O PRESEPIO DE MINHA AVÓ

Natal... Nunca consegui de fato falar do Natal em todas as minhas escritas. Não sei por quê. Talvez porque tudo que o envolva seja tão misterioso que não consigo transformá-lo em palavras. Mas o Natal está sempre em mim. Isso é certo. E sempre me lembro de alguns Natais de minha vida. E de todos os seus símbolos eu me lembro mais do presépio. Ah! O presépio da minha avó... Esse sim foi o mais marcante. Sempre quis fazer um, mas não tenho criatividade. Faço sempre a costumeira árvore coberta de algodão no caule e bolas coloridas penduradas em seus galhos. Esse ano ainda não fiz. Acredito que ainda não estou preparada para o Natal. Temo não conseguir me preparar. São tantos os revezes durante o ano. Mas não quero lembrar...

Em meu tempo de criança o presépio ficou mais marcado do que Papai Noel. Penso que desde criança nunca acreditei realmente que Papai Noel trazia brinquedos à meia noite e colocava nos chinelos à beira da cama. O presépio sim, me fascinava. O presépio de minha avó...

A primeira vez que me lembro dele era bem pequena. Era lá na sala enorme de assoalho que ele era montado, quase real em um canto de frente para a porta. Lembro-me de mamãe fazendo as casinhas de papelão que seria certamente as vilas. Ficávamos o tempo todo ao seu redor extasiados com a confecção perfeita das casinhas. Ninguém era artista, mas ficava tão perfeito que parecia real toda aquela estrutura de montanhas e a gruta onde nascia o Menino Jesus. Até hoje nunca descobri como se fazia aquelas montanhas tão reais com suas depressões e encostas, vales... Não havia luzes. Na Fazenda não tinha eletricidade.

Íamos sempre lá à casa da minha avó no fim de semana quando ela estava na fazenda. Eu ficava horas em frente o presépio admirando cada detalhe... Era tudo tão divino! Só agora percebo. Mas também era tudo tão comum no Natal. Não fazíamos ceia. Na roça não tínhamos a missa do Galo à meia noite. Não se ouvia sinos e o canto imaginário de Noite Feliz. Mas era uma noite feliz na minha infância de imaginações. Eu mal entendia toda aquela encenação, mas ficava ali presa aos mistérios, fascinada. Sentia a essência do Natal sem mesmo compreende-lo...

Penso que ainda guardo essa criança dentro de mim. Às vezes ela sai. Mas isso tem acontecido muito pouco. Mas no Natal eu sei que ela sai ressabiada a olhar as belas árvores enfeitadas, as vitrines marcadas de luzes... O presépio faz muito tempo que não vejo um. Pouco tenho ido à Igreja. No ano que passou eu fui lá durante o dia para rezar aos pés do Santíssimo. Passei perto do presépio. Mal olhei. Minha alma estava triste. Mas não quero lembrar isso. Esse ano quero me demorar lá. Quero ver o Cristo nascer aqui dentro de mim de uma forma mais iluminada que os anos passados. Eu sei que isso é possível.

Hoje já com meus quarenta e poucos anos sinto que preciso me encontrar mais comigo e com as coisas divinas. Sinto falta disso. Dessa serenidade que envolve o presépio. Hoje talvez eu precise de um presépio interior...

Sonia de Fátima Machado Silva
Enviado por Sonia de Fátima Machado Silva em 09/12/2009
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