CONVERSA BANAL SOBRE SOFIA, NUM CHÁ DAS CINCO

CONVERSA BANAL SOBRE SOFIA, NUM CHÁ DAS CINCO

A MESA FORA POSTA COM ESMERO.

TOALHA DE LINHO, GUARDANAPOS DE CAMBRAIA, AS TRAVESSAS DE PRATA, AS XÍCARAS DE PORCELANA, OS COPOS DE CRISTAL.

O ARRANJO FLORAL RESCENDENDO AGRADAVELMENTE.

AS GULOSEIMAS DELICADAS, DELICIAVAM ANTES, AOS OLHOS, DEIXANDO COM MAIS FOME E VONTADE DE COMER, TODAS AS FORMOSAS DAMAS CONVIDADAS PARA O CHÁ.

AS DAMAS, É CLARO, OFERECIAM UM ESPETÁCULO À PARTE COM SEUS BELOS VESTIDOS PRIMAVERIS, SEUS CHAPEUZINHOS DE PALHINHA ITALIANA, SEUS SCARPINS E BOLSAS SAVELLI E SUAS JÓIAS DISCRETÍSSIMAS, É CLARO, FAISCANDO DISCRETAMENTE AOS AGONIZANTES RAIOS DE UM NÃO MENOS DISCRETO PÔR-DE-SOL.

A CONVERSA QUE A PRINCÍPIO GIRARA EM TORNO DO TEMPO, DA FAMÍLIA, DOS PROGRESSOS DOS FILHOS, AOS POUCOS FOI TORNANDO-SE OUSADA E DESCONTRAÍDA E JÁ PODIA-SE OUVIR AQUI E ALI, SOBRE A ÚLTIMA AQUISIÇÃO MILIONÁRIA DE ALGUM MARIDO NÃO MENOS MILIONÁRIO, DA AQUISIÇÃO NÃO TÃO RENTÁVEL, MAS IGUALMENTE CARA, QUE LAURA DE BRITO EXIBIA NAS ÚLTIMAS SEMANAS E QUE TINHA A APARÊNCIA FRESCA DOS VINTE E POUCOS ANOS E ATENDIA PELO NOME DE EDUARDO.

MAS, EM SE TRATANDO DE LAURA, EDUARDO NÃO CONSTITUÍA NENHUM ESCÂNDALO, GERANDO APENAS UMA DIVERTIDA EXPECTATIVA E UMA VULTOSA APOSTA SOBRE O TEMPO DE DURAÇÃO DOS SEUS DESFILES NA PASSARELA PARTICULAR DE LAURA, MONTADA NA SUÍTE PRINCIPAL DE SUA MANSÃO EM ÔMEGA VIP GARDEN RESIDENCIAL.

AOS POUCOS, TRÊS MULHERES DISTANCIARAM-SE DA CONVERSAÇÃO GERAL. ERAM ELAS, ANTÔNIA NOLASCO, SIMONE SANTHIAGO E CÉLIA AMARAL.

ANTÔNIA, UMA MORENA SUAVE DE APROXIMADAMENTE QUARENTA ANOS , DEDICADA EM TEMPO INTEGRAL AOS SALÕES DE BELEZA, CENTROS ESTÉTICOS E FESTAS BADALADAS, FALOU MEIO DISTRAÍDA:

- ESTOU ESTRANHANDO, QUERIDINHAS, O SUMIÇO DE SOFIA. NÃO A VEJO JÁ FAZ ALGUM TEMPO.

- É VERDADE, ANTÔNIA. AGORA QUE VOCÊ FALOU PERCEBO QUE TAMBÉM NÃO A TENHO ENCONTRADO. QUER VER QUE A ESPERTINHA ESTÁ EM ALGUM SPA MONTANHOSO OU EM ALGUMA MESA DE CIRURGIA PLÁSTICA? - EMENDOU SIMONE, UMA RUIVA FABRICADA, DE LONGAS E BEM MANICURADAS UNHAS, SORRISO ESTUDADO DE DENTES PERFEITOS, DONA DE UM DESUSADO SENSO DE HUMOR MAQUIAVÉLICO QUE IMPRESSIONAVA A QUEM NÃO A CONHECIA, PORQUE AOS OUTROS, APENAS ENTEDIAVA EM GRANDE ESCALA.

