Numa tarde cinzenta de sábado
Na face do menino, apenas uma lágrima solitária, deslisava suave e sentidamente, até alojar-se entre os lábios, salgando-lhe o paladar. Ele tinha apenas 17 anos e rapidamente tratou de enxugá-la com as mãos, ao lembrar-se dos conselhos e ensinamentos da mãe. Choros e lágrimas eram coisas de meninos ricos, dizia-lhe ela. São luxos que não são permitidos aos pobres. Seja forte, meu filho, contenha os seus sentimentos e a vida lhe parecerá melhor do que realmente é. As faces e a vida, endurecidas por esse procedimento, fizeram dele um menino forte e destemido. O coração subjugado pela mente, era esse o objetivo de sua mãe traçado para ele. Conter os sofrimentos através de uma couraça cerebral. Essas lições de infância ele levara a sério e ajudaram-no a tornar-se resistente aos conflitos da vida. O pai morrera ao tentar reagir a um assalto a mão armada na cidade grande, quando Pedro tinha somente oito anos de idade. Desde então, sua mãe esforçava-se com trabalho e dedicação em criá-lo e educá-lo. Assim, iam vivendo mãe e filho felizes, apesar da limitadíssima condição financeira. Porém, num repente, um infarto do miocárdio levara a sua mãezinha, com 37 anos de idade, para junto de Deus. Nesse momento, infelizmente, a tristeza tomara conta de sua vida. Olhava desconsolado, o corpo daquela magnífica mulher, que fora a sua mãe, e, que, jazia inerte e pálida, dentro da urna funerária. Seu desejo era de beijá-la, abraçá-la e convidá-la para um passeio na Cachoeira da Felicidade, nome dado por ela, a cachoeira que distava cinco quilômetros da casa onde residiam. Recordava-se que pelos caminhos, conversavam tanto, que nem se davam conta da distância que percorriam ao chegarem tão depressa àquele prazeroso aconchego. As águas cristalinas, os cantos e gorjeios dos pássaros nos arvoredos próximos, compunham a alegre natureza, juntamente com os lindos raios do sol. Sua mãe e ele tinham muitos amigos, que também iam se divertir com os filhos naquelas maravilhosas manhãs de domingo que passavam juntos na cachoeira. De repente, sentiu que alguém o catucava levemente e dizia-lhe:
---Pedro, as rezas findaram, estão preparando para tampar a urna.
Foi então, que Pedro aproximou-se do corpo de sua mãe e não contendo as lágrimas , disse-lhe baixinho ao ouvido:
---Perdoe-me mamãe, por não saber conter as lágrimas nesta hora, mas, aproveitei e estou pedindo a Deus, que faça delas uma linda cachoeira para quando a senhora chegar no céu, possa se lembrar da nossa Cachoeira da Felicidade, aqui da Terra e o quanto fomos felizes naqueles dias e em todos os outros. Leve com a senhora para junto da eternidade, o meu amor e gratidão, pois, comigo ficarão guardadas para sempre essas maravilhosas saudades e os preciosos ensinamentos que me concedeu em vida. A senhora foi o milagre que Deus me concedeu na vida. Siga em paz, amém.