"A IMPRESSIONANTE HISTÓRIA DA PARTEIRA JURACI" Conto de Flávio Cvalcante

A IMPRESSIONANTE HISTÓRIA DA PARTEIRA JURACI

Conto de:

Flávio Cavalcante

Este fato aconteceu no dia 30 de agosto de 1968. Nesta época, Gleide Cavalcante, mãe do autor destas escritas, estava grávida do mesmo e já estava com aproximadamente nove meses de gestação. Ela sempre foi um tipo de mulher muito ativa e mesmo grávida nunca deixou de ter sua vida normal, sempre brincalhona, pulava cordas, corria de bicicleta, coisas desse tipo, até porque por ser o primeiro filho, segundo ela, esperava ansiosamente a vinda da criança, e fazia todas aquelas estripulias para ver se a criança nascia mais de pressa.

Naquela época não dispúnhamos de equipamentos para fazer a ultra-som e ela naturalmente não sabia se ia ser homem ou mulher.

Numa tarde ensolarada, as crianças saltitavam nas calçadas a correr, jogar bola e Gleide, com a imensa barriga pulava corda, juntamente com muitas crianças; ela também virava uma criança naquela hora; se achava a própria; exatamente, quando ela estava pulando a corda, passa em frente , pela calçada , a parteira Juraci; uma mulher caridosa, muito conhecida na cidade .

Ela era uma parteira respeitada até por alguns médicos da época; e quando viu aquela menina pulando cordas, a chamou reclamando dizendo

“Menina, quantos meses você tá?!”

Disse Gleide com a maior naturalidade ; “Fiz nove hoje” , e continuou pulando a sua corda . Preocupada ao ver o estado da Gleide, a parteira mais uma vez reclamou, até pelo conhecimento dos problemas que aquele ato inocente poderia trazer para a criança e assim retrucou novamente dizendo carinhosamente

“Minha filha, não faça isso; você é marinheira de primeira viajem e essa criança pode se colocar em mau posição e você vai sofrer”.

A Gleide fez como diz o ditado popular; “fez do ouvido, o ouvido de mercador” e não deu ouvidos ao que a parteira disse; continuou brincando como se criança fosse.

Contam algumas fontes fidedignas, que a dona Juraci, devido a sua bondade, ia visitar algum doente e só saía de lá, ou quando o doente ficava bom ou quando chegava a falecer. O tempo passou e no dia 03 de setembro de 1968 Gleide dá a luz ao seu primeiro filho, o qual deu o nome de Flávio, autor destas escritas. Quem fez o parto foi a parteira Dona Patrícia e quando a criança já estava com seis meses de vida, aconteceu a catástrofe de 14 de março, onde mais de mil pessoas morreram, entre elas, a parteira Juraci, que morava na rua do Rosário; quase em frente ao caramanchão da cidade. Ela morava exatamente nos fundo da igreja São Carlos, matriz da cidade. Da residência dela, dava pra ver toda movimentação da festa de São José, que estava no auge. Naquela noite fria, já por volta de quase meia noite, contam algumas amigas da parteira, que ela se despediu e foi para casa dormir, sendo o seu último Adeus.

Depois de dois dias seguintes, após a catástrofe, encontraram-na dentro de uma cratera aberta no interior da igreja São Carlos, feita pela correnteza; entre ela, quase trezentas pessoas foram encontradas ali; já em estado de putrefação e foi levada imediatamente para a vala aberta no cemitério.

O mais impressionante da história foi que depois de quase um ano, Gleide Cavalcante, teve um sonho estranho com a parteira Juraci, e neste sonho, estava ela em pé em frente à porta de sua casa, na rua do Rosário e Gleide no sonho, a via acenando com a mão, chamando-a; neste momento, Gleide, mesmo sem saber o porque disse para si mesma;

“E a dona Juraci não está morta?!

Mesmo sabendo que se tratava de uma assombração, não se deixou dominar pelo medo e se aproximou dela. A parteira olhou no fundo do olho de Gleide e disse “Todos dizem que é um menino, mas vai ser uma menina ! Do primeiro eu não fui não, mas desse provavelmente eu vá, e de uma coisa fique certa; você vai morar comigo”. Repentinamente eu não estava mais perto dela , diz Gelide e sim na frente da igreja ; parecia que lá estava havendo uma procissão ; imediatamente sem querer olhar para trás , me infiltrei no meio do povo e resolvi dar uma olhadinha para trás e lá estava a parteira Juraci novamente acenando a mão para mim como se estivesse me chamando ; ela estava com um vestido branco , enfeitados com margaridas amarelas; e não deixava de acenar um só instante . Repentinamente , eu não estava mais ali e sim lá em casa e estava já no quarto da criança que estava dormindo no berço.

O pesadelo marcara de uma forma arrepiante , conta Gelide , que mais uma vez a parteira Juraci marcou presença ; bateram à porta e de imediato eu fui olhar . Ao abrir a porta , estava diante dos meus olhos , um rapaz que eu nunca havia visto em lugar nenhum ; ele me olhou esquisito e disse “Já nasceu , não foi ?! Foi homem ou mulher ?!” e no sonho eu fiquei sem saber ; eu não tinha olhado o sexo da criança ; pedi ao rapaz para esperar e fui olhar ; cheguei ao berço , baixei a frauda e constatei que era uma menina; de repente voltei ao rapaz e disse é uma menina e o rapaz sumiu das minhas vistas e o parteira Juraci aparece bruscamente dizendo ; “Eu não disse que ia ser uma menina ?! Agora , você vai morar comigo” acordei daquele pesadelo cansada que pensei que ia morrer naquela noite , parecia que tinha corrido algumas léguas ; meu coração estava em tempo de pular pela boca ; tentei me acalmar , mas o sono ainda era imenso e acabei adormecendo novamente . Levantei logo cedo e por incrível que pareça ; a primeira cara que avistei , assim que abri a janela , foi exatamente a do rapaz que veio me perguntar se era menino ou menina ; aquilo me deixou quase em pânico ; fiquei impressionada até o nascimento da criança que eu já tinha certeza que era uma menina . No dia 29 de março de 1971 nasce a criança , que foi exatamente a cara que Gleide viu no sonho; o parto foi complicado mas não foi tanto quanto parecera ser diante do sonho ; ela teve hemorragia , princípio de eclampse , mas ocorreu tudo bem ; até o dia seguinte . No dia 30 de março de 1971 , Gleide teve uma recaída e dessa quase não escapa ; o instinto de mulher , segundo a Gleide , sabia que não ia escapar daquela hemorragia cheia de dores . Imediatamente mandou o Souza , seu esposo que estava trabalhando na delegacia . Diz Gleide , que a parteira Juraci estava presente no quarto e daquela vez não era um sonho ; por todo canto da casa estava ela , como uma assombração . Gleide já não sentia mais as pernas; era como que seu espírito estivesse se separando do corpo ; a profecia da parteira estava prestes a se cumprir como ela havia dito no pesadelo . Repentinamente Gleide começou a rezar , e graças a Deus , a fé falou mais alto . A parteira desapareceu e a ela teve uma melhora imediata . Hoje , Gleide tem quatro filhos : Flávio Cavalcante ; Jane Cleide Cavalcante ; Claudia Rosimay Cavalcante e Heryca Lygia Cavalcante e contando a história , que é mais importante .

Mas infelizmente desencarnou em 29 de dezembro de 2009, deixando uma imensa saudade.

-FIM-

Flavio Cavalcante
Enviado por Flavio Cavalcante em 18/01/2010
Código do texto: T2036086
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