BATENDO NO TAMBOR
BATENDO NO TAMBOR
Ricarda era casada e trabalhadora, vivia sempre as voltas com seus deveres de esposa e mãe e ainda arranjava tempo para atender encomendas de doces, salgados, bolos e tortas para fora; como trabalhava bem, sua clientela era grande e serviço não lhe faltava; muitas vezes as horas do dia não eram suficientes e tinha que completar com a noite.
Pessoas existem que trabalham por necessidade apenas e se cansam porque não gostam de trabalhar, mas Ricarda nunca se cansava porque trabalhava sempre com alegria, adorava o que fazia e nunca reclamava do trabalho, seus dias eram preenchidos pelos filhos e pela alegria de estar sempre com boa saúde e pronta para tudo o que tinha para fazer.
Honesta ao extremo, ela detestava falsidades, mentiras e coisas de má fé, confiava nas pessoas em geral e no seu marido em particular e durante anos sua confiança foi bem empregada, porque o Arnaldo parecia um homem respeitável, mas para confirmar o ditado que diz que homem serio ainda está por nascer, ele resolveu aprontar no carnaval.
Naquele ano o carnaval em Campo do Alto, cidade onde Ricarda vivia, estava prometendo ser muito animado e ela com o marido e um casal de amigos, reservaram uma mesa no Clube Campense e pretendiam se divertir muito nas três noites da festa; na primeira noite tudo correu bem e os dois casais brincaram animadamente a noite inteira.
Na segunda noite de folia, Arnaldo e o amigo Sebastião, colocaram as esposas na mesa, pediram refrigerantes, salgadinhos e disseram que iam dar uma volta, saíram por volta das vinte e uma horas e as duas ficaram lá olhando as pessoas se divertirem, porque senhoras distintas não podiam dançar sem os maridos e o tempo passando e eles sumidos.
Lá pela meia noite, Ricarda disse: comadre Zita, vamos sair e procurar aqueles dois, mas a assustadiça Zita não quis ir com medo do marido, Ricarda saiu sozinha, andou por perto do Clube e não os encontrou, ai se lembrou de um baile chamado Baile dos Pretos, que acontecia em um salão afastado do centro da cidade e ela foi até lá.
No tal salão tinha uma grande janela que dava para a rua, Ricarda olhou para dentro e viu Arnaldo e Sebastião batendo em dois tambores em volta de duas mulatas que sambavam para eles; ela ficou um bom tempo apreciando o espetáculo cheia de raiva, eles estavam tão distraídos com o rebolado das mulheres, que não deram por sua presença.
De repente Arnaldo largou o tambor, abraçou e rodou a mulata e então viu Ricarda na janela, o susto foi tão grande que ele soltou a moça que caiu esparramada no chão, correu para fora e não encontrou Ricarda, foi correndo para o clube, mas só encontrou a comadre Zita; foi depressa para casa e lá chegando foi recebido com um balde de água.
Furiosa Ricarda jogava baldes e mais baldes de água pela janela; ensopado ele tentava se explicar, mas ela encerrou o assunto gritando: volta para suas mulatas, seu sem vergonha, porque aqui hoje você não entra e fechou a janela; os vizinhos acordaram e quase morriam de rir dos apuros de Arnaldo, que foi obrigado a dormir no passeio em frente a casa.
Na manhã seguinte, ele estava com um resfriado enorme, tossia e tremia com quase quarenta graus de febre; quando Ricarda abriu a porta ele entrou, levando uma surra de vassouradas, foi mandado se deitar no quarto de hospedes, onde ficou de castigo por dois meses e como a cidade era muito pequena, a historia se espalhou e o povo se divertiu muito a custa do batedor de tambor.
Maria Aparecida Felicori{ Vó Fia}
Texto registrado no EDA