dirigido por freiras, na Tijuca.
A mesada mal dava para o pagamento da moradia, incluídos café da manhã e uma refeição diária (almoço ou jantar) e transporte.
Na cidade grande as distâncias são enormes, os trajetos por ônibus são longos e demorados e o pensionato mantinha um horário de chegada bastante rígido: às vinte e duas horas os portões eram fechados e quem se atrasasse perigava dormir na rua, caso não tivesse um parente ou casa de amigo para o pernoite.
Uma tarde, um professor marcou um encontro dos alunos em sua própria casa, em Ipanema, para preparar um Seminário. As discussões se prolongaram e a mineira, ao se dar conta das horas, percebeu que encontraria o pensionato fechado. Para chegar a tempo precisaria pegar um táxi. Todo o dinheiro que tinha na bolsa era destinado às despesas fixas até o final do mês. Táxi era um luxo, mas dormir ao relento estava fora de cogitação.
Apressada, correu e apanhou um táxi que havia estacionado em frente a um hotel onde desembarcara um passageiro.
- Moço, pra Tijuca, por favor, e bem depressa.
Ao acomodar-se no banco percebeu um maço de notas novinhas dobradas ao meio; disfarçadamente, pegou as notas e enfiou dentro do caderno.
Chegou a tempo ao pensionato; tirou da bolsa o dinheiro da corrida, agradeceu ao motorista e entrou correndo para o quarto. Ao abrir o caderno lá estavam cinco notas de dez cruzeiros, novinhas e cheirando a tinta. Fome não passaria.
Outro dia também se atrasou; o dinheiro que havia na bolsa era insuficiente para pagar uma corrida de Copacabana até a Tijuca.
Apanhou o táxi com a idéia de tomar emprestada com alguém a quantia para o pagamento.
Ao sair do táxi, pediu ao chofer para esperar um pouquinho que ela iria buscar o dinheiro. Ao entrar, encontrou na portaria um senhor se retirando. Ele a reconheceu e puxou conversa; tinha feito uma visita às freiras. Reconheceu a mineira por ter sido amigo de seu tio, um filólogo já falecido.
Ela se desculpou por não lhe dar muita atenção, alegando estar correndo a buscar dinheiro e pagar o taxista esperando no portão.
- Não se preocupe vou pegar esse táxi e pago a corrida.
E foram juntos conversando até o carro.
O papo acabou quando os portões se fecharam.
- Deus o tenha, tio!