"O FANTASMA DO TAMANCO" Conto de Flávio Cavalcante

O FANTASMA DO TAMANCO

Conto de:

Flávio Cavalcante

Toda cidade, principalmente do interior do Nordeste brasileiro, tem suas histórias, que na maioria das vezes são interessantes demais, dignas de qualquer trabalho teatral, televisivo e cinematográfico; as lendas, histórias ou estórias que o povo reza, como uma forma de lavagem cerebral, fixando na cabeça de cada um morador, um fato engraçado, ou fato medroso.

Há quem diga que muitos são reais e esse fato que vamos deixar documentado, foi um fato real, até porquê não me interessaria deixar documentado alguma ficção.

Na década de 30, houve um acontecimento, marcante para Dalva Gomes, filha de Manoel Gomes. Na época era moda usar tamancos de madeira e o seu Manoel Gomes usava, e ficou marcante o tamanco de seu Manoel; assim que ele punha os pés dentro de casa. Todos já sabiam que era ele que estava chegando. Ele trabalhava na Rede Ferroviária; era ele que mexia com a manivela que faz o trem mudar de direção. A família morava vizinha ao Manoel de Holanda Cavalcanti, em frente ao Correio de São José da Laje.

Dalva era a mais velha das mulheres e Daniete a caçula, eram as filhas; os filhos eram: Dodô, Zeca e Daniel o caçula. Dalva era a filha que ele mais gostava e o cuidado era um tanto excessivo, que mesmo já no seu leito de morte, a chamava constantemente fazendo-a uma espécie de tutora; por ironia do destino o seu Manoel chega a falecer. Dona Mariinha sua esposa, costumava fazer uns cigarros de rolo de fumo de corda; sempre deixava o dele em cima da mesa, antes dela ir dormir. Dona Mariinha veio à Maceió fazer uns exames médicos logo depois da morte de seu Manoel e deixou os filhos sob o cuidado com a sua irmã. Assim que voltou, pegou seus filhos, preparou-os para dormir e assim que botou cada um em seus quartos, ela apagou a luz e foi dormir.

Uma certa hora da madrugada, deitada, mas, sem conseguir dormir, dona Mariinha levantou com a zoada dos tamancos de seu Manoel e aí ficou apavorada, porque conhecera na hora do que se tratava, sentou-se na cama e ficou esperando que ele aparecesse na porta de seu quarto, já que o barulho do arrastar dos pés estava se aproximando. Ficou escutando de ouvidos apurados, mas sem fazer alarde nenhum. Ouviu um forte murro em cima da mesa e a voz do finado dizendo; “Mas Maria não fez meu cigarro!?” Ela ouviu quando a cadeira arrastou e pelo barulho do tamanco , ele estava se aproximando do quarto , chegou à sala e ascendeu a luz ; a casa clareou , o medo tomou conta de dona Mariinha , por nunca ter visto um fenômeno daquele , mas rezou tomou coragem e foi à sala . A luz da casa era acesa por uma haste que ficava pendurada numa corrente e assim que dona Mariinha chegou a sala à haste ainda estava balançando, mas ainda não conseguia vê-lo; ela imediatamente apagou a luz e voltou para a cama novamente; sentou-se assustada. Repentinamente ele acendeu a luz novamente. A porta estava entre aberta e ela começou a rezar. Uma forte luz inundara o quarto de dona Mariinha e seu Manoel se aproximou da cama, dizendo “Mariinha tenha cuidado com a minha Dalva” e desapareceu logo em seguida. Ao redor dele, segundo a dona Mariinha, sempre uma luz forte o envolvia e ao lado dele existia um carneirinho de cor branco.

- FIM -

Flavio Cavalcante
Enviado por Flavio Cavalcante em 17/01/2010
Código do texto: T2034598
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