Um intruso no formigueiro

Alfredo acordou sonolento, meio de ressaca e nem se espreguiçou e já foi direto para o banheiro.

Depois de soltar um mijão daqueles que transborda a privada, foi lavar as mãos, deparando-se então com uma cena deveras interessante.

No centro da pia branca, centenas de formiguinhas tiravam o resto de um alimento qualquer da noite passada. Todas trabalhavam em prol da sobrevivência.

Quando colocou a mão na torneira, Alfredo, lamentava pelo lugar inesperado que as formigas foram se meter. O rapaz de dezoito anos teve uma estranha sensação de que veio de um mundo no qual ele seria um Deus perante aqueles pequeninos seres.

Subitamente desistiu de usar a pia, mas logo mudou de idéia, pois não queria deixar suas mãos sujas.

Alfredo voltou a olhar para as formigas, acreditando que todas elas eram insignificantes perante sua grandeza. Entre devaneios, começou a pensar se em algum lugar do universo, existiria algum ser que fosse tão superior a ponto de tratar a nossa humanidade como um reles formigueiro.

Logo achou a idéia ridícula e balançando a cabeça abriu a torneira sem piedade, observando então o destino terrível das formigas como se elas estivessem na época do grande dilúvio. Alfredo sentiu então um poder inexplicável. A quantidade de água foi tão grande que o fundo da pia virou uma sopa de formigas, porém, rapidamente todas elas foram engolidas pelo ralo. Algumas poucas formigas, as antediluvianas, conseguiram fugir do massacre subindo parede acima.

Então o rapaz ficou todo confuso, enxugou as mãos, foi embora e fez questão de não pensar mais nada sobre o assunto.