O bom cristão

O rapaz andava apressado pela pequena estrada de terra. A mochila sacolejava nas costas pela irregularidade da via. Estava atrasado e a distância do sítio para a escola era grande. O ônibus não passara daquela vez.

Certo ponto da caminhada, ele parou abruptamente por ouvir algo a sua direita. Era uma voz suave, vinda do alto. Uma canção que o fez estremecer por sua beleza e melodia. O rapaz, hipnotizado pela harmonia, saiu da estrada e seguiu a música.

Um pouco além da vegetação rala que margeava a estrada, havia uma pequena colina de terra vermelha. O voz vinha lá do alto. O rapaz, não intimidado pela altura do monte, iniciou a subida. Era íngreme e com muitos pontos lamacentos, mas estava determinado. Enquanto subia, a música parecia ficar mais bela e irresistível. Não havia como ignorá-la, nem os mais brutos de coração.

Já perto de atingir o cume, o rapaz notou que havia uma luz pálida como névoa desprendendo-se do topo, como aquelas fumaças que fazem parte dos grandes concertos de música. Aquilo encheu-o de uma mistura de medo, fascínio e euforia.

Após muito tempo, ele atingiu o topo. Fora uma subida exaustiva. Tinha os membros doloridos e a roupa toda suja de barro vermelho. Mas foi recompensado com uma visão maravilhosa.

Havia um halo de luz azulada no centro do cume. O céu, que no dia apresentava-se escondido sobre um cobertor cinzento de nuvens, estava aberto misteriosamente sobre essa reverberação. A música vinha desse fenômeno. Entorno do halo havia pedras preciosas que brilhavam como pequenos sóis. O rapaz foi invadido por uma sensação de paz e felicidade.

- Meu filho querido. – Uma voz reboante explodiu da luz. – Eu sou o senhor.

O rapaz permaneceu parado, olhando fascinado.

- Eu te convoquei por que preciso de seus serviços.

O rapaz continuou hipnotizado.

- Quero que construa nesse lugar uma igreja em meu nome. Convoque todos os de sua aldeia para levantá-la no menor período de tempo.

O rapaz desviou os olhos das pedras preciosas e pela primeira vez encarou a luz. Com um olhar determinado respondeu:

- Construa você, oras!

Pegou o máximo das pedras preciosas que conseguiu carregar e desceu o monte satisfeito consigo próprio.

Leo Ramos
Enviado por Leo Ramos em 19/02/2010
Código do texto: T2095832
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