O peixe e a misericórdia
Um jovem estudante de Filosofia intrigado com uma dúvida foi procurar seu professor. Ele bateu na porta da sala onde o professor estava sozinho lendo um livro durante o horário do intervalo entre as aulas na instituição.
_ Posso entrar? _ perguntou o jovem abrindo a porta e projetando o corpo por ela.
O mestre ergueu os olhos do livro que lia tão atenciosamente, retirou os óculos da face, fechou o livro tomando o cuidado de marcar a página com o marcador que na verdade era a orelha do próprio volume e finalmente respondeu.
_ Claro; Entre.
O estudante se aproximou.
_ Sente-se aqui. _ disse o professor apontando para uma cadeira
O jovem sentou.
_ Em que posso ajudá-lo?
Finalmente o aluno podia expor sua dúvida; havia escutado muitas teorias sobre o assunto, mas tudo serviu apenas para colocá-lo em uma maior confusão mental.
Ele foi direto ao ponto.
_ Eu gostaria de entender a ação da misericórdia divina na vida dos homens.
O fato era que ele entendia, didaticamente o tema, já havia lido e escrito sobre tal, mas faltava algo e era isso o que o incomodava. Era como falar de uma comida de que nunca se provou, ele não sabia o gosto. O estudante queria entender a essência da ação misericordiosa de Deus em relação aos homens.
O professor se recostou na cadeira e ponderou silenciosamente antes de responder, como que procurando termos de fácil compreensão, nada muito sofisticado, mesmo sabendo da capacidade intelectual de seu aluno o mestre queria passar a essência do termo e não teorizar sobre do mesmo.
_Por que a pergunta? _Inquiriu o professor logo que algo lhe ocorreu como forma de exemplificar a resposta.
O Jovem coçou a cabeça meio sem graça.
_ Não sei. É que eu gostaria de vislumbrar como se dá a ação cotidiana dessa dádiva divina na minha vida e na vida das pessoas, mas não queria as definições acadêmicas; gostaria de algo mais prático. Algo que eu possa também comunicar à alguém que não a conheça.
_ Entendo._ Replicou o professor.
O jovem continuou:
_ Não posso passar as explicações didáticas para todas as pessoas, alguns entendem outros não, eu quero algo que eu possa presentear desde o mais simples até o mais entendido. Uma forma de explicar que abranja todas as pessoas e em uma linguagem não muito complicada.
_Pois bem._ O professor iniciou._ Considere isso. Imagine um pequeno aquário e obviamente, dentro do aquário existe água e um peixe. Agora imagine que toda a água foi tirada de dentro do aquário; o que vai acontecer com o peixe?
_ Certamente morrerá. _ O aluno ainda não tinha entendido a linha de raciocínio que estava sendo empregada ali.
_ Tem certeza? _ rebateu o professor.
_ É claro.
O professor então recomeçou:
_ Então é isso. O aquário é a sua vida, o peixe é você e a água é a misericórdia divina que preenchem tudo em nossa volta. Se ela for retirada da sua vida, morremos. Exatamente como o peixe sem água.
_ O aluno sorriu ainda abismado com a simplicidade em que o tema foi exposto, mas aquilo supria a necessidade que o jovem tinha no momento; era fácil o suficiente para ser passado para qualquer um.
Para arrematar a transferência de conteúdo o professor disse:
_ Séculos atrás um grande rei disse o seguinte: “As misericórdias de Deus são a causa de não sermos consumidos”. È assim que eu vejo. Se a pessoa está viva, então eu entendo que há misericórdia sobre ela.
_ Entendo. _disse o jovem.
O professor terminou
_ Espero ter ajudado.