-NADA DISSO MENINAS. NEM SPA, NEM CLÍNICA, MAS COM EFEITO, SUMIÇO. ISSO, SIM! UM BELO SUMIÇO! APENAS NÃO COMENTADO POR CAUSA DE TOMAZ, QUE BEM OU MAL, TEM LÁ SUAS INFLUÊNCIAS. NÃO VÃO AGORA ME DIZER QUE NÃO NOTARAM TAMBÉM A AUSÊNCIA DE TOMAZ NAS ÚLTIMAS REUNIÕES?! MESMO PORQUE, QUANDO DEUS APARECE OU DESAPARECE EM PESSOA, APENAS QUEM É CEGO NÃO PERCEBE, NÃO É MESMO? - ISSO, QUEM DISSE, FOI CÉLIA AMARAL, SOCIALITE DE ALTO GABARITO E CACIFE QUE DESTINAVA DESCONHECIDA - MAS ESTIMADA POR MUITOS EM ALTO VALOR - SOMA MENSAL PARA PAGAMENTO DAS FONTES SECRETÍSSIMAS QUE A MANTINHAM NA PONTA EM MATÉRIA DE FATOS E BOATOS.

CÉLIA AMARAL GOSTAVA DE USAR OS CABELOS CURTOS E VERMELHOS CAUSANDO UM ESTRANHO MAS PERTURBADOR CONTRASTE COM SEUS ENORMES OLHOS AZUIS DE CÍLIOS LONGOS E PRETOS. POSSUÍA UMA BOCA VAMP E UM CORPO DE DEUSA.

DAS TRÊS, ERA A MENOS FÚTIL. DUAS VEZES POR SEMANA, DE PERUCA LOIRA E LONGA, LENTES DE CONTATO CASTANHAS, CÉLIA DIRIGIA PESSOALMENTE UM CARRO POPULAR EM DIREÇÃO À PERIFERIA ONDE NASCERA E DE ONDE A SORTE DE UM RIQUÍSSIMO CASAMENTO A TIRARA, PARA PRESTAR SERVIÇO VOLUNTÁRIO, UM DIA NA CRECHE MENINO DEUS E OUTRO DIA NO ASILO ÚLTIMA PARADA.

ESSA CÉLIA, PORÉM, ERA TOTALMENTE DESCONHECIDA DO ATUAL ROL DE AMIZADES.

_AH! CONTA LOGO, CELINHA, OU NOS MATA DE CURIOSIDADE! O QUE FOI QUE HOUVE COM NOSSA SOFIA? POR ONDE ANDA? ACASO DOENÇA INCURÁVEL? _ PERGUNTA SIMONE, MALDOSA.

_ISSO MESMO, CÉLIA! PROVE-NOS QUE O QUE GASTA COM SUAS FONTES VALE A PENA. JÁ SABEMOS QUE SOFIA É UM TANTO QUANTO DIFERENTE, QUE NÃO SE..."ENCAIXA", SE É QUE ME COMPREENDE.

_COMPREENDO SIM, ANTÔNIA. SOFIA REALMENTE NÃO PARECE PERTENCER NEM À NÓS E NEM AO NOSSO MUNDO, APESAR DE VIVER NELE DESDE O NASCIMENTO.

CÉLIA DISSE ISSO PENSATIVAMENTE, LEMBRANDO-SE DA SUA LUTA FERRENHA PARA ENTRAR NESSE MUNDO E NA IGUALMENTE FERRENHA LUTA DE SOFIA PARA SAIR DELE.

