Agosto - dele

Ela sempre dizia que eu era bonzinho demais, que devia relaxar e aproveitar mais a vida, mas nunca me dizia como fazer isso. Eu ficava nervoso quando ela estava por perto, mas sentia muito a sua falta quando não estava, e por isso me alegrava tanto quando ela me ligava. Eu sempre queria sentar em algum lugar e conversar, e ela sempre topava. Eu sabia que com ela podia falar sobre tudo, até sobre as mulheres bonitas que passavam por nós. Ela fazia uma cara estranha, não sei por que, mas não reclamava de nada. Não sei se eu estava doente, com febre ou alguma coisa assim, mas eu sentia meu rosto queimar, mesmo estando numa noite fria e com vento forte. E quando fazia silêncio e eu não sabia o que ela estava pensando, ela me olhava, abria a boca, parecia que ia falar alguma coisa importante, mas não falava nada. E eu perguntava o que era e ela sempre dizia que não era importante, que era melhor eu não saber, que ela estava ficando louca. Eu sempre soube o que ela queria, mas não aceitava, e não sabia como dizer. Eu gostava de olhar em seus olhos coloridos e imaginar coisas que eu poderia viver com ela... parecia que ela podia enxergar minha alma quando me olhava nos olhos. Gostava de suas músicas, mas reclamava, gostava de seu cheiro de pecado, de como sua língua tocava os dentes quando ela sorria, e seu sorriso era tão fácil, tão radiante! (E eu me lembrava disso o tempo todo). Eu a considerava amiga, ela via em mim esperança... se ao menos eu pudesse dizer... eu deveria ter dito... Sentia sua falta, e ligava. Ela me chamava, eu ia. Deixei que ela pegasse meu braço, e foi bom, foi natural. Me lembro de cada pedaço de chocolate e de cada dia chuvoso, mas não tinha certeza se ela também se lembraria. Ela me contava de sonhos, me mandava mensagens, dizia que queria escrever um livro. Eu não podia resistir quando ela despertava o pior em mim, como quando me mandou uma música da Badu que dizia: “and she says she needs more than a friend, that’s all I ever been... well one day you gon’ overstand yo... and I remeber the first time that we met yo, how could I forget...”. E eu que nem sabia que podia sentir tantas coisas ao mesmo tempo! Se ela tivesse insistido só um pouco mais... se ela realmente tivesse batido à minha porta... mas eu falei pra ela nunca esperar nada, ela deve ter desistido quando eu cantei “This means nothing to me, cos you are nothing to me...”. Nós caminhamos juntos, é verdade, e agora eu passo pelos lugares onde estivemos, e tudo parece sem cor e sem som... os sons dela. E não consigo parar de ouvir a voz rouca de Axl Rose gritando: “I don’t have plans and schemes, and I don’t have hopes and dreams... I don’t have anything, since I don’t have you...”.

Joana Masen
Enviado por Joana Masen em 14/01/2010
Código do texto: T2030028
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