A CIGANA E O JUDEU (VALE A PENA LER)

Olhos perdidos no céu, pensamento a vagar naquele impossível amor, naquele maldito sentimento que arrebatara de imediato aquela mulher feliz e solitária, triste e admirada, o vazio obscurecia a alma, e o coração sentia as dores da razão; e desde quando ciganos eram comandados pela razão? Pérola vivia com intensidade, sua alma a comandava, viajava pelo mundo como uma andarilha, conhecia todas as culturas, sentia todos os homens que lhe era possível... enfim, viva como seu juízo e coração mandava, era impulsiva e jamais se amarrava a nada e nem ninguém, não seguia o acampamento de seu povo como assim o deveria, ela gostava de contrariar, gostava de provar que ninguém a mandava. O livre-arbítrio era a lei, todos poderiam fazer aquilo que bem entendessem, porém, para cada atitude havia uma consequência. Pérola adorava São Paulo, não sabia por qual razão, porém, gostava, quando ela soube que o acampamento de sua família e amigos iria para lá, resolveu seguí-los; lá havia muitas pessoas as quais pagavam o quanto fosse necessário para ouvir algumas palavras daquela bela cigana de tez morena e olhos de um azul celestial, seus longos e negros cabelos dançavam ao vento. Ao chegarem, Pérola foi se deitar, já era bem tarde e eles sempre acordavam cedo para fazer e vender seus artesanatos, nem só de adivinhar futuro viviam os ciganos, porém, de suas belíssimas obras feitas à mão. Pérola acordou bem antes de amanhecer o dia e preparou seu artesanato e pôs-se a vagar pelas ruas de São Paulo à procura de alguma pessoa que lhe desse algum dinheiro para que ela lhe dissesse algumas meias palavras. Andou, andou... e já eram sete horas da manhã quando ela, cansada, resolveu sentar um pouco em um banco daquela praça. Avistou uma bela mulher, com um blaser fino e uma calça social, parecia nervosa ao falar em um celular. Pérola aproximou-se dela e esperou até que a mulher desligasse o celular, quando isso aconteceu a cigana logo disse:

___Olá, vejo que o nervosismo apossou-se de ti.

___O que quer? Ler minha mão? Pois saiba que não acredito nessa palhaçada de adivinhar o futuro.

___Não adivinho o futuro, vejo coisas que podem ou não acontecer e o caminho que seria melhor você seguir, aconselho aqueles que não conseguem pôr sua mente amena já que esse mundo os deixa extremamente atordoados e nervosos, com demaisado receio de que tudo aquilo que você planejou para sua vida prosperar não dê certo.

___ Como sabe de tudo isso, cigana?

___Vejo o medo em teus olhos, em teus movimentos repentinos e indecisos. Mas vos digo, que pelo menos uma vez em tua vida, não haja com a razão, haja com o coração, pois é o que vejo em tua vida no momento.

___Muito obrigada pelas sábias palavras, cigana, farei o que me aconselhou, e se eu prosperar lhe serei grata por toda vida. A mulher puxou uma nota de vinte reais do bolso e estendeu-o à cigana. Qual seu nome, cigana?

___Pérola. Disse a cigana guardando o dinheiro ganho. Obrigada.

Pérola não podia ficar mais contente, estava acostumada a receber no máximo cinco reais por suas consultas, e hoje ganhara vinte. São Paulo era realmente uma cidade maravilhosa. Ela sentiu fome e parou em um botequim, pediu um suco de abacaxi e um pão com manteiga, ela sentou em uma mesa para esperar seu pedido ficar pronto; quando ela olhou para a mesa de trás avistou um senhor com a barba beirando-lhe o tórax e um negro chapéu pequeno na parte de trás da cabeça, usava um óculos grosso e trajava roupa social e lia um jornal. Pérola abservou o senhor achando-o incomum, foi quando um rapaz entrou meio esbaforido e sentou-se ao lado do senhor, ele também trajava roupa social, usava uma pequena barba, seus olhos de um negro profundo e cabelos pretos e crespos, tinha feições finas e era um rapaz de uma beleza incomum, o charme era indicutível e seu perfume marcava à quem o sentia. Pérola sentiu seu coração pular e bater descompassado e não conseguia tirar os olhos daquele lindo homem, ela nunca havia sentido isso antes, e não sabia dizer o que era, foi quando ela assustou-se com o homem do botequim entregando-lhe seu pedido. Pérola não conseguia comer direito, deu uma mordida no seu pão e deixou-o, bebeu o suco inteiro e foi até o balcão.

___Olá, o senhor poderia me dar uma informção? Aqueles senhores sentados naquela mesa, parece que eu os conheço, o senhor os conhece?

___Ah sim, eles são judeus, o senhor barbudo chama-se Etel e o rapaz chama-se Samuel, eles vêm aqui todos os dias as oito da manhã, hoje o rapaz se atrasou, mas todos os dias ele vêm.

___Eles moram aqui por perto? Perguntou a cigama não tirando os ohlos do rapaz.

___Não sei, acho que trabalham aqui perto, eles são muito fechados,só sei o nome deles porque escuto um chamar o outro, o senhor é pai de Samuel.