SOFIA ANACLETO GARIBALDI, A PRINCESINHA DOS PNEUS, COMO ERA CHAMADA DESDE O NASCIMENTO, CRESCERA RODEADA DE EMPREGADOS, BRINQUEDOS CAROS, ROUPAS EXCLUSIVAS, PROFESSORES PARTICULARES, COLÉGIO INTERNO NA SUIÇA E A TOTAL DESATENÇÃO DOS PAIS, OCUPADOS DEMAIS COM A VERTIGINOSA VIDA EMPRESARIAL E SOCIAL.

POR LIVRE E ESPONTÂNEO GOSTO, CERCARA-SE DE LIVROS DE ROMANCES AÇUCARADOS, ONDE SEMPRE HAVIA UM HOMEM MARAVILHOSO, PERFEITO, QUE AMAVA ACIMA DE TUDO A POBRE MENINA DESAMPARADA. ESSES ROMANCES TERMINAVAM INVARIAVELMENTE ONDE A VIDA REAL COMEÇA A SER PENOSA, OU SEJA, NO ALTAR.

SÓ QUE SOFIA DESCONHECIA ESSE DETALHE E ENTÃO SONHAVA E SONHAVA COM QUALQUER PRÍNCIPE ENCANTADO QUE PUDESSE LHE DIZER A FRASE MÁGICA "EU TE AMO, CASE-SE COMIGO."

E ASSIM FOI SE TORNANDO UMA SOFIA ESQUIVA, TÍMIDA, CALADA.

UMA SOFIA COM QUEM TODOS GOSTAVAM DE CONVERSAR, POIS ELA, CALADA, DAVA-LHES A CHANCE DE FALAREM SOBRE SI MESMOS POR HORAS, UM ASSUNTO MUITO COMUM ENTRE OS VELHOS E NOVOS RICOS, SEM EXCEÇÃO.

EM UMA NOITE DE BAILE SUNTUOSO NA MANSÃO DOS GARIBALDI, SOFIA, COMO SEMPRE INADEQUADAMENTE VESTIDA, OS CABELOS COR DE PALHA BRILHANTES E SOLTOS, OS OLHOS VERDES BAILANDO POR ELA PRA LÁ E PRA CÁ, ESTAVA NUM CANTO DO ENORME SALÃO DE PAREDES ESPELHADAS, DECORADO COM LINDAS COLUNAS GREGAS DE ONDE DESPENCAVAM FLORES DE RARA BELEZA E UM PALCO NO CENTRO ONDE UMA ORQUESTRA "VALE QUANTO PESA " EXECUTAVA VALSAS VIENENSES PARA OS PARES ENTUSIASMADOS.

ESTAVA LÁ, COMO SEMPRE, SEM REALMENTE ESTAR, QUANDO DE REPENTE SEUS OLHOS PARARAM DE BAILAR E FIXARAM-SE NO PRÍNCIPE ENCANTADO QUE ACABARA DE ENTRAR.

BOM, PRÍNCIPE ENCANTADO NA VERDADE, SÓ PARA SOFIA, PORQUE PARA TODAS AS OUTRAS CENTENAS DE MULHERES PRESENTES, QUEM ACABARA DE ENTRAR ERA DEUS - COMO JÁ O DISSERA CÉLIA AMARAL -E ESSE DEUS ERA SOLTEIRO, DISPUTADÍSSIMO E NADA CELIBATÁRIO.

O CORAÇÃO DE SOFIA FALHOU UMA, DUAS, TRÊS, DEZ, TRINTA BATIDAS E ELA SENTIU-SE TONTA E COMO ACONTECIA EM SEUS ROMANCES DOCINHOS O PRÍNCIPE CHEGOU BEM A TEMPO DE SOCORRÊ-LA, OU MELHOR, SEGURÁ-LA ANTES QUE CHEGASSE AO CHÃO, DESMAIADA DE EMOÇÃO.

