A JUIZA

Era noite,

estava dirigindo, voltando do trabalho ,

trabalhei tarde , sou gerente numa loja de tecidos e fizemos inventario anual.

meia noite ja passou.

nao sei como mas meu carro decidiu tomar o volante.

Com calma e sem inibicao, dirigiu-se aos veiculos estacionados na rua.

Bateu.

Ate' eu conseguir aplicar o breque,

este sim, ainda estava nas minhas maos,

ou melhor, no meu pe',

meu carro amassou 5 estacionados.

Meu susto e sensacao de falta de controle me nausearam.

Sai do carro, esperando a multidao se juntar mas nao havia uma

alma viva na rua.

Institivamente tirei meus cartoes de visita e deixei um em cada

para-brisa dos amassados.

Cheguie em casa com o vectra chaqualhando, meio chocado

e tremulo.

Procurei os papeis do meu seguro para contatar meu agente

e avisa-lo sobre as batidas. Sempre tive seguro total.

Fiquei palido.

Olhando a data, vi que o seguro venceu ha 10

dias atras.

No meio da noite...paralisei.

So' a cabeca funcionava correndo pensamentos...

o que fazer...?

Vai custar uma fortuna , cinco maquinas mais a minha.

Talvez vender meu carro...?

Mas ai como chegar ao trabalho?

De onibus sao umas 3 horas.

No dia seguinte tomei coragem.

Entrei na sala do meu Chefe para lhe contar e pedir um emprestimo. Retornaria o dinheiro dos salarios futuros.

Antes de ter a chance de abrir a boca , o homem me passa um

envelope branco.

Numa voz meio triste diz:

- a loja esta perdendo dinheiro, temos que cortar o numero de

- funcionarios drasticamente.

- Sinto Muito mas esta' despedido...

Caiu o mundo.

Um ano de trabalho nao me da indenizacao nenhuma.

Os telefonemas dos donos dos carros batidos chegaram na mesma

noite.

- Fui despedido, nao tenho como pagar eu disse meio dopado de medo.

- Entao vou entrar na justica, veio a resposta do outro lado da linha.

Este refrao se repetiu ate o ultimo dos carros batidos.

Meu desespero e medo competiam, cada um tentando vencer a luta para se apossar das minhas entranhas.

Ate' chegar o dia do processo na justica, dormi poucas horas por noite.

Algumas foram noites em claro.

Os dias eram uma corrida desesperada a procura de um outro emprego.

Nao achei.

No tribunal, sem recursos para um advogado, decidi que me representaria sozinho.

A sala estava quase cheia.

5 advogados, 5 proprietarios dos carros batiods,alguns acompanhados pela esposa ou irmao.

Estudantes de direito.

Meia duzia de curiosos.

Os advogados e proprietaris olhando para mim esfomeados, como se eu fosse um frango assado.

A Juiza entrou. Tipo assertivo. Um som de impaciencia. A cara brava.

Todos sentamos.

Apos ter lindo o nome de todos os acusantes e numero dos processos,

finalizou:

- contra o Sr. Antonio Da Silva Ribeiro.

Antonio da Siva Ribeiro, naquele dia,

infelizmente era eu.

- Sr Ribeiro, quanto as acusacoes que estao a minha frente, o que

tem a dizer?"

Quase congelado, respondi:

- Prezada Dra. Juiza....temos, creio, eu e a Dra.,

- algo em comum...

- a Dra. nao sabe o que eu vou dizer,

- e nem eu ...

Ela nao conseguiu disfarcar o sorriso e continuou:

- O Sr. bebeu naquela noite ?

- Nao Dra. ,sou solteiro, nao bebo, nao fumo e nem buraco jogo.

Minha voz saiu mais que meio muito tremida, eu estava palido.

- Sr. Ribeiro, percebo que estas muito tremulo e amedrontado, quer

- um copo d'agua ?

- obrigado Dra., na verade nunca tive medo de palco,

- esse palco aqui, tambem nao me amedronta.

- O que me apavora e' a plateia.

outro sorrisinho.

- O Sr. sabe que os danos causados passam dos 10.000 reais ?

- Sei.

- Estou desempregado, fui despedido no dia seguinte ao acidente,

- estou dia a dia procurando um emprego mas por enquanto vivo

- do que economizei nos ultimos anos de trabalho.

Senti a simpatia da Prezada.

Apos todos os ferozes discursos dos cinco "prezados colegas", entendi que estavam demandando nao so' os danos causados mas tambem dias

perdidos em oficinas de concerto e o pagamento das despesa juridicas de cada um.

Terminarm.

A prezada Juiza olhou pra mim. Eu estava mais branco do que cal.

Ela passou aos advogados e perguntou :

- os donos, estavam no carro quando da batida ?

- Nao Dra. responderam os advogados , um a um.

- Entao como descobriram e localizaram o Sr. Ribeiro ?

- Ele deixou seu cartao de visita no para-brisa foi a resposta

- de todos.

A Juiza Saiu para deliberar.

Voltou depois de trinta minutos com o protocolo da decisao.

Comecou a ler: - Fica decidido por este tribunal que o Sr. Ribeiro

- pagara' do que economizou nos anos trabalhados,

- 10 reais por mes , 2 reais a cada um

- dos proprietarios .

- Fica ainda decidido,

- que no momento que o Sr. Ribeiro

- estiver empregado, ele pagara' 10% do

- seu salario cada mes, sendo que os 10%

- se dividirao 2% a cada um dos lesados.

Bateu o martelinho de madeira e proclamou:

- Caso encerrado....concluiu e fechou o fichario.

Os advogados furiosos e o resto da multidao sairam da sala protestando dramaticamente.

Eu nao consegui levantar da cadeira.

Um suspiro de alivio tomou posse de mim como se eu nao tivesse respirado ha meses...eu estava confuso e perguntei a mim mesmo

- o que aconteceu aqui ?

A sala ja estava quase vazia.

A Juiza arrumando as pastas levantou.

Sem palavras, me fez um sinal para que me aproximasse do podio.

Quando cheguei perto, agachou-se e e numa voz sorrida e baixinha

disse:

-deixe comigo um dos seus cartoes de visita...