Pérola olhava Samuel sofregamente e ele acabou olhando para ela; Samuel sentiu seus pés sairem do chão, nunca vira mulher de tamanha beleza; Pérola sentiu-se envergonhada e foi embora a largos passos, Samuel fez menção de ir atrás, porém, desistiu, seu pai não iria gostar que ele se levantasse da mesa daquela maneira. Os dois continuaram conversando por mais uns quinze minutos e foram embora. Etel era dono de uma multinacional e seu filho, Samuel o ajudava, era o vice-presidente da empresa. Os dois foram trabalhar, porém, Samuel não conseguia parar de pensar naquela linda mulher que reinava seus pensamentos. Ele resolveu, então, sair um pouco para espairecer,andou e parou em uma praça, sentou, respirou fundo e resolveu de uma vez por todas esquecer aquela mulher, pois seria quase impossível vê-la novamente, quando Samuel se levantou olhou a sua frente e avistou ninguém mais que Pérola, ela estava consultando uma mulher e quando acabou ganhou o que esperava ganhar,cinco reais, ela guardou o dinheiro e quando ergueu a cabeça, viu em sua frente, Samuel.

___Olá, como vai? Peguntou Samuel dando um sorriso o qual mostrava seus belos dentes alvos e alinhados.

___Olá. Respondeu a cigana se virando para ir embora. Samuel a segurou pelo braço. Largue-me, como se atreve???

___Desculpe-me, mas não posso deixá-la ir embora.

___E porque? Perguntou a cigana com um sorriso malicioso.

___Por que pelo menos preciso saber seu nome para chamá-lo em meu sonho esta noite.

Os dois se deixaram envolver e acabaram se beijando. Foi um beijo como jamais nenhum dos dois experimentou na vida.

___Meu nome é Pérola.

___Sou Samuel, que nome lindo, Pérola.Aonde vicê mora?

___Aonde moro? Não moro, eu passo por todos os lugares, eu viajo, eu danço.. sou livre, sou uam cigana.

Samuel se assustou ao ouvir que ela era uma cigana, ele nunca vira uma na vida, mas seus parentes sempre falavam muito mal dos ciganos, diziam serem povos libertinos, ladrões, charlatões....daí para baixo.Mas ao conhecer essa cigana, Samuel percebeu que tudo aquilo não era verdade, ela era uma mulherlinda, maravilhosa.. e estava disposto à tudo por ela.

___Por quê você fez essa cara quando disse que sou cigana??

___Nada, é que eu nunca tinha conhecido uma.

Os dois continuaram a conversar e combinaram de se encontrarem no dia seguinte naquele mesmo lugar para almoçarem.

Pérola chegou radiante em casa, estava completamente apaixonada por aquele homem que lhe roubara o coração; ela não via a hora de chegar dia seguinte para vê-lo novamente; sua mãe percebera que ela estava diferente.

___Pérola, aonde você estava e com quem?? Me conte tudo filha, quem você conheceu?

___Caramba mamãe, como você sabe disso tudo?

___Ora, minha filha, conheço você como a palma de minha mão.

___Mãe, conheci um rapaz... deixa eu te conta a história...

Pérola contou toda a história para sua mãe que interessada não perdeu nada.

____E ele faz o que da vida?

____Olha mãe, nem perguntei, mas ele é judeu.

A mãe de Pérola, Rosa, deu um pulo da cadeira ao ouvir isso.

___Você está louca Pérola, quer morrer??? Os judeus não gostam de ciganos.

___Mas mãe, ele gosta de mim!

___Não Pérola, ele não vai enfrentar a família por você, isso não existe!

___Exsite sim!E eu vou provar!

___Pérola, eu estou querendo proteger você minha filha.

___Não precisa, já tenho dezoito anos!

Rosa não disse mais nada, às vezes para aprendermos, precisamos viver na pele certos sofrimentos.

No dia seguinte, os dois apaixonados se encontraram, e nos dias que se seguiram também. Até que um dia, Etel, o pai de Samuel viu os dois apaixonados juntos, e levou o filho para casa, lá tiveram uma séria discussão e Etel o obrigou a terminar com a cigana, ele assim o fez e os judeus poucas semanas depois se mudaram.

Pérola ficou desolada, triste, sem saber o que fazer... principalmente quando descobriu que estava grávida, seus pais não aceitaram um judeu cigano e a expulsaram do acampamento, Pérola não tinha para onde ir, andou pelas ruas.. andou... e acabou dormindo na mesma praça.No dia seguinte foi acordada e quando viu, era aquela mulher a qual ela havia dado o conselho e ganhou vinte reais. As duas conversaram, almoçaram juntas, e a mulher, Teresa, havia enriquecido e era muito grata à Pérola, esta por sua vez, contou sua história e Teresa sensibilizada levou-a para morar com ela, Pérola sentiu-se feliz e grata. Passaram-se os meses e o bebê de Pérola nasceu, um menino, o qual Pérola o registrou como Samuel.Passaram-se os anos e Pérola estudou, se formou e hoje é uma excelente advogada, muito bem sucedida, e Samuel um menino estudioso, exemplar. Pérola achou que não seria feliz de outra maneira, porém, não poderia ser melhor para ela. Hoje ela se casou com um advogado também, e além de Samuel eles têm uma menina, Rosa, e são muito felizes.

ÁS VEZES ACHAMOS QUE NOSSO CAMINHO ESTÁ PERDIDO, MAS SOMOS SERES CAPAZES DE MUDAR O NOSSO DESTINO A QUALQUER MOMENTO, POIS A FORÇA DA VIDA ESTÁ DENTRO DE NÓS, E A FORÇA PARA MUDARMOS AQUILO QUE NOS ENTRISTECE SE LOCALIZA EM NOSSA FORÇA DE VONTADE.

Mariana Calçada.

Mariana Calçada
Enviado por Mariana Calçada em 19/01/2010
Código do texto: T2037881
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