A INVEJA CRAVEJAVA SETAS VERDES, AZUIS, CASTANHAS E PRETAS NA DIREÇÃO DE SOFIA QUE JAZIA NOS BRAÇOS DE TOMAZ.

E FOI ASSIM QUE SOFIA COMEÇOU A VIVER SEU PRÓPRIO ROMANCE, QUE CULMINOU NA FATÍDICA FRASE " EU TE AMO, CASE-SE COMIGO! ".

-SIM, OH! SIM, MEU AMOR! RESPONDEU SOFIA SENTINDO-SE LETRA PRETA EM PÁGINA BRANCA GUARDADA EM CAPA DURA.

CASARAM-SE EM UMA TARDE CHUVOSA, QUE SE TIVESSE RECEBIDO A DEVIDA ATENÇÃO, PODERIA TER CONTADO QUE AQUELE NÃO SERIA UM CONTO DE FADAS ONDE A PRINCESA ERA SALVA PELO PRÍNCIPE, MAS SIM, UMA HISTÓRIA BEM MAIS REAL E CORRIQUEIRA DO EMPRESÁRIO FALIDO MANTENDO-SE À CUSTA DO NOME, QUE ENCONTRARA UMA HERDEIRA GRAÚDA, INOCENTE O SUFICIENTE PARA ASSINAR UM CONTRATO DE CASAMENTO EM REGIME DE COMUNHÃO UNIVERSAL DE BENS, UMA COISA CUIDADOSAMENTE EVITADA POR AMBOS OS LADOS QUANDO O CASAL DE NOIVOS NÃO TINHA NA SUA BANDA FEMININA UMA POBRE SOFIA RICA SEM AMIGOS ÍNTIMOS OU PAIS PRESENTES POR TEMPO SUFICIENTE PARA INTEIRAREM-SE DESSE DETALHE E EVITÁ-LO.

MAS O TEMPO, CRUEL DEMAIS OU AMIGO DEMAIS, ENCARREGA-SE DE AMADURECER TODOS OS FRUTOS QUE VINGAM E SOFIA VINGARA APESAR DE TUDO.

PASSADOS DOIS ANOS ELA ERA UMA PÁLIDA SOMBRA DA PÁLIDA CRIATURA QUE FORA.

NÃO ENGRAVIDARA POIS PARA ISSO ERA PRECISO QUE TOMAZ, SEU ENTÃO AGORA APENAS MARIDO, FIZESSE AMOR COM ELA, E ISSO NÃO ACONTECIA. CONTINUAVA SEM AMIGOS POIS NÃO ARREDARA PÉ DE SEU PAPEL DE OUVINTE ATENCIOSA E OCASIONAL. NÃO TRABALHAVA POR QUESTÃO DE CONSCIÊNCIA - AFINAL, ESTARIA OCUPANDO O LUGAR DE QUEM PRECISAVA GANHAR O PÃO DE CADA DIA. NÃO ERA FÚTIL, APESAR DE UM TANTO QUANTO TOLA, E ASSIM, NÃO SE

" ENCAIXAVA " - COMO DISSERA ACERTADAMENTE ANTÔNIA - NAS RODINHAS DOS SALÕES DE BELEZA, NOS JOGOS DE CARTAS, NOS CHÁS E JANTARES BENEFICENTES.

PASSADOS ESSES DOIS ANOS, SOFIA NÃO CONSEGUIA MAIS NEM MESMO LER OS SEUS ROMANCEZINHOS, POIS O TEMPO JÁ A AMADURECERA, OU ANTES JÁ A AMARGURARA O BASTANTE PARA QUE ELA NÃO PUDESSE NEM MESMO IMITAR UM SORRISO NOS ACORDES FINAIS DA INFALÍVEL MARCHA NUPCIAL.

