SURPRESA DEPOIS DA MORTE.
SURPRESA DEPOIS DA MORTE.
Mário, casado havia muitos anos, vivia morna vida com a mulher.
Sem filhos, não se espalhavam muito em termos de distração, ou melhor, nada faziam, quando o contrário devia ocorrer, já que a liberdade era total.
Magda, sua mulher, tentava insistentemente algumas saídas, pequenas fossem, viagens e tolas distrações, coisas comuns a qualquer mortal.
Mas Mário era resistente, tudo recusava, mesmo um simples almoço, o famoso “comer fora”, ou uma boba viagem para a serra ou praia.
Era um fortíssimo palavrão mencionar tais desejos.Viagem ao exterior seria motivo de sérias desavenças, Mário tinha horror a avião.
Magda, fêmea contida, exibiam seus olhos, estava sequiosa; nas entrelinhas demonstrava sua atitude na rua onde evitava falar com homens conhecidos e tentava se livrar desses encontros casuais pensando o que outros iriam pensar; era visível isto e sintomático.
Como sempre estava desacompanhada de Mário. Quem olhava dizia: esta é a verdadeira Amélia, leva uma vida de monja e dedica fidelidade gigantesca a quem nada lhe retribui.
Magda ocupava o tempo com bobagens a que dava extremo valor, pois quem está sempre desocupado e tem consciência desse lado negativo humano, sem utilidade, necessita de ocupação ou mostrar que a tem, ao menos para dizer a si que faz alguma coisa.
Mas diante de sua situação precisava também dizer aos outros que fazia isso e aquilo, e alardeava os muitos compromissos que não tinha. Era motivo de risos pelas colegas quando se ia.
Mário era agnóstico, não era um ateu completo nem tinha condições de assimilação do que seja transcendentalismo. Sua mente era comum, nada de maior ciência conseguiria penetrar, ficava no ramerrão.
O outro lado para ele era incógnita completa, até mesmo por falta de pequenas revelações. Ficava no nada e em breves olhares para os céus, sempre duvidando em demasia embora não confessasse. E achava que nada aconteceria com ele, sua argamassa era de frágil entendimento.
Um dia se foi para o outro lado. Lá chegando encontrou todos que lhe tinham morrido e ficou encantado e disse então, se Magda soubesse como aqui é bom viria logo.
Os que o receberam falaram: é permitido por breves instantes ver o que se passa de onde você veio, um mês depois de sua morte, mas uma só pessoa você poderá ver em que situação está, se tiver muitos filhos, um só, se tiver pai ou mãe, um ou outro, se tiver mulher, só ela.
Mário respondeu na hora: QUERO VER A INFELICIDADE DE MAGDA!
Espero que passe esse mês rápido!
E SURPRESA: Abertas as cortinas um mês após, Magda toda arrumada namorava desenfreadamente, embora “coroa”.
Como dizia por vezes, meio sem jeito, entre os dentes, na frente de Mário, “namorar é muito bom”.
Preparava viagens, gastava em tudo que via, ou seja, vivia a vida que queria e não pode viver, e que na sua anterior discrição forçada, armazenava para o futuro o que agora vivia exuberantemente.
Mário surpreso e triste viu como foi tolo durante sua vida e pediu: FECHEM RÁPIDO ESSA CORTINA. CHEGA DE SURPRESAS DEPOIS DA MORTE.