O vendedor perseverante

Gabriel era somente uma criança e sua mãe percebeu a grande habilidade para o comércio. Começou a negociar pequenos objetos, por exemplo um antigo botão de jogador, borracha escolar usada, lápis, bolinha de gude, figurinhas, etc. O prazer dele era vender,negociar, o preço real não importava. Desejou dar continuidade nos estudos, não foi possível, concluiu apenas o primário.

O pequeno vendedor tinha apenas oito anos, pegava um tamborete e o colocava defronte a casa de mansinho sem fazer alarde. Depois os objetos eram expostos cuidadosamente. Para chamar a atenção ligava seu rádio a pilha, sentava-se, aguardava o freguês chegar. Não tardava, faziam uma rodinha em torno dele. Brincar de vender era diversão do pequeno garoto

Quando completou dez anos, o menino conseguiu outra atividade lucrativa. Alguém cedeu alguns litros de leite acondicionados em um latão, o qual era transportado em um carrinho manual, daqueles utilizados em construção.

Pelas ruas o nosso promissor vendedor gritava o mais alto que podia:

- Olha o leite D. Maria. Olha o leite seu Zé.

Olha o leite pro seu café!

Certo dia azedou o leite, acho que não higienizaram adequadamente o latão. Gabriel se entristeceu, obteve um prejuízo enorme, somando as vendas e a perda, nada lucrou. E pensou imediatamente:

Este negócio já pertence ao passado.

Não tardou, o nosso vendedor conseguiu umas peles de carneiro, para serem vendidos como tapete. Ele desfilava pelas ruas, a passos curtos, o peso era superior a capacidade do franzino corpo. Vendeu apenas um; certamente alguma boa pessoa penalizou-se com o pobre coitado.

Desistiu de mais um negócio.

Não tardaria, o pequeno vendedor decidiu negociar outra mercadoria: amendoim. Comprava em um sitio próximo, assava em um forno caseiro, esfriava tudo, ensacava, nada sobrava. Tinha lucro certo, mas o problema era que não resistia aos saborosos amendoins, vendia um pacote e comia dois. Conclusão, o rosto do coitado ficou todo empolado.

Desistiu de mais um negócio.

Decidiu ir para a capital, instalou-se na casa de uma tia, adentrava em ônibus, vendia lápis, canetas e balinhas.

A experiência foi valida, porém o Gabriel tinha o dom de negociar, estava ávido por sua vida melhorar. Experimentou diversos negócios, em sua trajetória ganhou e perdeu, mas nunca abdicou de sonhar, perseverar. A persistência fazia parte dele.

Se eu fosse enumerar as coisas que o vi fazer, não haveria espaço para escrever.

Viveu assim sua vida, não havia saída. Não ficou rico, pobre também não.

Ele foi um pouco de cada coisa, mascate, ambulante, caixeiro viajante, etc., mas no fundo sempre se sentiu um empresário. E foi!