FELIZ NATAL

“Hoje a noite é bela vamos a capela; bate o sino pequenino sino de Belém...

Assim estava sendo embalado pelas rádios locais o natal na cidade de Belém do Pará, que aos poucos ia ganhando adornos e cores de natal em cada casa, em cada rua, em cada esquina até envolver toda a cidade.

Enquanto as luzes daquele dia 24 de dezembro de 1982 pouco a pouco saiam do anonimato anunciando o inicio da noite, que vinha com uma chuvinha fina a descer pelo meio fio do centro da cidade. Pessoas carentes ou abastardas, molhadas se dividiam numa pressa, que variava de loja para loja. Nem que fosse só para olhar, nem que fosse só para admirar ou dizer que entrou naquele estabelecimento. O fato é que senhoras e senhores após as compras de presentes para os seus netinhos, para os seus filinhos e ou amigos seguiam num empura empura à parada do ônibus.E quando finalmente lá chegavam havia uma quantidade enorme de pessoas também esperando pelo menos há trinta minutos. Mais do que depressa arriavam as compras no chão e se acomodavam como os outros embaixo da mangueira, numa escuridão, com conforto incondizente a carga tributária paga dia a dia e a peculiar falta de respeito do poder público com os seus cidadãos.

Lá pelas 20:50 hs o lotação almejado lentamente enfim apareceu. Vinha como de costume completamente lotado e novamente o tumulto do empura empura para subir, mas todos aqueles que não pensavam em conforto conseguiram subir e seguir viagem. Uns trinta e cinco minutos depois na viagem, a chuva resolveu engrossar, ai foi mais um daqueles alvoroços.Algumas Janelas estavam emperradas, outras só tinham a maçaneta e um suporte e outras nem tinham.O teto todo além de empoeirado vazava água pelas luminárias e molhava os passageiros que ainda nem imaginavam a versão de sucesso Holiwoodiana do Titanic. Não obstante esses detalhes, quando alguns reclamaram a cobradora e o motorista, gentilmente, que pareciam ter estudados coincidentemente na mesma escola, trataram todos com uma educação Zoological, tão supremo foi o momento que quase acontece um espancamento, contido por outros que queriam mais era chegar em casa.

Assim seguindo no sufoco quem estava em pé, sendo mulher viajava na preocupação com os aproveitadores que passavam se esfregando e sendo homem a sua principal preocupação era com os que tinham a má educação de viajar com as mãos leves perseguindo a carteira alheia. Fora os assentos todos rasgados para quem estava sentado e o barulho ensurdecedor do motor com a previsão de em qualquer hora o ônibus dar o famoso “prego” a viagem seguia a sua normalidade. Jamais se poderia imaginar outra coisa fora do comum na altura dos acontecimentos.

Fato que por quem viveu jamais será esquecido e quem não viveu com certeza não terá inveja, a menos que seja figurante de algum filme brasileiro, que enverede por esse assunto.

Dessa forma, quando chegados no cruzamento da ponte do galo três bandidos armados até os dentes se levantaram, pois faziam parte daqueles passageiros com privilegio de estar sentados e renderam a todos. Numa imensa sacola colocaram todos os pertences alheios, inclusive do valentão do motorista, que só faltou desmaiar, a renda do ônibus e todos os presentes possíveis. Em seguida, quando desciam, um deles, o menor teve a audácia de dizer:

- Feliz Natal!...

E saíram em disparada para dentro do Acampamento com o riso no rosto, os presentes nas mãos e as armas em punho.

Lá no meio do asfalto meio que abandonado, sob a chuva com as luzes meio acesas o ônibus sob o famoso prego parecia um navio fantasma, onde pessoas choravam, onde alguns gritavam e outros pediam calma.Tanto foi o peso daquele dia, que os carros que vieram atrás pararam e a rua ficou interditada. Aglomerou-se muita gente, dizem até que a rádio e o jornal local foram até lá, entrevistaram pessoas e lá pela 23h57min, com o fordunço dando noticias nos meios de comunicação, foi que a policia chegou para avaliar a situação, como bem disse o pobre sargento.

O engraçado foi que a chuva se misturava à lágrimas e um não sei o que de nada resolvido. Todos tiveram que passar o natal na delegacia, para prestar os seus depoimentos e suas queixas e ainda hoje não se tem noticias dos ladrões e do que foi roubado.Apenas se relembra o fato de todos terem estado na delegacia se desejando feliz natal.

Alberto Amoêdo
Enviado por Alberto Amoêdo em 21/12/2009
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