PÉ DE GUANXUMA
PÉ DE GUANXUMA
No alto da montanha,
Aonde a Mantiqueira vai-se desfazendo,
Entre picos e grotões,
Muitas lendas ainda são consideradas verdades pelos moradores
Que desde o nascimento nunca saíram de lá.
E muitas pessoas sentem-se ameaçadas pela escuridão,
Mesmo sabendo que as lendas não passam de lendas.
Uma dessas ameaças aconteceu no arraial de Ponte Nova, numa noite de setembro.
Armelindo Junqueira, numa manhã de domingo,
Foi fazer umas comprinhas em Ponte Nova para os seus filhinhos almoçar.
Mas quando se deu conta, já tinha tomado todas e as que sobraram também.
O sino da pequena Igreja do arraial badalava a hora da Ave Maria.
Armelindo sentiu uma pressa estonteante e na afobação,
Colocou as comprinhas no saco e saiu em disparada.
Para encurtar o caminho, pois já estava na boca da noite,
Ele atalhou percurso descendo um pasto recém roçado.
Conseguindo encurtar quase um quarto de légua até sua casa.
Quando Armelindo saiu da azinhaga e entrou na estrada de chão batido,
Já estava escuro e como ele tinha medo de assombração, pôs-se a rezar.
De repente, ele começou a ouvir um barulho meio chiado.
E a cada passada que dava, repetia-se concatenadamente.
Ele começou a correr e o que era desconhecido também emitiu som de corrida.
Como todo mundo diz que não se pode olhar para trás quando há uma assombração,
Armelindo não olhou, mas sentiu que o efeito do álcool já tinha se acabado.
E que ele não estava tão perto de casa para sentir-se aliviado.
O que o acompanhava ele não sabia, mas a cada passada que dava,
Algo caminhava junto, sem dar nenhuma trégua.
Assim, em menos de quarenta minutos, ele fez um trajeto de uma légua,
Do arraial de Ponte Nova até a sua casa.
Quando chegou, ele nem acreditou, entrou direto para o centro da cozinha.
Dona Fabiana, esposa de Armelindo, que o dia todo estava à espera do marido que nunca chegava,
Ao ver o marido chegar pálido e morrendo de medo, sabe lá de quê,
Deu um pouco de água com açúcar, que ele acaba de trazer da venda,
E perguntou para o marido com muita preocupação:
- Armelindo, por onde você andou, e o que faz esse pé de guanxuma,
Enroscado na barra da sua calça?
Explicar esse acontecido para a esposa foi fácil,
Mas de ficar o dia inteiro fora, sabe lá quantas voltas ele teve que dar.
Acácio