O vendedor de árvores de natal

Lurdes gostava do natal, era o período que obtinha mais encomendas de quitutes. Todo final de ano ela fixava uma árvore de natal gigante, defronte sua casa, a maior que podia comprar.

Adquiria de um mineiro chamado Zé Natal. Todos os anos ele circulava na vila com sua charrete repleta de vasinhos. Tinha árvore de todo o tamanho, todos os preços. Ele também vendia fiado, parcelado, de todo o jeito.

O Zé Natal era carinhoso, comprava muitos pacotes de balinhas e pirulitos para distribuir as crianças. Enquanto as mães escolhiam a árvore, as crianças ficavam distraídas chupando os pirulitos coloridos. O seu Zé Natal pedia para as crianças ficarem sentadinhas, enquanto negociava com as mamães.

No natal de 1969 o Zé Natal estava sumido, atrasado na entrega das árvores, todos sentiram a falta dele. Como fariam ? As crianças o aguardavam ansiosas pelos pirulitos.

Descobriram que a quituteira era conhecida Zé Natal, ela sabia de tudo que acontecia na vila, conhecia toda a vizinhança. Foram até a casa dela para descobrir o que estava acontecendo.

A quituteira Lurdes falou o seguinte:

- O Zé Natal voltará logo, foi encontrar-se com o pai José Augusto Leite em Minhas Gerais, na cidade de Alfenas/Paraguaçu. Todo ano ele visita a família, mas neste ano está atrasado, acho que perdeu o trem.

Enquanto conversavam com a quituteira, começaram a prosear sobre o charreteiro. Descobriram que tinha inúmeros fatos relacionados ao natal, na vida dele, inclusive o casamento de seus pais, que aconteceu assim:

- Era natal de 1915 dois jovens decidiram se casar. Viviam em um modesto sítio. Eles eram primos, não pareciam se importar. Naquela noite de natal choveu muito, era sinal de fartura na próxima colheita.

O vestido da noiva Antonia Batista Rocha sujou-se de lama, o chapéu do noivo o vento levou, mas e daí ! Todos dançaram, nem se importaram com as goteiras. As sanfonas estavam agitadas, com os trovões faziam acorde. O vento assoprava insistente, as luzes dos lampiões dançavam como bailarinas. Tudo era alegria. A festa prosseguiu normalmente.

Após o encerramento da festa, a noite de amor se consumou, depois de nove meses o verdadeiro presente chegou. Que nome dar a ele? Para celebrar a felicidade, o filho teve um nome composto especial: José Natal.

- E sabe o que mais ? Por incrível que pareça, quando José Natal teve filho fez uma promessa para ele não morrer, porque estava roxo, sufocado, sem ar. Deus atendeu suas orações, o menino sobreviveu. Sabe qual o nome do garoto? - Noel.

Neste instante, para surpresa de todos o charreteiro José Natal apareceu. Com a peculiar alegria em seu semblante, cumprimentou as freguesas, dando ordens expressas a seu filho:

- NOEL ! DESCARREGA AS ÁRVORES.

As senhoras ficaram observando o aprendiz trabalhando.

Anos depois o Zé Natal faleceu, nunca mais circulou outra charrete pela vila.

Em seu lugar o Noel é quem abastece a vila com suas árvores, ele tem uma perua Kombi vermelhinha !

Marina Gentile
Enviado por Marina Gentile em 03/02/2010
Reeditado em 10/04/2010
Código do texto: T2066477
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.