O Padrinho
Não pensou duas vezes, disse tudo o que ia na mente, assim sem pensar de uma só vez.
Ela ficou atônita, sem fala, não esperava por uma reação destas, ele sempre fora tão calmo, tão gentil, seguro de si, tanto que por vezes irritava.
Eram amigos a muito tempo, não entendia por que ele tivera essa atitude.
Comunicou que ia se casar e contava que fosse seu padrinho, aliás queria que substituísse seu falecido pai. acreditava que fosse sentir-se honrado. Mas não, ficou bravo, nervoso, falou uma porção de bobagens, nunca antes o vira assim, transtornado fora de si. Saiu deixando-a só em seu apartamento.
Sentia-se tão a vontade quanto em sua casa, pensou bom depois ele se acalma e a gente conversa.
Preparou uma bebida, enquanto procurava algo para comer, pôs tudo num prato, pegou o copo e foi ao quarto que ele transformou em escritório.
Começou a fuçar nas coisas em cima da mesa. Tudo o que escrevia tinha mania de enviar a ela primeiro, só depois que ela lesse e desse sua opinião é que mandava para publicar. De repente viu um calhamaço com seu nome em cima, pegou e começou a ler.
Conforme lia, mais encontrava na história características suas, deu conta que o nome escrito não era para ser endereçado a ela, mas era o título.
Ficou preocupada, não queria que ele ao chegar, pensasse que ela estava bisbilhotando, fuçando em algo que não era para ela.
Lendo algumas páginas achou estranho como ele a conhecia tão bem, melhor que ninguém. Conheciam-se desde crianças, estudaram juntos do primário ao vestibular, depois cada um seguiu caminhos diferentes. Sem perceber, estava lendo e recordando coisas do tempo da escola que só os dois sabiam e que ele tão bem descrevia, aos poucos foi dando conta do amor que nutria por ela, incrível ela nunca notou.
O rascunho do livro era um romance, os personagens eles próprios, agora entendia o que tinha acontecido com ele, numa das páginas a pede em casamento.
Confusa, sem saber como lidar com a situação o adorava, mas nunca pensara nele como seu namorado, marido, chegara a sentir ciúmes dele em algumas ocasiões, mas achava que era normal, como ciúmes de irmãos. Não queria perder a amizade dele, resolveu ficar lá ate que chegasse, falaria com ele com certeza iria entender.
Acordou com um baita barulho, dormira no sofá da sala, acendeu a luz, ele estava caído no chão completamente bêbado, correu a ajudá-lo, era muito peso para ela, com muito esforço conseguiu levá-lo até o banheiro, de roupa e tudo colocou-o debaixo do chuveiro gelado, deixou lá sentado. Foi a cozinha, preparou um cafe forte, voltou ao banheiro, fez com que tomasse tudo e depois vomitasse até não sobrar nada no estomago.
Quando acordou, sua cabeça doía, seus olhos demoram a abrir, parecia que tinha sido atropelado, gemia, ouviu uma voz conhecida "Muito bonito, não tem vergonha não, isto é coisa que se faça". Era ela.
-Oi! Que que se tá fazendo aqui tão cedo?
-Como tão cedo? Ela disse, já são duas horas da tarde e para seu governo, não fui embora para casa desde ontem, fiquei aqui cuidando do bebezinho. Fiz almoço, vou trazer um prato para você.
Antes que pudesse falar alguma coisa ela saiu do quarto.
Esperou ele terminar de comer, recolheu o prato de suas mãos e disse: "Bom bêbe, agora temos que conversar, comece"
-O que quer que eu diga? perguntou ele.
-Quero que fale sobre o, livro que esta escrevendo e que tem meu nome.
-Ora é apenas um livro e que nem sei se vou publicar.
-Quer dizer que não é sobre nós? falou ela.
-Não, imagine, coloquei seu nome por colocar e caraterísticas para que o personagem fosse o mais verídico possível, nada mais, gosto de você como se fosse minha irmã.
-Sendo assim então fico aliviada, aceita então ser meu padrinho e me levar ao altar?
-Lógico! respondeu ele, vou me sentir honrado.
Ela foi embora aliviada, o conhecia muito bem, sabia que falava a verdade, mesmo assim por um momento, gostou de pensar que ele a amava, descobriu nela um sentimento por ele que não sabia que tinha.