Estória igual a tantas outras
Casaram-se - ele, jovem e entusiasmado, ela, oito anos mais experiente.
Dava gosto ver o perfeito entrosamento entre eles, dava inveja da boa; inveja boa é prenhe de esperança.
Com ela, a evolução: humilde arrimo de família, ele, inteligentemente, exercitou a ambição de ter e ser, subindo os degraus do trabalho qual um elegante e indispensável galgo.
Com ele, a satisfação: eterna e cansada outra de outro homem, ela sabiamente se entregou à tarefa de criar e manter um lar e a auto-estima, andando a estrada do casamento como quem segue uma trilha de seixos redondos.
Após dois anos pensaram em filhos. A casa recém quitada foi aumentada do projeto original em mais um quarto com banheiro, e, como as boas coisas vêm em 'três', ele foi promovido. As tarefas inerentes ao novo cargo exigiam uma base em outra cidade, distante e parecida com a qual viviam; ela não queria ir por causa do faculdade e do próprio trabalho, e não foi.
Adiaram os planos por mais dois anos, tempo de conclusão do curso, ele indo e voltando todo final de semana. Outra promoção o fez ir mais longe ainda; dizendo-se cansado, passou a vir quinzenalmente, e, de quando em quando, uma vez por mês.
Ela zelava a casa e planejava o enxoval da criança. Um dia, a seis meses de concluir a faculdade, suspendeu o anticoncepcional, pediu folga no trabalho e viajou para vê-lo - algo jamais feito antes.
Encontrou-o na cama que não compraram juntos, dormindo inocente e protegido do frio, qual o filho que queria ter, enquanto a outra preparava o café da manhã, depois do amor bem quente e do banho morno.
Não chorou, só jogou uma pedra bem grande na vidraça, e os cacos de vidro colorido ficaram a refletir a raiva e o sol.