NASCER

3896 AEC

A mulher sentia intensas dores. Ao olhar para a barriga dela entendia-se porque ela era afligida por espasmos e contrações. A grande barriga indicava uma gravidez no final. Em duas outras situações na última semana ela pensou que fosse ganhar o bebê. Aviso falso. Mas, dessa vez seria diferente. Ela sabia disso.

Estava cuidadosamente deitada numa cama enquanto a parteira passava um pano molhado em sua testa suada. A mulher que iria ajudá-la tirou uma mecha de cabelo sobre os olhos da grávida. Ela observou os cabelos grudados pelo suor na testa da gestante. Uma mulher bonita, pensou. Cabelos negros e lisos, olhos castanho-claros, tez branca, contudo, não pálida, ossos fortes, estatura mediana e lábios grandes.

Mais uma contração. Dessa vez mais demorada. A grávida ergueu-se com a dor, segurando com ambas as mãos na barriga, torcendo a boca numa careta dolorosa. Ao seu lado, outra mulher, uma das suas seis filhas, olhava preocupada. Cobriu a mão esquerda da mãe com as suas. Ergueu a mão e beijou ternamente.

Mais uma contração. Estava entrando em trabalho de parto.

-Agora faça força. Tudo bem?

A grávida balançou a cabeça concordando. A parteira fez sinal para que a filha da mulher pegasse o pano. Ela o pegou, mergulhou na água e limpou o suor das faces afogueadas da grávida.

Um forte grito e o corpo contraído. Estava próxima a criança. A parteira abriu as pernas da mulher mais um pouco de modo a ver quando a cabeça do bebê despontasse.

-Força – a mulher mordeu os próprios até sangrar para conseguir levar a criancinha para fora.

A parteira segurou a mão da mulher enquanto a outra mão apertava firmemente o joelho esquerdo.

-Força!

Dessa vez surgiu uma cabecinha. Estava próximo.

-Já consegui ver a cabeça – a notícia, em meio às terríveis dores que sentia, fez a mulher abrir um cansado sorriso.

A filha passou a encorajar a mãe. A mãe respirava rápido, aspirando e expirando com força.

Mais força e a cabeça começou a sair. Depois a mulher buscou energia até o âmago de seu ser e deu um forte grito quando a cabeça passou por inteiro. A parteira segurou a cabecinha molenga e ajudou a criança a sair por inteiro. Deu uma olhada no rosto e depois acertou uma forte palmada na bundinha do bebê fazendo-o berrar, liberando assim, todo o líquido amniótico contido nos seus pequenos pulmões.

-Segure-o um instantinho – pediu para a mulher que a auxiliava. Pegou a faca pré-preparada e cortou o cordão umbilical.

Quando ouviu o choro estridente da criança a mulher deitada na cama chorou. Lágrimas de alegria. De forma alguma era o primeiro filho, na verdade, aquele era o décimo terceiro filho. Contudo, a alegria era a mesma de quando tivera o primeiro.

-O que é? – perguntou a mãe ansiosa por conhecer o sexo da criança.

-Um menino. Um lindo meninão – falou a filha, que o ninava. A mulher abriu um grande sorriso, satisfeita.

-Coloque-o aqui – a mulher pediu.

Colocaram a criança em seu peito. A mulher não se continha. Estava muito feliz. Tirou o peito e o deu ao bebê que começou a sugar daquela fonte. A mulher sentia um prazer imenso ao sentir aquele líquido saindo dela para alimentar o filho. Ela o amava.

As duas mulheres agora estavam ao lado da cama. Precisavam terminar de limpar a criança e cuidar da mãe. A criança não quis mais o leite e foi tirado dela. Continuava com o rosto feliz. Era a imagem, ao mesmo tempo, do cansaço e da felicidade.

A parteira estava ansiosa para saber algo. Mal se continha.

-Decidiu o nome que dará a ele?

-Ele? Vai se chamar Sete.

-Sete? – perguntou a filha.

-Sim. Sete.

-E qual a razão? – quis saber a parteira.

-É porque Deus designou outro descendente no lugar de Abel – ao dizer o nome do filho morto uma intensa dor apossou-se de seu coração maternal – pois, Caim o matou.

Dieggo Oliveira
Enviado por Dieggo Oliveira em 23/01/2010
Reeditado em 06/02/2010
Código do texto: T2045752
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