A CORUJA TOCADORA DE SINO.

Todos os dias, perto da meia noite, em uma cidade do interior de Minas Gerais, na Igreja Matriz, o sino batia sozinho. Muitos tinham medo. Outros corriam. Os namorados iam para casa mais cedo e ninguém saia. Era medo total.

Sr. Vicente, um senhor já idoso, poderia ter uns setenta anos, não tinha medo. Chegou a esta cidade no sábado e já no domingo, quis resolver o assunto.

Chamou o “Dico”, um sujeito em forma de bobo da corte, já um pouco idoso e pediu para que o acompanhasse até a igreja, porque Sr. Vicente tinha um pouco de deficiência física e precisava de andar segurando uma “bengala”. Assim, Dico o acompanhou, mas com muito medo.

Sr. Vicente falou para que os dois fossem até o cemitério local para fazer serenata para os mortos. Dico, mais uma vez, com muito medo, o acompanhou. Quando Dico pensava em andar depressa ou querer correr, Vicente dizia para ele na fazer isso, porque bateria com a bengala nele. Cantaram bastante no cemitério, rezaram e se divertiram. Quando foi mais ou menos por volta das onze horas, os dois seguiram para a igreja e sentaram-se na calçada e começaram a ver a noite.

Neste instante, alguns passavam correndo e diziam que o sino iria tocar a qualquer momento e Vicente dizia que iria descobrir a “assombração” que amedrontava a cidade.

O tempo passou, os minutos foram-se embora. Os dois começavam a cochilar e Dico falou:

- Vicente, eu estou com medo, vou embora e saiu correndo

- Dico, dizia Vicente, eu lhe bato com a bengala, venha até aqui.

- Eu não, tem assombração e tenho muito medo...

Dico, portanto, saiu correndo e o coitado do Vicente não se contentou em ficar sozinho à espera do possível fantasma que tocava o sino na Igreja.

Após algum tempo, Vicente dizia consigo mesmo, que estava sozinho e não podia fazer nada, a não ser esperar e desvendar o caso, ou iria embora, mas se o fizesse, as pessoas iam fazer gracejos com ele.

Não deu outra.

Uma badalada... Duas, três, quatro... o sino tocou e um barulho imenso. Parecia um sopro forte e um bater de asas.

Vicente gritou:

- Agora estou frito, minha bengala quebrou e não consigo correr. Oh! fantasma, apareça por favor.

Passou um pouco e Vicente pode ver, que perto do sino, havia um ninho de coruja e todas as vezes que ela saia do ninho para procurar alimentos, encostava no sino e este batia. Quando abria as asas para voar, fazia um grande barulho. Então era o fantasma da igreja.

Muito feliz, Vicente descobriu o mistério e no outro dia tinha até banda de música tocando e o prefeito da cidade e os vereadores fizeram um agradecimento ao sr. Vicente e este recebeu o título de “Cidadão Honorário” da cidade. Foi muita festa e a coruja ainda bateu sino por um bom tempo.

* Do livro “Contos Terrestres” de José Carlos de Bom Sucesso.