Cigarro temporário
Ele andava com pressa, na noite.Cigarro na boca, tristeza nos olhos.
Não aquela tristeza por ter feito merda por aí.Ele não ligava nem um pouco para isso.
A tristeza existia por ter feito nada de bom.
Sabe, debaixo da sociopatia que gritava, ele enxergava, talvez pelo próprio estigma que foi-lhe dado, as pessoas como eram.Seus complexos, inseguranças e tudo mais escritos e inscritos em seus comportamentos quase sempre previsíveis.Por isso mesmo, sabia o que a pessoa precisava na hora e, por vezes, negou-se a fazê-lo por egoísmo.
Isso era triste.Só isso.
No fundo, ele sabia que sentia.Sabia que amava pessoas.Não sexo.
Mais alguns passos na noite e o cigarro apagaria.
Ele sabia que, quando isso acontecesse, ele já não deveria estar mais pensando nisso.