A TAMPA DO FOGÃO. - O MISTÉRIO - LIA DE SÁ LEITÃO – 07/ 01/2010.
Toda ação provoca uma reação. Farei uma pequena introdução para que o amigo entenda o motivo pelo qual escolhi esse título, estranho, nem tanto bizarro porém curioso.
Antes eu e a amiga de apartamento morávamos no centro de Cascavel, perto de tudo, Igreja, Colégio, supermercado, amigos fiéis e dos infiéis também. Mas, bem longe da Faculdade que a fiel escudeira escolheu para cursar Psicologia.
Verdadeiramente eu já estava muito incomodada com a vizinhança do centro, até o síndico já me passava um desconforto com as fofocas e joguinhos miúdos de intriga. Um dia era o vizinho de baixo que torrava a paciência engavetando a garagem, outro dia era o filho de uma polaca que arrotava grandeza mas descobri a propaganda enganosa que ele pregava, tão fantasiosa quanto os anéis de prata com designer falsificado que ela vendia. Todo prédio tem uma pessoa com reputação não tanto correta essa sofreu horrores com as más línguas e fez do nosso apartamento o confessionário das revelações de seus encontros amorosos com um político, eu já sabia até o dia que ela ia no motel de classe média e entrava numa bacia d´água como ela chamava a banheira de hidro massagem.
Caríssimo leitor. Certo dia, acordei com péssimo humor, chutei o balde, desci os lances de escada na velocidade da luz fui para a garagem, dei uns gritos na fiel escudeira para ela tomar tento e não demorar, liguei o carro e sai meio queimando pneu.
Olhei para a amiga e disse, não volto mais pra esse apartamento, vou para qualquer lugar mas deu a minha medida.
Dessa feita nem foram os vizinhos mas as complicações familiares que se pode relevar, mas não se pode baixar a cabeça para a calcinha não aparecer.
Fui para as bandas de uma Faculdade famosa e me decepcionei, gosto de freqüentar barezinhos, gosto de tudo do que todo mundo gosta, mas quando chega nos intelectuais de rodapé me angustia a alma, ninguém lê um livro só a sinopse e julgando-se o dono da verdade causa uma dor nos ouvidos por causa das repetitivas tentativas de incutir que a lei do que o meu EU acha é real.
Desisti!
Corri ao lado oposto da cidade, já mais calma, sai procurando, um prédio aqui, outro ali, finalmente o Verdinho.
Fiquei encantada, a amiga também decidiu que seria aquele e assim firmamos contrato quase que imediatamente. Em duas semanas iniciariam as aulas dela e ali ficava a uma distância de duas quadras do bloco de estudo era a realização do desejo, unir a moradia ao curso dela.
Mudamos e resolvemos deixar os móveis velhos, compramos tudo novo, tudo cheirando a vida nova, com exceção de uma máquina de lavar e um freezer que já conseguiram atrapalhar até uma viagem para o Nordeste porque não podiam ficar sem funcionamento durante muito tempo, mas eu entendo, temos mesmo a tendência de afeição por objetos que facilitam as nossas vidas.
Finalmente entramos no apartamento novo, vida nova, estilo de vida novo, novos amigos, novos vizinhos, ai que vida boa! Era o céu.
No primeiro final de semana fizemos amizade com as moças do apartamento ao lado, que felicidade! Jovens inteligentes, sem ranço de universitário charoposo que pensa que sabe. Moças simples, divertidas, bonitas e um papo super bacana e firme. Gostei.
Pensei cá com as fivelinhas, ainda bem que essas meninas são de boa índole e pelo perfil jamais fariam um comentário maldoso ou sem nexo sobre nós, assim como procedia a nossa antiga vizinha de prédio, uma adolescente da terceira idade e fofqueira de plantão.
Vocês acreditam que ela, a adolescente da terceira idade teve a audácia de falar do meu estilo de vida ao Bispo da cidade? Inescrupulosamente ainda foi assegurar ao Padre que eu como católica estava negligenciando a fé.
Ainda bem que ninguém sabia porque eu ria olhando para o nada do mundo.
O nosso final de semana foi delicioso, churrasquinhos, risos, piadas engraçadas, histórias intermináveis, eu tomei um pifão que nem acertava meu nome, mas todo mundo tem um dia de pisar na bola ou no cocô do gato.
Pisei no cocô do gato e para não ficar pior fui pedir desculpas a meninada do meu comportamento, mas eu estava tão feliz que merecia aquele pifão.
Finalmente chegou a segunda feira.
A vizinha me chamou na varanda, falamos amenidades e ela revelou que era a cozinheira do dia, eu pensei, meu Deus essas meninas só sabem fazer miojo, e questionei e qual o menu? Ela riu e disse uma lasanha pois vem visita aqui.
Então a comidinha ia ser no capricho.
Ela voltou para suas atividades e eu para as minhas, estava concluindo uma dessas aulas que o Professor leva no bolso do jaleco e pensa.
Sendo a turma um pouco mais deficiente no assunto tenho esse apontamento, se a turma estiver mais desenvolvida tenho esse apontamento só repasso o aprofundamento. Mas nem por ser fácil é impossível deixar de estudar.
A manhã passou rápida, Cascavel estava em um torpor calorento e abafado que criou uma névoa tipo evaporação, um bafo quente, um calor que doía na pele como se o feio do inferno tivesse desfilado nu pela Avenida Brasil que corta a cidade de uma ponta a outra.
A fiel escudeira que ainda arrumava umas roupas no armário e conectava o computador doméstico na energia, tinha deixado o som baixinho, e vez por outra resolvia sentar-se à mesa comigo.
Eu com o note bock aberto, escrevendo como já expliquei acima, e o nosso almoço ainda no fogo, inventei de fazer uma mini feijoada e deu certo! A demora era esperar o fogo fazer a sua parte cozinhar as costelinhas do porco e o feijão preto.
O cheiro bom dos temperos da nossa feijoadinha sublimou até o cheiro da lasanha da casa da vizinha.
Amigos, devido ao meu desejo de comer a feijoada o nosso almoço demorou mais que o normal.
Ouvimos vozes, risos, alegria do outro lado do apartamento. Mais um pouco de tempo fez-se um silêncio e em seguida um barulho de vidro estilhaçando, comentei com a amiga, acho que a travessa da lasanha caiu no chão, imaginei tudo que tinha direito até ir na casa das meninas, e fui, mas ouvi no hall a mais profunda tranqüilidade e retornei para minha casa.
Deu o tempo em que alguém limpou os pratos, lavou os talheres, lustrou o fogão, mas aquele barulho não saiu da minha cabeça, estava mesmo curiosa.
A semana passou e só no sábado ficamos sabendo o ocorrido: assustadas comentaram que a tampa de vidro temperado do fogão voou em estilhaços.
Pensei com a fiel escudeira mas ainda nem tinha revelado a elas sobre a assombração da Samara, aquela menina de Cascavel que morreu entre uma malha de arame farpados, aquela menina que eu escrevi sobre sua pouca juventude, será que foi Samara com ciúmes porque as moças fizeram amizade conosco? Ou as meninas que foram ler esse site que escrevo e caíram nos contos bem assombrados e o medo proporcionou uma energia coletiva que espedaçou o vidro?
A tampa do fogão estilhaçado é um caso de Poltergeist que merece maiores estudo pela parapsicologia?
A tampa de fogão é um mistério do Edifício Verde.