Histórias de família (III) Rabanadas
Desde pequenina vi e senti o Natal de uma maneira diferente da maioria.Enquanto criança, sempre esperei o bom velhinho com o seu saco de presentes.Deixava meus sapatinhos debaixo da cama e acreditava que no outro dia receberia o meu presente. E como os meus sonhos e de todos os meus amiguinhos eram modestos naquela época! A gente fazia um único pedido, fosse uma boneca, um joguinho, uma bola ou qualquer outra coisa que não tínhamos. Ainda víamos no Natal a sua beleza maior: a família. E dávamos graças a Deus pelo que tínhamos, apesar da imensa pobreza material.
O tempo passou e já na minha adolescência passei a não gostar do Natal.Comecei a questionar um monte de coisas, a perceber as grandes diferenças que colocavam em lados opostos os pobres e os ricos.Por que uns tinham tanto e outros tão pouco? Essa discrepância evidenciava-se no Natal.E eu sofria com isso.Já trazia em mim o sentimento de provedora da família.Queria trabalhar e estudar.Queria oferecer aos meus algo mais do que existia, um conforto maior, uma mesa mais farta. E comecei a envelhecer precocemente, a assumir responsabilidades demais para tão pouca idade.
E enquanto buscava um futuro melhor, os natais iam se sucedendo.Sempre do mesmo jeito: simplicidade e fartura na ceia e a casa aberta, hospitaleira, cheia de gente que acorria a ela em busca do carinho garantido, do abraço fraterno,aconchegante e amigo.Mas o que não podia faltar na ceia de Natal eram as rabanadas da d. Marita ( minha mãe),que todos adoravam.
Desde menina eu gostava de ajudar na cozinha.No início mais atrapalhava do que ajudava e aí tinha que lavar as vasilhas ( tarefa que ninguém queria) que se amontoavam na pia.Com o passar do tempo, fui observando a desenvoltura da mamãe com os seus modestos e deliciosos pratos e fui aprendendo com ela.Aí passei a auxiliar diretamente na confecção das receitas todas as vezes que havia alguma comemoração familiar. E particularmente na tradição de Natal, as rabanadas mereciam um cuidado especial, desde a compra dos pães com dois dias de antecedência, até o preparo meticuloso para fatiar os pães já endurecidos e, principalmente ,pelo cuidado na hora da fritura.Elas tinham de ficar douradinhas, tenras e colocadas delicadamente no tabuleiro ,onde receberiam a mistura de canela em pó e açúcar como cobertura.Ah, como elas faziam sucesso na hora da sobremesa!
Esse ritual se cumpriu por longos anos.Depois da partida de minha mãe, ninguém mais da família conseguiu falar em rabanadas, muito menos prepará-las e degustá-las. Somente no Natal passado ,senti que estava apta a retomar a tradição, a curtir o ritual familiar com plena alegria.Passei a fazer as rabanadas da mamãe e reparti-las com amigos,vizinhos e familiares.A receita , o jeitinho de fazer eu herdei dela.E tenho uma imensa alegria de ter recebido esse legado.Fico feliz quando alguém, da família ou não, me liga para pedir a receita.É como se a cada mesa preparada para uma confraternização, a cada produção de rabanadas, minha mãe se materializasse com a sua ternura e dignidade nos mostrando que o verdadeiro espírito de Natal está no sabor que encontramos nas coisas mais simples da vida.
E não é que as rabanadas deste ano ficaram ainda mais saborosas?
Desde pequenina vi e senti o Natal de uma maneira diferente da maioria.Enquanto criança, sempre esperei o bom velhinho com o seu saco de presentes.Deixava meus sapatinhos debaixo da cama e acreditava que no outro dia receberia o meu presente. E como os meus sonhos e de todos os meus amiguinhos eram modestos naquela época! A gente fazia um único pedido, fosse uma boneca, um joguinho, uma bola ou qualquer outra coisa que não tínhamos. Ainda víamos no Natal a sua beleza maior: a família. E dávamos graças a Deus pelo que tínhamos, apesar da imensa pobreza material.
O tempo passou e já na minha adolescência passei a não gostar do Natal.Comecei a questionar um monte de coisas, a perceber as grandes diferenças que colocavam em lados opostos os pobres e os ricos.Por que uns tinham tanto e outros tão pouco? Essa discrepância evidenciava-se no Natal.E eu sofria com isso.Já trazia em mim o sentimento de provedora da família.Queria trabalhar e estudar.Queria oferecer aos meus algo mais do que existia, um conforto maior, uma mesa mais farta. E comecei a envelhecer precocemente, a assumir responsabilidades demais para tão pouca idade.
E enquanto buscava um futuro melhor, os natais iam se sucedendo.Sempre do mesmo jeito: simplicidade e fartura na ceia e a casa aberta, hospitaleira, cheia de gente que acorria a ela em busca do carinho garantido, do abraço fraterno,aconchegante e amigo.Mas o que não podia faltar na ceia de Natal eram as rabanadas da d. Marita ( minha mãe),que todos adoravam.
Desde menina eu gostava de ajudar na cozinha.No início mais atrapalhava do que ajudava e aí tinha que lavar as vasilhas ( tarefa que ninguém queria) que se amontoavam na pia.Com o passar do tempo, fui observando a desenvoltura da mamãe com os seus modestos e deliciosos pratos e fui aprendendo com ela.Aí passei a auxiliar diretamente na confecção das receitas todas as vezes que havia alguma comemoração familiar. E particularmente na tradição de Natal, as rabanadas mereciam um cuidado especial, desde a compra dos pães com dois dias de antecedência, até o preparo meticuloso para fatiar os pães já endurecidos e, principalmente ,pelo cuidado na hora da fritura.Elas tinham de ficar douradinhas, tenras e colocadas delicadamente no tabuleiro ,onde receberiam a mistura de canela em pó e açúcar como cobertura.Ah, como elas faziam sucesso na hora da sobremesa!
Esse ritual se cumpriu por longos anos.Depois da partida de minha mãe, ninguém mais da família conseguiu falar em rabanadas, muito menos prepará-las e degustá-las. Somente no Natal passado ,senti que estava apta a retomar a tradição, a curtir o ritual familiar com plena alegria.Passei a fazer as rabanadas da mamãe e reparti-las com amigos,vizinhos e familiares.A receita , o jeitinho de fazer eu herdei dela.E tenho uma imensa alegria de ter recebido esse legado.Fico feliz quando alguém, da família ou não, me liga para pedir a receita.É como se a cada mesa preparada para uma confraternização, a cada produção de rabanadas, minha mãe se materializasse com a sua ternura e dignidade nos mostrando que o verdadeiro espírito de Natal está no sabor que encontramos nas coisas mais simples da vida.
E não é que as rabanadas deste ano ficaram ainda mais saborosas?