A Entrega. Perdão meu filho.

a Jose Antonio para sempre

Quando ia sair com o caminhão um carro estacionou bem em frente, já sabia quem era.

Desceu do caminhão andando em direção ao motorista do carro que vinha ao seu encontro, próximos um do outro, cumprimentaram abraçando e beijando-se.

-Oi pai! Tudo bem?

-Oi filho! Como está?

-Está indo para aonde pai?

-Vou fazer uma entrega em Santo Amaro.

-Mas, logo hoje véspera de ano novo em que vamos viajar.

-Eu sei, mas não posso deixar este cliente na mão. É só ele, depois volto, já esta tudo arrumado dentro do carro. Sua mãe já esta com quase tudo pronto para a ceia, La na praia.

-Bom em casa também, tudo esta arrumado. Vou fazer o seguinte, vamos juntos fazer esta entrega.

Voltou a seu carro, saiu da frente do portão. Seu pai tirou o caminhão ele estacionou o carro.

Subiu no caminhão e foram embora.

Conversaram a viagem toda. Quando mais moço trabalhou para o pai como ajudante carregando e auxiliando nas entregas dos produtos que o pai vendia. Depois passou a vender, a dirigir, até fazer tudo sozinho.

Triste foi o dia em que teve que fazer estágio e ir trabalhar em outro lugar. Não voltou mais.

Ali na cabine junto a seu pai era como se nunca tivesse ido.

Chegando disse ao pai que fosse La dentro se entender com o cliente, que ele descarregaria os produtos.

O pai entrou no estabelecimento, enquanto ele abria o caminhão para retirar as mercadorias.

O pai cumprimentou o dono avisando que o filho traria os produtos. Foi quando escutaram um barulho parecido com bombinhas de festas juninas daquelas bem fraquinhas.

La fora começou um tremendo alvoroço.

Alguém entrou na loja gritando que haviam assaltado o caminhão. Saiu correndo.

Ao chegar La fora viu seu filho caído ao lado do caminhão ajoelhou, pôs a mão em sua cabeça, enquanto chamava por ele foi quando notou o sangue escorrendo por sob a sua cabeça. Começou a gritar pedindo socorro, enquanto tentava de todas as maneiras estancar o sangue que jorrava, sem conseguir.

Abraçou-se a ele chorando, chamava por ele, rezava pedindo a Deus que o poupasse.

Quando a policia chegou, encontrou-o assim, abraçado a seu filho. Com muito custo o tiraram de cima do corpo, já sem vida.

Ficou sentado ao lado, observando enquanto a policia realizava a pericia técnica. Respondeu o que pode, como pode às perguntas deles. Chegaram parentes.

Quando sua esposa chegou, desabaram juntos, deitados no chão com as mãos no cabelo dele, única permissão das autoridades.

Ficaram ali sabendo que nada poderiam fazer, querendo ir junto com ele.

Veio o carro do IML. Colocaram seu corpo no caixão e o levaram.

Foram para casa levados por parentes e amigos.

Ao chegar foi ao banheiro. Só aí se deu conta do estado em que estava, todo coberto de sangue. Tomou um banho demorado.

Quando entrou no quarto lembrou de sua esposa, a encontrou sentada no tapete da sala, no canto da parede, chorando baixinho, balbuciando frases que só ela entendia. Os outros dois filhos ao lado dela tentando consolar, mas igualmente desfeitos.

Ficou ali parado sem saber o que fazer. Precisava reagir tomar uma atitude. Alguns parentes o esperavam para tratar do enterro, providenciar a liberação do corpo, do atestado de óbito, do caixão, do cemitério, era seu filho, sua obrigação.

No IML, véspera de feriado, nem médico legista havia, teve que recorrer a amigos para conseguir que um viesse trabalhar.

Depois teve que negociar com funcionários para que limpassem o corpo e o arrumassem no caixão. Para convencê-lo a pagar o que pediam, mostraram o corpo nu e retalhado de seu filho, sujo de sangue, com o peito costurado de cima a baixo como sola de sapato. Tinha virado uma mercadoria.

Trouxeram o corpo para o velório. Abriram o caixão, sua esposa beijava e acariciava o rosto do filho, enquanto conversava com ele, lembrando do tampo em que era bebe dentro dela protegido de tudo e de todos seu nenê, sua criança. A dor que sentia era maior que qualquer outra a do parto logo passa. traz vida e alegria.

O pai o forte, o homem, tirou de sua mente toda a dor, todo sofrer, não era hora se desabasse levaria a família junto, tinha outros dois filhos, esposa dependiam, precisavam dele.

Após o enterro teve que providenciar a missa, mandar confeccionar os “santinhos”, avisar a todos o dia e hora.

Quando em casa, com a sensação do dever cumprido, sentado em um degrau da escada pode chorar dar vazão a um sentimento que crescia dentro dele o de culpa, iria pedir perdão a seu filho pelo resto de seus dias, por querer ganhar dinheiro e ao levá-lo junto, pagar caro demais pela sua ganância nunca mais se recuperaria, nem ele nem sua esposa, ao matar seu filho, mataram-os também.

Isidoro Machado
Enviado por Isidoro Machado em 18/01/2010
Reeditado em 23/07/2010
Código do texto: T2036911
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