PASSADOS ESSES DOIS ANOS, NINGUÉM PODERIA DIZER QUE A CONHECIA OU RECONHECIA. SOFIA TORNARA-SE IMPENETRÁVEL.

AGORA VESTIA-SE ADEQUADAMENTE PARA QUALQUER OCASIÃO. O PROBLEMA ERA QUE AS OCASIÕES É QUE NÃO ERAM ADEQUADAS PARA ELA E ENTÃO DEIXAVA-SE VAGAR PELAS GALERIAS DA MANSÃO CINQUENTA POR CENTO SUA, OU ESQUECIA-SE NA POLTRONA DE COURO DA BIBLIOTECA CONTANDO SILENCIOSAMENTE OS MOVIMENTOS DO PONTEIRO MENOR DE TODOS OS TRÊS DO RELÓGIO DE PAREDE, OU AINDA, UM PRAZER RECÉM DESCOBERTO, PASSEAR HORAS INCONTÁVEIS PELOS JARDINS E POMARES EM COMPANHIA DO JOVEM JARDINEIRO QUE SEMPRE A RECEPCIONAVA COM UM SORRISO ENCANTADOR E UMA FLOR COM AMOR.

UM DIA DESSES, O JARDINEIRO - JARDINEIRO PARA OS PATRÕES E ISAAC PARA OS AMIGOS - OLHOU FUNDO NOS OLHOS DE SOFIA SOFRIDA SOLITÁRIA, QUE SEM QUERER, NAQUELA TARDE DE INUSITADA PRESENÇA DE TOMAZ EM CASA, OUVIRA, QUANDO JÁ IA ENTRAR NA BIBLIOTECA, AS VOZES DISTINTAS, DEBOCHADAS, REVOLTANTES, RUDES E DESCARADAMENTE ALEGRES DO PRÓPRIO TOMAZ E DE ALGUNS TANTOS AMIGOS DELE QUE ELA DESCONHECIA, DIZENDO QUE AGORA QUE SUA EMPRESA REERGUERA-SE COM A INJEÇÃO DE DINHEIRO CONQUISTADO COM O SACRIFICIOSO MATRIMÔNIO, ERA SÓ ENTRAR COM A AÇÃO DO DIVÓRCIO E ESTARIA LIVRE E RICO, MUITO RICO, GRAÇAS ÀQUELA COISA DESBOTADA E DESPERSONALIZADA QUE ADOTARA MANSAMENTE O PSEUDÔNIMO DE

" ESPOSA ".

SOFIA VOLTARA-SE SOBRE SEUS PASSOS E SEGUIRA PARA O JARDIM SEM CONSEGUIR SEQUER CHORAR OU ARFAR, LEVEMENTE QUE FOSSE, DE RAIVA OU REVOLTA, LÁ ENCONTRANDO ISAAC, QUE COMO JÁ FOI DITO, OLHOU FUNDO EM SEUS OLHOS DE JÓIA PRECIOSA E COM UMA FLOR DE LARANJEIRA - ROUBADA À LARANJEIRA EM FLOR NO POMAR - NAS MÃOS, SORRIU PRINCIPESCAMENTE E DISSE ASSIM PARA A SOFIA PRINCESA: '"- MINHA DOCE SOFIA, EU A AMO DESESPERADAMENTE. DEIXE O SEU TOMAZ, SEPARE-SE DELE E CASE-SE COMIGO."

SOFIA FICOU OLHANDO PARA ISAAC, E ENTÃO COMEÇOU A SORRIR.

UM SORRISO MEIGO, CALMO, ADULTO, ABSOLUTO.

FICOU ALI, SORRINDO ASSIM, DESPEDAÇANDO A FLOR DE LARANJEIRA POR ALGUNS MILENARES SEGUNDOS, ENQUANTO UMA NUVEM, BRANCA MESMO, DESFILOU POR SUA MENTE, CARREGADA DE LEMBRANÇAS, SONHOS APENAS SONHADOS, ILUSÕES QUE A ILUDIRAM, COISAS, FATOS E PESSOAS QUE NÃO COMPARTILHARAM DO SEU MUNDO, E SETECENTOS E TRINTA E TANTOS - NÃO SABIA AO CERTO QUANTOS - DIAS DE UM CASAMENTO DE BRUXA COM UM SAPO DESENCANTADO.

