Eu, Quasímodo

Meus olhos, castanhos avermelhados e esbugalhados.

Pálpebras caídas e escuras representando um olhar sofrido que através dele se via a mais profunda desesperança.

Um nariz com uma forma distorcida, que parecia ser feito de cera, uma cera que havia sido derretida e moldada em um estranho formato.

Lábios completamente assimétricos e ásperos, de uma cor pútrida.

Dentes serrilhados totalmente podres, alguns já nem existiam mais. Tão podres que tornavam meu hálito como o de um canibal, pura carniça.

Pescoço completamente junto ao corpo, formando um estranho trio com meus ombros esburacados por pancadas, facadas e pedradas.

A corcunda em minhas costas representava um sofrimento árduo, um fardo que carregava há anos. Ela mais parecia um imenso tumor que esperava para ser removido com todas as minhas desolações e frustrações.

Em minhas mãos, faltavam alguns de meus dedos, e os que ainda restavam, estavam em carne viva, com unhas sujas e prestes a cair.

Minhas pobres pernas eram tortinhas as coitadas! Tudo por causa de uma queda que tive ao ser bruscamente jogado para fora de um ônibus em movimento.

Trajava roupas lamentáveis, mais classificadas como trapos de pano. Uma camisa imunda de cor vermelha e uma calça feita com algum tipo de tecido cru, rasgada e com alguns remendos.

Pés calçados? Não, andava descalço mesmo, com meus pés repletos de calos sendo dilacerados pelo grosso asfalto.

Não era um mendigo, era um esquecido.

Esquecido pelos que um dia me amei e achei ter sido amado.

Não tinha riqueza, muito menos beleza.

Mas sei que apesar de todo esse vazio na alma, tristeza e solidão, dentro de mim ainda batia um coração. Um coração que era bom.

Mas era um coração que antes havia amado verdadeiramente, mas nunca foi amado, afinal só meu exterior fora visto.

Todas essas descrições finalmente me fizeram entender que me encaixo em apenas um perfil: O de um Quasímodo.

Quasímodos também amam, choram, riem. São seres normais, porém, especiais. Muitos deles são cheios de amor para dar, sem muitas esperanças. Porém, com um único desejo: O de receber o mais sincero sorriso ou gesto de amizade de alguém cujo coração é sincero e justo.

Raquel M
Enviado por Raquel M em 10/01/2010
Código do texto: T2020851
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