MOCINHA E ALICE

Aportaram em Picos na década de 70 trazendo ainda pequenos João Batista e Expedita. Não se sabe exatamente de onde vieram. Talvez do Inhamum ou de outra parte do Ceará.

Usavam saias longas e blusas de magas compridas, passavam o dia quase todo na igreja e se as portas estivessem fechadas, ajoelhavam-se no cruzeiro ou no pé da porta. Isso lhes valeu o apelido de ratas de igreja.

A conversão de Mocinha veio através de um sonho dantesco do inferno que ela descrevia em pormenores: mulheres de saias curtas, maquiadas, cheias de pinturas e batom vermelho, dançando com o capiroto...

Não falava em marido, dizia ter tido uma “atrapalhada...” Jamais se referiu ao pai dos filhos. Se antes se conduzia pela concupiscência da carne, agora tornara-se beata e arrastara Alice à devoção e ao uso de vestes talares.

Todo início de ano Iracema preparava o uniforme escolar de João Batista, comprava o tecido e mandava confeccionar. Mocinha sabia em que porta bater: “Ei Iracema, vim buscar a farda de João Batista!”

Certo dia,apareceu irritada, nervosa por causa do serviço de alto falante que ela chamava de “bocão”. É que a “Luar do Sertão” tocava: “Eu falava, e você não escutava não, Iracema você atravessou a contra mão...E hoje ela vive lá no céu...” Finalmente, “Iracema, eu perdi o seu retrato”.

Depois de discutir muito com o alto falante, Mocinha queixou-se: “Dona Iracema, o bocão tava falando mal da senhora...Eu xinguei ele e mande calar a boca”.