A Despedida.
“Existem coisas que são impossíveis, se o são e sabemos disto, por que insistir nelas?
A montanha é alta, muito alta, se não vamos conseguir subir ao topo, por que esperar estar lá em cima para desistir, a queda pode ser fatal.”
Estava viajando, sua cabeça não conseguia pensar direito, tinha medo de tomar a decisão correta, mas sabia que cedo ou tarde teria que tomá-la.
Ela não saia de sua mente, quando mais evitava mais nela pensava, era quase uma obceção.
Conhecera a quase um ano, em uma de suas muitas viagens a trabalho. Casado, bem casado, esposa bonita, inteligente, ganhando tão bem quanto ele, padrão de vida elevado, um filho, não havia motivo para gostar de outra pessoa, nem mesmo aventuras.
Teve que ir a Porto Alegre, alem de realizar uma auditoria para uma empresa contratada, teria que participar de uma palestra sobre o seu ramo de negócios, patrocinada por um dos muitos clientes de sua empresa. Não ir era quase falta de educação, para dizer o mínimo.
Foi. Até que estava gostando. Muitos que ali estavam exerciam a mesma profissão e o bate-papo, correu solto e agradável. Num dado momento, juntou ao grupo em que estava, um pessoal de outro estado, Minas Gerais, para ser mais exato. No meio deste grupo de pessoas estava Helena.
No meio da conversa, alguém lembrou que estavam conversando a tempos e ninguém tinha se apresentado a ninguém. De pronto começamos a nos apresentar.
Depois de algum tempo, as pessoas foram se dispersando e eu também achei que era hora de dar tchau e me recolher, pois no dia seguinte viajaria de volta.
Ao me dirigir à saída e pedir um taxi, notei que Helena estava também a espera de um, começamos a conversar e descobrimos estarmos hospedados no mesmo Hotel, bom pegamos o mesmo taxi.
No caminho, tivemos conversas sobre os mais variados assuntos, chegamos tão rápido, que decidimos continuar a conversa no bar do hotel.
Lugar aconchegante, musica ao vivo, piano e um cantor excelente. Sentamos pedimos algo para beber e também para mordiscar. Depois de um certo tempo, perguntou se eu dançava, disse que sim e muito bem. Falou que seu marido era ruim de dança e que ela adorava, vamos dançar? Me convidou. Vamos, respondi.
E realmente, dançava muito bem. De uma musica, acabamos dançando varias.
Ao voltarmos a sentar, disse que eu não tinha cara de quem dançava tanto e tão bem. Disse que ela ao contrario, tinha cara de quem dançava muito e dançava mesmo.
Bom a dança descontraiu nossa conversa, nos fez rir e falar de tudo, menos de trabalho. Quando nos demos conta, estavam virando as cadeiras por cima das mesas, o cantor já tinha a tempos ido embora e só nos esperavam para fechar o bar.
E foi o que fizemos, pagamos e fomos em direção aos nossos quartos, mais uma coincidência, mesmo andar. Levei-a até a porta do seu quarto, ela abriu e perguntou se não queria tomar um último drinque, que a sua míni geladeira estava estocada. Topei. Entrei e quando percebemos, era dia, tínhamos perdido a hora de embarcar, estávamos nus, na cama e aí? E agora?
Ficamos ali um tempão, sem saber o que fazer e dizer um ao outro, era novidade para ela e para mim.
Decidimos fingir que nada tinha acontecido.
O imponderável, entrou no meio da história. Por causa de um problema, ocorrido num avião em algum aeroporto, não haveria conexão direta, a não ser amanhã de manhã, quer dizer se quisermos pegar um vôo direto, teríamos que passar mais um dia e uma noite no hotel, por conta da empresa aérea.
Bom, acabamos ficando. Informamos nossas empresas, nossas famílias e fomos tomar café no restaurante do hotel.
Passamos o dia e a noite no quarto. Quando saímos para viajar de volta no dia seguinte, estávamos apaixonados.
Não fizemos nenhum plano, apenas deixamos rolar. Durante quase um ano, foi maravilhoso, até o dia em que a vi com seu marido. Eu era o intruso, mas me senti o traído, fiquei com ciúmes, ao imaginar ela o beijando, amando, sendo possuída por ele. Decidi que não mais a veria.
Aquentei apenas dois dias sem falar com ela, no terceiro quando ela ligou atendi. Como sempre sua voz além de me acalmar, fazia contar tudo a ela, falei tudo o que senti, e de como me sentia idiota de estar falando a ela. Disse que me compreendia, que com ela aconteceu o mesmo quando viu as fotos minha e de minha esposa, na praia se beijando, que também tinha ficado com ciúmes e que tinha ciúmes de todas as mulheres com quem eu trabalhava, por poderem ficar a meu lado e ela não.
Ambos entendíamos, o fato de estarmos casados a mais de vinte anos, filhos de ambos os lados, vida estável de casados, já não éramos crianças, para nós o tempo já tinha passado, nosso destino era ao lado de outras pessoas. Ficaríamos dessa maneira enquanto tudo estivesse bem para todos os lados, não só os nossos mas da família também.
Mas eis que, como em toda a história, minha esposa começou a me achar diferente, sorridente, alegre, feliz, ao que respondia se não era bom sinal de que tudo ia bem em casa. Ela disse me a mim parece que tens outra mulher.
Esta louca, respondi, uma só não basta imagine duas. E dei risadas. Mas o que queria mesmo era dizer em alto e bom som" É verdade e eu amo outra pessoa". Coragem é o que me faltou, não de ir embora de casa, mas do que fazer depois. Não se vive de amor nem se faz loucuras por amor, apenas em novelas e filmes. A realidade faz com que aprendamos que estabilidade e conforto, para não falar dinheiro, valem muito mais.
Ao telefonar para Helena, contei o que minha esposa tinha dito, ao que ela disse que seu marido também andava estranho perguntando coisas aparentemente sem nexo, ciumento, coisa que nunca antes tinha sido.
Resolvemos então terminar. Sairíamos mais uma vez, e nos daríamos tchau.
Assim fizemos, nos encontramos e desde então temos nos dados tchau uma dezena de vezes. Tchau