DEIXOU ISAAC PLANTADO NO CANTEIRO DE HORTÊNCIAS E SORRINDO AINDA, ENTROU NA MANSÃO DEIXANDO A PORTA ABERTA.

ENQUANTO CÉLIA AMARAL REPASSAVA TODA ESSA VIDA DE SOFIA NA MEMÓRIA, ANTÔNIA E SIMONE DISPUTAVAM NAS INTERROGAÇÕES SOBRE O SUMIÇO DE TOMAZ, POIS O SUMIÇO DE SOFIA, JÁ FORA, LOGICAMENTE, ESQUECIDO POR ELAS.

CÉLIA AMARAL INTERROMPEU AQUELE MATRAQUEAR SOCIALITE E DISSE COMO SE NÃO HOUVESSE HAVIDO PAUSA ALGUMA NA CONVERSA BANAL QUE ESTAVAM TENDO SOBRE SOFIA NAQUELE CHÁ DAS CINCO:

-FIQUEI SABENDO, COMO SEMPRE DE FONTE SEGURA, QUE SOFIA SAIU DE CASA A ALGUMAS SEMANAS ATRÁS, NUMA MANHÃ BEM CEDINHO AINDA, NUM TÁXI, CARREGANDO UMA MALA PEQUENA.

SEM DAR A MENOR ATENÇÃO PRA QUEM QUER QUE FOSSE, ENTROU NO TÁXI E DEU O ENDEREÇO DE UMA ESTAÇÃO DE TRENS.

DESCEU DO TÁXI, ENTROU NO BANHEIRO E NUNCA MAIS SAIU DE LÁ.

- O QUÊ?! SOFIA ESTÁ SUMIDA POR QUE FOI MORAR NO BANHEIRO FEMININO DE UMA ESTAÇÃO DE TRENS?! - ASSOMBRA-SE SIMONE, QUE PEGA DE SURPRESA, NEM TENTOU SOAR MAQUIAVÉLICA.

- OH! SIMONE, PELO AMOR DE DEUS! É CLARO, QUE NÃO, SUA TONTA. ELA DESPISTOU ENTRANDO PELO BANHEIRO E SAINDO PELA JANELA, COMO NOS FILMES, NÃO É MESMO, CELINHA?

- NÃO, ANTÔNIA. SOFIA NÃO FUGIU PELA JANELA. MINHA FONTE GARANTE QUE ELA SAIU USANDO UMA PERUCA, LENTES DE CONTATO E ROUPAS SEM ASSINATURA, COMPROU UMA PASSAGEM PARA QUALQUER LUGAR E DESCEU NUMA ESTAÇÃO QUALQUER ANTES DE CHEGAR AO QUALQUER LUGAR DE DESTINO.

DAÍ, POS O PÉ NA ESTRADA, SORRINDO UM SORRISO DE SOFIA SOLTA, SEM EIRA E NEM BEIRA, SEM ACREDITAR NUNCA MAIS EM CONTOS DE FADAS, MAS COM CERTEZA, ACREDITANDO EM FINAIS FELIZES, COMO O SEU.

TOMAZ ANDA SUMIDO PORQUE ESTÁ ATRÁS DELA DESESPERADO, PORQUE PRECISA QUE ELA ASSINE ALGUNS PAPÉIS. SÓ NÃO SEI AINDA QUE PAPÉIS.

