BRANCA DE NEVE EM COPACABANA
 


 
As revistas traziam mulheres perfeitas de peles bronzeadas com minúsculas vestimentas.
A adolescente percebia que não se encaixaria jamais naquele padrão de beleza.
 
Desde pequena tinha problemas com as coleguinhas da escola que, por vezes, chamavam-na de “branquela azeda”. Isso acontecia sempre que a menina recebia elogios dos professores.
 
Então criou em sua mente a idéia de que era muito branca e isso incomodava as pessoas. Por isso cobria sempre o seu corpo para que ninguém percebesse o quanto era branca.
 
Mas, quando já estava para completar seus quatorze anos, folheou uma revista de modas que trazia as medidas do corpo de uma miss alguma coisa.
 
Então pegou uma fita métrica e, por mera curiosidade, fez suas medidas e comparou com as daquela mulher que parecia tão linda e era uma estrangeira que não exibia o mesmo bronzeado que sempre destacavam nas capas das revistas.
 
A adolescente fez uma constatação que iria mudar toda a sua postura e a idéia que fazia de sua aparência física.
 
Ao perceber que tinha exatamente as mesmas medidas daquela modelo internacional, ficou muito feliz.
 
Correu e procurou um maiô preto que ganhara de seu pai mas nunca teria coragem de usá-lo.
 
Pela primeira vez correu ao espelho de sua mãe e, decidida, percorria seus olhos dos cabelos aos pés.
 
Eis que no espelho pôde ver uma bela criatura de cabelos castanhos bem compridos e lisos que brilhavam e contornavam um lindo rosto também iluminado.
 
O corpo bem definido, com belíssimas pernas torneadas. Uma cinturinha na medida certa.
 
Começou a lembrar das palavras de sua mãe que passou muito tempo tentando convencê-la dessa beleza escondida. Ela pensava que era pura gentileza materna.
 
Nesse momento, tomou uma decisão inédita. Iria à Copacabana sem qualquer medo ou insegurança, pois tinha as mesmas medidas de uma miss alguma coisa.
 
Na praia de Copacabana, desfilava com seu negro maiô e, sem qualquer preocupação, brincava com suas irmãs e primas que ficaram surpresas com sua nova postura.
 
Tudo estava dando certo e a menina muito feliz com sua nova descoberta. Sorridente, olhava para sua irmã e pensava:
 
- Quanto tempo perdi com essa bobagem... olha só minha irmã que também é branquinha... nossa! Mas deve ser bem mais do que eu... chega a cegar os olhos... como pode ser tão branca!
 
De repente!
 
Aproxima-se um jovem jornalista ofegante e pergunta:
 
- Oi menina linda! Deixa eu fazer umas fotos suas, pois vai dar uma manchete boa.
 
Confusa, a adolescente perguntou o porquê de uma foto sua dar uma boa manchete. Afinal não se destacava tanto. Vez que as suas irmãs era muito mais belas do que ela.
 
O rapazinho não titubeou e logo disse:
 
- De longe estou observando você já há algumas horas nessa praia e não tenho dúvidas de que você é


A GATA MAIS BRANCA DE COPACABANA!
 
 
Não! Ela não acreditava que aquilo estava acontecendo.
Agora já não era tão alva, mas vermelha de vergonha e raiva.
 
Logo pegou um balde cheio de areia e jogou naquele jovem que não entendeu aquela histeria.
 
A menina urrava e pedia para que ele desaparecesse imediatamente de sua frente.