A RELEITURA DOS CONTOS DE FADA - Lia de Sá Leitão - 4 / 01/ 2010

PARA MINHA FIEL ESCUDEIRA VÂNIA QUE TEM ME DADO FORÇAS PARA CRIAR RELEITURAS QUE DESPERTEM NO OUTRO A CURIOSIDADE DE UM SENSO CRÍTICO ENTRE AS DIFERENÇAS E OS GÊNEROS. OFEREÇO 03 DIVERTIDAS HISTORINHAS, A GATA BORRAHEIRA, PINOCCHIO E JOÃO E MARIA.

01 - A GATA BORRALHEIRA.

Era uma vez uma menina orfã que vivia debaixo da tutela de uma velha malvada e tacanha chamada Aparecida, a mulher mal comprava pão para o café, preferia fazer tudo na cozinha da casa do pão ao macarrão, Aparecida era filha de italianos, casou-se com um homem cheio de terras, não seria bem um Rei mas caberia o título de Barão pelas terras produtivas que possuia, ali sim, era a certidão de Caminha o escriba de Cabral, em se plantando tudo dá. Mas um dia o Barão trincou e pimba partiu dessa para o além. Aparecida se deu como vitoriosa, vendeu as terras, entupiu os parentes próximos de dinheiro e deixou a pobre menina na mão, mal comprava uma calcinha ou uma roupa para a criança. Um dia arrepiou-se e deu a menina para outra pessoa criar, a menina foi devolvida, não resistiu e tocou a menina pra fora de casa mas, a menina voltou. A insistência da menina em ser gente persistiu e vingou, tornou-se uma linda mulher, inteligente, e resolveu a vida de uma forma simples e arrojada.

Deu um pé no trazeiro da velha tacanha, arrumou uma namorada atrevida que atirou para os quatro cantos do mundo até acertar o cainho da riqueza.

Não desistiu, fez a namorada trabalhar, fez a namorada investir, fez a namorada acreditar e a vida começou a dar certo.

Apartamento novo, carro novo, empresa e viagens, passeios, granjas, e até presentes caros. Agora, a gata que nunca cedeu em ser borralheira, não lava um prato, nem sequer espreme um pano de chão, odeia a cozinha e não areia panelas.

A tacanha rotulou a menina de arrogante e sua namorada de prepotente depois que viu o tamanho daquele sucesso.

A menina depois que criou ânimo e coragem apontou para a tacanha com seu olhar de filha do Brarão e entregou para a tacanha a bucha de lavar pratos, o esfregão de polir chão e o espanador de lamber poeira.

A gata não é mais borralheira anda vestida nos linhos, calça sapatos de 300,00 reais e ri da vida de coitadinha que a velha borralheira experimenta por causa de sua maldade.

02 Pinóquio PINOCCHIO

Era um vez um menino lindo que queria levar a vida de boneco, tudo que ele inventava a família elogiava como um gênio.

Um dia ele adentrou na sala de sua casa e encontrou uma mulher muito bonita mais bonita que a sua professora de Língua Portuguesa que ele vivia excitado na sala de aula, com as bochechas vermelhas de vergonha porque não controlava seus impulsos de paixão infantil que provocava aquela sensação deliciosa de um prazer desconhecido para um menino na sua idade. A mulher linda era a melhor amiga de sua mãe desde a infância mas morava na Europa, naquele dia ela tinha aceito um convite para um sorvete na casa do menino. Sentada de pernas cruzadas com um vestido que deixava metade da perna à mostra, mantinha um sorriso de rainha, a delicadeza de uma fada, o menino destrambelhadamente diante daquela beleza tropeça no tapete e escorrega até o colo da visita que o abraçou.

Pinóquio mesmo sem jeito agradeceu, se olhou viu que nada estava ereto diante da paixão à primeira vista. A Mulher pediu para ele contar uma história que aprendeu na escola, e o menino inventa que um boneco tinha virado menino, mas era seu grande sonho tornar-se o boneco.

A fada mulher entendeu e viu aquele desejo latente e pimba o transformou em um boneco inflável, e toda vez que o Pinóquio imaginava uma mulher ou sentia o cheiro de perfume feminino seu pinto aumentava meio centímetro, sem saber o que fazer pois já tinha um pinto maior que as próprias pernas Pinocchio pediu a safadinha ( leia sua fadinha) que o transformasse em um homem forte, viril e inteligente, mas a talzinha deixou o encantamento diminuindo e crescendo cada vez que ele se encantava por uma mulher assim o denunciaria como um viciado em sexo.

Quando o menino cresceu a mulher maravilhosa, amiga da sua mãe estava passada pelo tempo, nada mais servia, nem a própria vida, reclamava de tudo e de tudo implicava. Um dia, Pinóquio sentiu-se sem tesão e chorou, abandonado pela imortal sedutora foi trocado por uma flauta doce e desafinada, já maduro viu quebrado o encantamento e se tornou normal aos olhos das teorias freudianas.

O passar dos anos de paixão sem cura miraculosa descambou com seriedade na terapia psicanalítica com o marido da mulher que fazia seu pinto crescer e murchar a cada minuto que lembrasse daquelas pernas.

Pinocchio um dia entendeu que seu piscanalista era o homem de todos os homens e assim largou aquela mulher de olhar sedutor e pele sedosa e atracou-se nos cabelos longos e cafungou na barba sempre por fazer e cheirando a cachimbo.