MAS, CÁ PRA NÓS, QUE ISSO NÃO SAIA DAQUI, ACHO QUE TOMAZ VAI DEMORAR UM CERTO TEMPO ATÉ ENCONTRAR SOFIA QUE ALIÁS, A ESSAS ALTURAS, JÁ DEVE TER SE TRASNFORMADO EM ALGUMA OUTRA PERSONAGEM. SABRINA, QUEM SABE?

MINHA FONTE GARANTE QUE SOFIA SENTIA UM PAVOR ENORME DE SAPO E AO QUE PARECE, O NOSSO DEUS, DE PRÍNCIPE ENCANTADO TRANSFORMOU-SE NO MAIOR SAPO QUE SOFIA PODERIA TER ENGOLIDO.

ELA DEVE ESTAR TRATANDO DE VOMITÁ-LO OU DEIXÁ-LO EM ALGUMA FOSSA BEM DISTANTE DAQUI.

AS TRÊS "CONFIDENTES" CAÍRAM NA RISADA E TRATARAM DE DEGUSTAR APROPRIADAMENTE AS DELÍCIAS DAQUELE CHÁ REQUINTADO.

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EM UMA CIDADEZINHA QUALQUER, UMA GAROTA COMUM, DE CABELOS CURTOS E PRETOS, OLHOS TAMBÉM PRETOS, USANDO CALÇA JEANS, CAMISETA DE MALHA E TÊNIS COMO SE FOSSE UM UNIFORME NECESSÁRIO PARA PERMANECER NA GRANDE EMPRESA DA VIDA, CONSTANTEMENTE SORRIA UM SORRISO DE SABRINA SÁBIA E SORRATEIRAMENTE FELIZ, QUE LIA COM MUITO PRAZER TODOS OS LIVROS DE FICÇÃO CIENTÍFICA E CULINÁRIA TRIVIAL QUE PODIA. E ELA PODIA MUITO POIS TRABALHAVA EM UMA BIBLIOTECA, AFINAL, PRECISAVA GANHAR O PÃO DE CADA DIA.

SÓ NÃO LIA NOS FINAIS DE SEMANA, PORQUE OS AMIGOS SEMPRE A CONVIDAVAM PARA CINEMAS, RESTAURANTES, BARZINHOS, PIQUENIQUES. É QUE ELES GOSTAVAM MUITO DO SEU JEITO DE CONTAR E OUVIR HISTÓRIAS, MESMO QUE FOSSE DAS SUAS PRÓPRIAS VIDAS.

SABRINA SÁBIA E SORRATEIRAMENTE FELIZ, NÃO ESPERAVA POR NENHUM PRÍNCIPE ENCANTADO, POIS ELA GUARDAVA EM SEGREDO, BEM ESCONDIDA NO FUNDO DA ALMA, UMA VARINHA DE CONDÃO QUE TRASFORMAVA TODOS ELES EM HORRENDOS SAPOS COAXANTES.

E A SUA VARINHA TEM UM NOME INVENTADO POR ELA MESMA, NUM MOMENTO PARTICULAR DE UMA OUTRA VIDA QUE VIVERA.

ELA DEU NOME À SUA VARINHA, NUMA TARDE EM QUE UM SAPO COAXAVA IMORALIDADES COM ALGUNS COMPANHEIROS E UM OUTRO SAPO TENTAVA SE DISFARÇAR NAS VESTES DE UM ROMÂNTICO E AUTÊNTICO PRÍNCIPE, PEDINDO EM CASAMENTO UMA FADA ADORMECIDA QUE SONHAVA QUE ERA PRINCESA. MAS, ELA, COM O ESTRONDOSO PEDIDO DE CASAMENTO, ACORDARA E CORRERA EM SOCORRO DE SI MESMA, INVENTANDO AQUELA VARINHA MARAVILHOSA QUE RECEBEU O LINDO NOME DE ...

REALIDADE.

18/02/2010

Isabel Damasceno
Enviado por Isabel Damasceno em 18/02/2010
Reeditado em 08/06/2011
Código do texto: T2092744
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