O Carro Novo.

Adorava o carro, a cor, o modelo, a marca, tudo. Era o carro com que sempre sonhara.

Não contou nada à esposa e as filhas, queria fazer uma surpresa.

Desceu a rua com ele desligado, estacionou em frente a seu portão. Desceu, entrou em casa se fazendo de bravo. De quem é o carro estacionado em nosso portão?

- Oi né, chega nem um beijinho dá, e já vem dando bronca, sua esposa falou.

- Oi pai, não é de ninguém aqui de casa não, Suzana, se sabe de quem é?

- Não Vera, não sei não, oi pai tudo bem? Respondeu Suzana.

-Bom, vamos lá fora ver de quem é que preciso guardar o nosso carro na garagem, foi falando Andre, e saindo. Todos o acompanharam.

-Que carro lindo, disse Ana, zerinho.

-Adorei a cor, falou Vera.

-Este carro é uma nota, comentou Suzana.

-Já pensaram se fosse nosso? Disse Andre, e sem que percebessem, acionou o alarme, abrindo as portas e entrando no carro.

Ana, assustada falou a Andre: O que você esta fazendo, ficou louco? Sai daí!

-Pai e se o dono chegar? Avisou Suzana

-Não estou acreditando que o senhor esta fazendo isto, sai daí de dentro pai, agora! Falou Vera.

Andre ligou o carro, dizendo: Subam, vamos dar uma volta no nosso carro novo.

As três começaram a falar ao mesmo tempo: Aonde arrumou o dinheiro? Roubou um banco? Que carro lindo e é nosso. Oba! Quero dirigir pai, se deixa?

-Calma, calma! Pediu Andre, subam vamos dar umas voltas que eu explico tudo o que quiserem.

Assim fizeram, subiram no carro e foram dar um passeio, no fim de semana estariam de férias e viajariam de carro novo.

Sentia um orgulho e uma vaidade tão grande, por onde passava todos viravam a cabeça para ver seu carro, os vizinhos com olhar de inveja, estava adorando.

O fim de semana chegou, e com ele as férias, poderia finalmente experimentar na estrada, ainda não tivera o prazer de acelerar pra valer o carro.

Arrumaram tudo e partiram. Era como pensara na estrada parecia um avião, andava muito.

A toda hora sua esposa pedia para ir mais devagar, as meninas para enfiar o pé.

De repente numa curva, um caminhão estacionado, na velocidade que estava só teve tempo de desviar para a contramão, deu de cara com um ônibus que vinha em sentido contrário.

A batida foi violenta, o carro capotou varias vezes, quando parou, consciente chamou pela esposa e filhas. Depois lembrava apenas de estar em um hospital e o médico estar perguntando algo a ele. Dormiu.

Ao acordar, lentamente foi recordando o acidente, começou a chamar por Ana, Vera e Suzana, gritava, cada vez mais desesperado. Enfermeiras, médicos, vieram correndo deram-lhe um sedativo. Novamente dormiu.

Quando acordou seu irmão estava ao lado da cama, antes que ele falasse alguma coisa, perguntou por sua família. Seu irmão, orientado por médicos, disse que todos estavam bem. Mas bastou olhar em seus olhos, para ver que mentia, sentiu que alguma coisa não estava bem, o irmão pediu que tivesse calma, dizendo que a mais de quinze dias estava internado, sobre efeito de sedativos. Tivera uma perna quebrada, concussão cerebral, mas agora estava bem, logo teria alta. Precisava ter paciência que logo veria sua família.

Após alguns dias, um médico, psicólogo e enfermeiros entraram em seu quarto, uns parentes também.

O psicólogo, sem muitos rodeios, disse:" Sr. Andre, infelizmente no acidente, só o senhor sobreviveu.

De alguma maneira ele já sabia, ficou uns instantes quieto, olhando para o teto, sem nada no pensamento, não ouvia mais nada do que falavam, parecia ter ficado surdo, longe, muito longe, não queria voltar à realidade, não queria saber, não queria ouvir.

Ai! Ai! Ai! como dói! como dói! gritava, e repetia as mesmas palavras enquanto chorava:” Ana meu amor, Vera, Suzana minhas flores desculpe, desculpe, por favor, por favor ,desculpe, desculpe, não foi por querer, não foi, meu bem, minha vida, meus amores... ”

Por quanto tempo chorou, ninguém saberia dizer. Quando saiu do hospital, perguntaram aonde gostaria de ir primeiro, onde elas estão, respondeu. Levaram-no ao cemitério. Deitou sobre o tumulo da família, rezou, conversou, chorou, não queria mais sair dali, seu desejo era ficar com elas.

Seus parentes preocupados, depois de algumas horas, tendo levado água a única coisa que aceitou, aproximaram-se dele, preocupados tentaram levantá-lo, disseram que teria de viver, que era o que elas gostariam, ao que ele disse:" Já estou morto, morri com elas, minha carne não, mas meu espírito, minha alma está aonde elas estão, não fiquem preocupados, nada mais há que possa me acontecer de mal."

Isidoro Machado
Enviado por Isidoro Machado em 14/01/2010
Código do texto: T2029848
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