Náufrago!
Dentro de um barco, em alto mar, no meio de uma tempestade, longe de tudo e de todos. E o barco afundando.
Era assim que se sentia.
Sabia desde o inicio, que era um amor de mão única. Amava e não era amado.
Ela nunca escondeu que tinha afeição por ele, mas longe de ser amor, mesmo assim resolveu arriscar, certo de que com o tempo, faria com que ela o amasse.
Viveram dias maravilhosos, conheceram a família de ambos, os amigos ficaram comuns, foram tantas as festas, assistiram a muitos filmes, peças de teatro, riram, choraram juntos, como dançaram. Quase todos os meses tinham uma viagem programada, mesmo que fosse para um fim de semana, num hotel ou motel de uma cidadezinha qualquer, escolhida aleatoriamente.
Gostavam muito de ler. À noite liam juntos o mesmo livro, discutiam sobre o que estavam lendo, às vezes tinham a mesma opinião outras não.
De repente, começou a notar, que ela já não conversava tanto, quase não tinha disposição para ler ou discutir sobre algo, estava sempre cansada ou com alguma coisa para fazer. A muito não viajavam ou saiam para dançar, teatro ou cinema.
Restaurante, então nem lembrava mais quando foi à última vez, por isto estranhou quando ela ligou, convidando para irem jantar, num lugar que costumavam freqüentar.
Chegou ao restaurante no horário marcado, ela já o esperava.
Foi até ela, deu-lhe um beijo, sentou. Ela pedira vinho. Esperou o garçom servir. Brindaram. Tomaram um gole. Um silencio estranho pairou sobre eles.
Até que ela falou: “Te adoro! Nunca encontrarei ninguém tão dedicado, amigo e leal quanto você.
Agradeço por tudo de maravilhoso, que juntos passamos, mas estou indo embora. Não me queira mal, você foi algo que Deus me deu e a Ele agradecerei sempre. Não tenho ninguém acredite.
Ele queria falar, dizer alguma coisa, mas diante da sinceridade dela, que tão bem conhecia, apenas ouviu.
Não era o que pretendia, mas quando falou, disse:- ”Espero que possa ter alguém a quem ame, tanto quanto a amo. Falar que não estou triste e magoado seria mentira”.
Levantou. Se não fosse embora naquela hora, não conseguiria mais. Tomou o vinho de um gole só. Erguendo a taça, brindou:-” A você”.
Virou e foi embora.
Agora estava ali, lutando contra um sentimento de comiseração, de abandono, de solidão.
Sabia que não a esqueceria, jamais, mas teria que buscar um novo amor, um novo jeito de amar, uma paixão, uma tábua, uma bóia qualquer.