RESQUÍCIOS DE UM PASSADO
Manuela tinha apenas cinco anos e já era uma criança cheia de traumas e complexos. Em sua tenra idade já tinha passado por experiências que muitos adultos ainda não tinham experimentado.
Filha de família numerosa e sem posses seus pais já não podiam sustentar mais uma boca. Ainda bebê foi deixada na porta de uma casa de família. Era uma família abastada, sua mãe acreditava que ali não faltaria o pão que tinha que dar aos doze irmãos que reclamavam de fome. E que nunca os conhecera.
Porém o que aquela mãe não sabia era que exatamente naquela mansão com tanta fartura existisse tanta pobreza. Pobreza de amor, pobreza de piedade, pobreza de caridade. Ali mesmo Manuela passou sua infância, não como filha amada, mas como criada. Desde pequenina tinha que lavar, passar, limpar, dar comida aos cães. Seu pai de criação muitas vezes a buscava com objetivos escusos, não olhava como filha, sim como MULHER. No que Manuela felizmente conseguia fugir a tempo. Levantava antes de clarear o dia e era a última a dormir, somente se dedicando ao trabalho daquela casa, atendendo a todas às ORDENS que lhe davam. Dentro de seu coração uma grande tristeza por não ter amor de filha, não ter família de verdade. Sentia que não tinha um lar, somente uma casa. Embora com tantas dificuldades, aprendeu a tocar belas melodias ao que era invejada pela irmã de criação a quem também servia. O tempo passou Manuela cresceu, tornou-se mulher e um dia aquele lugar deixou. Chegara o dia do casamento pensou ter encontrado a tal felicidade, porém o que Manuela não sabia era que ali iniciaria mais um suplicio. Foram anos de sofrimentos de maus tratos, de dor, mas de dor do espírito, de falta de amor, de falta de carinho e percebendo que embora o tempo passasse tudo se repetia, nada mudava, sentia que nascera para sofrer. Daquele casamento teve quatro filhas que igualmente cresceram. Uma delas Barbara parecia ter a mesma sina que Manuela, parecia que sua história era revivida na imagem daquela filha. Barbara era boa esposa boa mãe, porém de seu marido somente recebia desprezo, desrespeito, abuso de todos os sentidos, sentia-se triste e humilhada, tudo fazia por manter uma vida correta com o marido, mas este simplesmente a ignorava, a humilhava. Não existia amor naquele coração de homem, somente o desejo de tê-la como mulher. A imagem do pai passava em sua memória como um filme: Um homem autoritário e rude. Carregava consigo as marcas de sofrimento impregnadas no corpo e na alma. Aos dezessete anos ouvira de seu genitor: - Ou termina o namoro ou casa. Apaixonada casou-se. Dizia sim a tudo que aquele homem lhe ordenada. Sentia-se perseguida humilhada, sem amor, uma enorme angústia assolava seus dias e mesmo depois de casada a perseguia e a torturava com suas ordens e cobranças. Teve a mesma sorte que a mãe Manuela. Dedicara-se ao marido agradando e fazendo tudo que este lhe impusera, percebera que aquele casamento era um erro, que o amor de seu marido não era real. Caíra numa armadilha que o destino lhe pregara. Tempos depois conseguiu desvencilhar-se daqueles homens e tinha encontrado a tão sonhada liberdade. Agora podia viver, sorrir e tentar encontrar a felicidade. Porém uma coisa jurou a si mesmo: Nunca mais iriam lhe impor, nunca mais receberia ordens, dali para frente seria forte, lutaria para viver a vida que sua mãe e ela mesma não puderam viver por estar atrelada a um homem que só lhe trouxera sofrimentos.
Porém com aquilo tudo percebera que o convívio com outras pessoas era difícil. Receber ordens era coisa que não conseguia e conseguir um problema no trabalho era fácil. Seu coração gritava exigia respeito e dignidade. Tinha que dizer o que sentia. Não podia calar. Precisava dizer o que pensava, ou seria mais uma vez humilhada e desprezada, não poderia perder agora era somente ela. Que trazia consigo “Os RESQUICIOS do passado”. Estes eram por demais fortes. Era a luta entre sua vida, sua liberdade ou o retorno ao sofrimento, à escravidão em que ela e Manuela passaram décadas e décadas.
Anos e décadas passaram-se e finalmente toda aquela situação de sofrimentos e angústias desapareceram. Manuella e Bárbara hoje vivem uma situação muito diversa que aquela contada nesta história, podem respirar aliviadas, afinal tudo não passa de resquícios do passado.
Onde o passado encontra-se onde deve estar, no passado e o presente se tornou o maior PRESENTE onde a felicidade existe. Manuella e Bárbara conseguiram superar todos os traumas e encontrar a felicidade.