a conversa iniciada
Ele mandou através do "garçon" (ainda pensava à francesa..., recém chegado da europa) um papel dobrado com umas palavras, uma poesia: ROSA// enquanto te olho/ lembro-me que existo// tenho uma sensação/ parecida com a ideia/ de desenhar uma rosa...
Rosa, olha para ele de forma instintiva, vê-o de perfil distraído. Segue-lhe o olhar e vê-o, a vê-la num espelho. Sorriem sem esforço, ele pega no seu copo e procura-a.
- Posso sentar-me?
- Um poeta é sempre bem vindo..., tem uma voz suave, segura, bem modelada, lenta, nada apressada, tranquila. Ele que nada tinha pensado para lhe dizer, diz-lhe estas coisas que pensou. Responde ela, agora de forma loquaz.
- Estava aborrecida sem nada que fazer, espero uma amiga que duvido venha e se vier, vem como eu vim, deixar passar o tempo, para ir para casa em cima da hora de jantar e partilhar obrigações... comer em família. [Poderá também aí chegar outra amiga, bela, solteira, louca... por homens. - Isto seria para fazer uma novela, onde entraria a amiga.]
É a vez dele, fala inventando, improvisa...
- Com esse vestido negro onde fica como um cisne da cor do mesmo a vogar num vagar magestoso..., faz uma pausa, imaginei-a viúva inconsolável, desconsolada...
- Com um colar de pérolas excessivamente brancas e brilhantes, a acentuar a transição cabeça, tronco. Dando uma base ao retracto do rosto, chamando a atenção para o colo... Sou pintora. Diz ela, agora com uma brevidade incisiva, com quem acaba de ter uma excessiva intimidade e tenta saltar sobre ela?
Ele leva a bebida aos lábios, olha-a nos olhos, deixa o olhar percorrer um dos braços da pintora muito branco, onde se nota uma veia atravessando o pulso, visível nas costas da mão exposta como uma escultura sobre a mesa. Pega-lhe na mão e fala:
- Estou pois a observar um objecto de arte, digo, um instrumento de Arte?...
Um sonoro estalo! Um senhor que avança tranquilo até junto deles e pergunta:
- Não venho incomodar?
- Nada meu querido, dá-me um beijo!, beijam-se. E ela continua:
- Ainda não tínhamos concluído as apresentações, mas apresento-te um poeta. Agora, o poeta:
- Francisco Coimbra, engenheiro mecânico e professor, efectivamente, poeta. Provavelmente a ficar com boas cores, graças à massagem vigorosa recebida na cara; embora a possa compreender como justificada.
Apresentam-se e continuam a conversa iniciada.
(inspirado numa crónica de ontem, "butterfly sem madame" de Rosa Pena)