Contos da vida real

Contava o meu sogro,

que havia se metido numa “camisa de sete varas”,

quando há quase um século atrás, fora atraído para trabalhar

nos seringais amazônicos.

Naquela época, ali era fim de mundo mesmo o “Inferno Verde”!

Nosso herói, corajoso e decidido, começou a traçar um plano de fuga:

fez regime por algum tempo, conseguindo economizar um pouco de dinheiro.

Apesar de corajoso, aquele mundo espantoso e quase impenetrável,

era de arrepiar os cabelos!

Mas não tinha saída, era viver ou morrer. Optou por tentar viver.

Tinha bom senso de direção. Era um estrategista!

A duras penas, se saiu da enrascada, uma verdadeira epopéia!

Ontem, assisti pela televisão a um filme documentário.

O título era exatamente:

“Camisa de sete varas”!

O cinegrafista teve a idéia de reunir alguns sobreviventes destas aventuras para narrarem o que acontecera com eles.

Contaram que eram contratados por certos gerentes que lhes faziam

falsas promessas de emprego honesto, com hospedagem, salário, etc.

Desempregados, famintos e desnorteados, qualquer aceno era uma oportunidade de salvação.

Quando estavam perto de chegarem ao local do trabalho o cínico gerente perguntava:

vocês já se meteram em camisa de sete varas? Não? ”Pois então estão acabando de entrar numa”!

Chegando ao local, no meio de uma mata fechada, só havia um barracão onde nunca conseguiam pagar o que consumiam!

“Quem trabalhava no machado, "as veis", passava um dia para derrubar um pé de pau! “Não tinha condições, morria logo”.

_O trabalho escravo hoje é pior do que o de antigamente que era só no canaviá.

“Comecemo fazer plano prá fugir”: arrumamo um pouco de jabá, duas caixas de fósfo, e nossas armas: garruchas ,foices e facões...

Corria o risco de se perder na mata ou morrer. Quatro de nossos companheiros sumiram, nunca mais ouvimo falar deles. Seguíamos a imagem (à margem) do rio, sete morreram! Teve um que se preocupou tanto com a “ficada do irmão” que ficou doido. Passemo dez dia andano "e não encomtremo o caminho"!

_Comia jabuti cru e palmito; bebia água que escorria do cipó cortado. Uns dizia prús outros: "tenha fé em Deus", tenha fé! Deus criou a natureza com tudo que o homem pricisa, é só procurá!

“Cansados , sem puder mais andar”, fizemo uma jangada

improvisada e assim embarquemo; remava com os braços.

Depois de três dias remano, enganchou num pau e nós perdemo todo o trabalho!

_De noite a gente ficava encostado nos paus conversando uns com os outros até muito tarde, um contava piada, “foi manero, foi divertido”!...(tristeza)!

Um deles, jovem, mas já bem desfigurado falou: “Eu queria que me recompensassem de minha vida que passou”!

O principal assim se expressou: “Nós nunca nos juntemo prá falar disso prá não sofrer novamente”.

_É no Dezoito de Bragança e no Pará qui mais tem“trabalho escravo.”

Alô, Autoridades! Tem muita gente agora voltada para a tragédia do Haitii de lá,

que tal voltarmos nossos olhos e colaborarmos com os nossos daqui?

Vale a pena ver o documentário!

zaque
Enviado por zaque em 12/02/2010
Reeditado em 06/04/2010
Código do texto: T2083787