"ROSA DA FONSÊCA" Conto de: Flávio Cavalcante

ROSA DA FONSECA

Conto de:

Flávio Cavalcante

Seu Tonho era um cidadão que tinha algumas braças de terras em Belém, município de Alagoas. Cidade atrasada, mas de uma gente guerreira e acolhedora. Tinha uma família humilde e feliz. Trabalhava de sol a sol para sustentar seus quinze filhos e alguns cães e gatos abandonados que vem chegando e como a casa da família é como coração de mãe, abriga todo mundo. A dificuldade era imensa. Muitas vezes dona Paixão sua esposa, além de trabalhar também na roça ajudando o seu marido, ainda tinha que encarar lavagem de roupas no lajedo do rio da cidade para um complemento no orçamento da casa. Mesmo assim, a matriarca ainda que tinha de saber fazer mágica na multiplicação de alimento para alimentar aquelas quinze bocas inocentes que não tiveram culpa alguma e nem pediu para vir ao mundo.

Dificuldade total e constante na vida do casal. Uma luta que parecia nunca ter um fim. Seu tonho quando pegava o dinheirinho que ganhava suado em sol causticante, assim que chegava em Belém tirava alguns trocados para apostar no jogo do bicho na certeza de um dia ganhar e dá uma vida melhor pra família.

O velho vendia seus produtos produzidos em sua pequena terrinha, á fornecedores de feiras livres que aconteciam sempre aos domingos em várias cidadelas e adjacências á cidade de interior do Estado de Alagoas.

O que faltava para uma boa produção nas terras do Estado era uma boa chuva que isso já há bastante tempo não se via naquele lugar. Orações não faltavam. Dona paixão rezadeira, ia todos os domingos para uma igreja improvisada no lugar e pedia aos céus com toda fé e fervor um pouco de chuva visando um melhor bem estar das crianças. Como nem toda dificuldade é para sempre, Deus parece que ouviu suas lamúrias daquela família e de repente a vida do casal começou a dar uma melhorada. O Estado começou a chover como não via há bastante tempo por ali. A satisfação era notória no rosto de todos do lugar. Pra completar, seu Tonho, teve um sonho que a sua terrinha molhada devido a chuva, deu um excelente lucro e sobrou para ele comprar uma linda vaca leiteira. Ao acordar, ovelho não contou conversa e foi á cidade, apostou toda o seu lucro em cima da vaca, que foi a protagonista de seu sonho.

E os homens do céu mais uma vez resolveram presenteá-lo. Deu vaca na cabeça e seu Tonho ganhou uma quantia que segundo ele, nunca viu tanto dinheiro em toda a sua vida. Ficou com medo de deixar em casa o que pra ele era uma fortuna e foi direto á caixa econômica federal abri uma conta pra deixar guardado em segurança o seu dinheiro.

Apesar de humildes eles tinham um pouco de estudo. Aprenderam a ler e a escrever o nome, grande passo na vida do casal, coisa que na região é uma raridade encontrar alguém na idade de dona Paixão e seu Tonho que pelo menos soletre alguma letra.

Chegando lá na caixa econômica, o gerente assim que pôs as vistas em cima do valor, chamou logo a sua secretária e pediu que trouxesse biscoitos com café e água. Chamou a atenção de seu Tonho a atitude do gerente com um tratamento vip até porque ele já havia ido várias vezes ao banco, procurado aquele mesmo gerente, que na ocasião o tratou com desdém.

Saiu de lá radiante, até com talão de cheques. Ele estava se sentindo ali o homem mais rico do mundo. Até talão de cheque o homem ia chegar em casa e fazer a grande surpresa para a sua mulher que até então não sabia de nada.

Ao chegar em casa, dona Paixão estava terminando de preparar o almoço e havia acabado de chegar da roça. Percebeu que seu Tonho estava feliz, mas também não quis muito se aprofundar no que estava acontecendo. No entanto seu Tonho quis mesmo fazer aquela surpresa. Foi tomar aquele banho e de propósito deixou a sua carteira e os cheques em cima da mesa, na intenção que a dona Paixão descobrisse por si só. Saiu correndo pro banheiro cantando de felicidade. Assim que seu Tonho estava todo ensaboado, ouviu os gritos de prantos de dona Paixão. Ele ficou sem entender nada e saiu correndo pelado pra saber o que estava acontecendo. A partir daquela hora o que seria uma alegria passou a ser um tormento na vida daquele homem simples.

Dona paixão esfregou o talão de cheque na cara do velho e rasgou folha por folha o acusando de ter aberto uma conta em conjunto com outra mulher.

QUE MULHER? – (Respondeu o seu Tonho sem entender absolutamente nada).

QUEM É ROSA DA FONSÊCA, TONHO? QUEM É ESSA RAPARIGA? EU VOU MATAR ELA E VOU MATAR TU, CACHORRO...

A confusão ficou tão grandiosa que seu Tonho foi expulso de casa e passou a noite na rua perambulando sem saber pra onde ir. No dia seguinte ele voltou pra tentar até entender o que estava acontecendo. E dona Dona Paixão de olhos inchados de tanto chorar, pediu o divórcio. Depois de muita conversa, ele a chamou pra ir ao banco saber o que estava acontecendo que até então, jurou de joelhos que não conhecia nenhum Rosa da Fonseca. E dona paixão acabou acatando a idéia de ir até a caixa esclarecer os fatos com a gerência.

Seu tonho foi na frente e dona Paixão logo depois. Ela estava banhada de tanto ódio que não agüentava nem olhar pra cara dele.

Assim que o gerente viu o seu Tonho fez aquela festa e chamou a tal secretária para servir aquele café fresquinho para o afortunado e sua esposa. Outro barraco foi criado dentro do bando; pois dona Paixão cismou que a secretária do gerente era a tal mulher do cheque e explodiu quase pulando no pescoço da boazuda.

AH! ENTÃO É VOCÊ A RAPARIGA SEM VERGONHA QUE TÁ NO CHEQUE DO MEU MARIDO? POR ACASO SEU NOME É ROSA DA FONSECA?

O gerente e a secretária sem conseguir se conter, caíram numa gargalhada e aí foi que a dona Paixão ficou mais furiosa ainda, e foi acalmada com um cafezinho, biscoitos, depois que o gerente falou que Rosa da Fonseca é o nome daquela agência da Caixa Econômica Federal. Todos riram muito depois do mico do casal e dona Paixão voltou ás bom com o seu Tonho, principalmente quando soube do dinheiro que o mesmo havia ganhado.

-FIM-

Flavio Cavalcante
Enviado por Flavio Cavalcante em 28/01/2010
Código do texto: T2055418
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