A Menina que descobriu o céu
O mar espumava inquieto e raivoso enquanto as nuvens negras rajavam o céu daquela noite. As estrelas resolveram se esconder, por medo dos raios que as nuvens negras soltavam uma sobre as outras, acompanhadas de urros enormes que colocavam pavor nos habitantes da terra. Naquela noite não se tinha nem sinal da lua, nem um sorriso sequer ela se atreveu.
Enquanto as nuvens lançavam suas lágrimas sobre o mar, a menina não tirava os olhos da noite. Fitava o horizonte no encontro de céu e mar e não conseguia tirar a pergunta da mente: “Até onde é mar?! E onde começa o céu?”. Entre um raio e outro, conseguia enxergar apenas o que parecia enormes paredes de águas que jogavam distantes barcos de um lado para outro. Desejou naquele momento que a chuva casasse para que o mar e a lua pudessem novamente reatar os laços, doía na menina ver o mar espumando de rancor e a lua escondida em sua sombra. Ela adorava marcar a hora exata da lua gorda chegar, sentava na areia e ali admirava a lua lançando seu brilho dourado no espelho d’agua. Repetia por todo canto que queria ter a vaidade da lua, magra ou gorda ela sempre estava ali se enchendo de luz sob o espelho.
Naquele momento foi percebendo que as estrelas resolveram aparecer, umas até mais atrevidas se lançavam sobre o mar. A menina acreditava que elas se jogavam só pra iluminar o caminho dos cavalos marinhos, sempre que encontrava uma estrela na beira do mar a tentava jogar de volta para o céu, o que sempre lhe rendia bons galos pela cabeça. Pois bem, a chuva deu lugar a uma brisa suave que brincava com os cabelos da menina de pijama. Um sentimento estranho tomou conta da menina, ela fechou os olhos e apenas sentia a brisa em seu rosto, em seus ouvidos o mar parecia se acalmando aos poucos junto com sua respiração... Ao abrir seus olhos verdes a menina conseguia ver ao longe um pouco de céu e um pouco de mar. Era a lua voltando bem tímida e revelando um pouco de horizonte pros verdes olhos. A menina se encheu de encantos e choveu em seus olhos, agora ela sabia direitinho onde terminava o mar, e principalmente, onde começava o céu; o seu céu!
Na penumbra confusa do horizonte a menina descobriu que seu céu era invertido: chamava-se terra, tinha estrelas na areia e o azul era do mar.