O Dr. deixava aparecer entre a meia preta e calça de jeans azul escuro um palmo de perna branca e cabeluda, juntava as mãos com os dedos entrelaçados sobre a barriga e olhava perdido para o teto, especialmente para o ventilador cujo barulho de ferrugem e falta de óleo era um gemido de prazer para seus mais íntimos segredos, trazer para a vida do menino que abandonou o boneco para investir na boneca.

03 João e Maria

A cidade grande oferece mil encantamentos aos jovens de classe média alta, que buscam novas aventuras baseados nas histórias que ouvem na sala de suas casas, nos comentários de família entre a risada e um tom mais alto que insiste em se fazer ouvir além dos muros da mansão. Empresários, tios, primos, amigas, amgos,e os pais regados aos melhores uísques na beira da piscina enfrentando um descontraído final de semana enquanto a casa se enche de palavras,idéias e cifras, aquele churrasco exala o ceiro mais nobre da carne escolhida para opaladar daqueles pracianos luxentos.

Uns quatro homens da segurança caminham numa estadinha de granito, entre um falso jardim de folhagens ao redor do espaço decorado com muito bom gosto na qual a distribuição das mesas e cadeiras, bar e churrasqueira, agradava o perfil masculino tornando-se o local preferido dos homens que olham as mulheres desfrutáveis e desfrutando o calor do sol todas empapadas de protetores solares manipulados nas clínicas dermatológicas mais chiques do Planeta.

Os jovens também tinham seus espaços garantidos, mesa de ping pong, salão de bilhar, mini golf, quadras polivalentes de vôlei e basquete, campinho de futebol e mais uma piscina com escorregos e atrativos que também podiam seduzir as crianças mais exigentes. Ali, um exército de babás empolgadas conversava sobre o ricaço da novela das oito que se casou com a pobre cozinheira afra descendente e suburbana, presenteando-a no segundo encontro com um carro japonês de luxo. Os olhos das moças de avental bailavam a procura dos homens de paletó preto do outro lado do campo que fiscalizavam qualquer movimento suspeito, na verdade nem prestavam atenção aqueles dos moços que escorregavam na quadra de saibro com raquetes de tênis,cada rapaz lindo!

Aonde se viu filho de rico ser feio? È assim que começa o imaginário popular em relação aos cheios de saúde e malhados meninos da burguesia.

Assim era a vidinha mais ou menos de João e Maria,nada de novo, sempre os mesmos contatos,brinquedos, computadores, vídeo games, piscinas e filmes na sala de projeção da casa com pacotes de pipocas com sabores a escolher.

Certo dia os dois olharam pela guarita da esquina o outro lado da rua e resolveram marcar uma data para saírem a passeio,correndo de bike, filho de pobre tem bicicleta, por toda aquela vizinhança.

Aproveitaram um descuido dos vigias e saíram em disparada para a rua. Tudo era encantador, a pracinha aonde meninos sem camisa jogavam pelada com uma bola murcha de couro toda moída de chutes e pisões, os escorregos perderam a tinta vermelha e aparecia o ferro bruto, as gramas dos jardins estavam ressecadas por falta de chuvas e de quem as aguasse. As meninas comas blusas rosa chiclete deixavam aparecer mais da metade da barriga e empinavam o umbigo que mais pareciam um piercing mal colocado, uma parte embutido e outra saliente fora do orifício, coisas que só acontecem em maternidade do governo. Eles olhavam tudo e tudo percebiam diferente do seu universo de super proteção, mas, aqueles moços eram felizes, riam e colocavam as mãos na boca e cobriam os rostos como se estivessem com vergonha, se batiam e falavam aos gritos, faziam gestos obscenos uns para os outros e o palavrão de baixo calão era ouvido como um eco. Apontavam o indicador para qualquer estranho que fizesse cara de desaprovação daquele comportamento sem o menor estilo. João e Maria não ficam despercebidos, alguém os descobriu e logo foram convidados ao grupo, aceitaram o convite, e se aproximaram.

Cada um falou de suas experiências, do que era ser jovem e moderno, até que alguém resolve acender um cachimbinho de melado,maconha com craque, oferecem aos jovens ricos que aceitam sorrindo para se sentirem aceitos naquele novo grupo e assim, ficam presos naquela floresta sem direito a sonhos ou socorro dos fiéis cães de guarda dos seus pais.

A rotina de João e Maria passa para as fugas mirabolantes para a praça na qual aquele homem de roupas coloridas e cabelos de rosquinha com suas gírias e sorriso fora de hora, óculos espelhados e muita ginga ensina João e Maria a dançar as danças de rua, e a cantar as músicas de protesto numa batida forte mostrando que a ordem invertida dos fatos leva o mundo a fantasia dos sonhos e a ordem estabelecida a infelicidade das normas, que podam os sonhos coloridos.

Um dia de chuva, João e Maria na rua, abandonados de esperanças encontram forças num Pastor da Igreja e se liberta dos desejos de viajar em discos voadores e aterrisam em meio a uma comunidade de cristãos que oram, gritam e choram por um milagre, e o milagre acontece, João e maria se tornam frequentadores daquela Igreja e deixam de consumir craque e levam os pais a fazer doações enormes em dinheiro para limpar aquela praça e plantar margaridas e sempre vivas para colorir o bairro na primavera.

Lia Lúcia de Sá Leitão
Enviado por Lia Lúcia de Sá Leitão em 04/01/2010
Reeditado em 05/01/2010
Código do texto: T2011485
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